Em entrevista à Tribuna, Zema fala de seu governo e dos projetos para a Zona da Mata

Governador diz que, no momento, foco está na gestão do Estado: ‘eleição pra mim será nos três meses que a lei determina’

Por Renato Salles
20/03/2022 às 07h00

O governador Romeu Zema (Novo) cumpriu agenda na Zona da Mata na última semana. Entre quinta (17) e sexta-feira (18), passou por Cataguases, Leopoldina e Juiz de Fora, onde o principal compromisso foi cumprido em encontro com prefeitos e lideranças regionais na Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes). Na manhã de sexta, recebeu as equipes da Tribuna de Minas e da Rádio Transamérica JF para uma entrevista exclusiva. De início, já descartou insinuações de que a passagem pela região seria um ato de pré-campanha. “Se for, estou em pré-campanha desde o primeiro dia do meu governo. Minha forma de gestão é estar em campo. Eu fiz isso por mais de 30 anos. Abri mais de 470 lojas. Eu falo que, talvez, só conheça Minas Gerais melhor do que eu quem é caminhoneiro”, afirmou Zema, em alusão a sua atuação no meio empresarial.

Durante a conversa, o governador foi questionado sobre pontos específicos de Juiz de Fora e região. Sobre a retomada das obras do Hospital Regional de Juiz de Fora, pontuou que já há recursos reservados para a conclusão da empreitada. O reinício dos trabalhos, contudo, ainda depende da formalização da dação ao Estado do terreno e das estruturas já construídas, que, hoje, pertencem ao Município. “É preciso fazer esse procedimento municipal, que depende da Câmara e da Prefeitura. Nós estamos aguardando. Queremos que a obra seja iniciada o mais rápido possível.”

Contudo, Zema ressalta que o compromisso com a retomada das obras esbarram em outros obstáculos, que ainda precisam ser superados. “Temos alguns desafios extras. Essa obra foi vandalizada, Então, é muito difícil fazer um levantamento do que está ou não funcionando; do que está ou não em uma situação adequada. Descobrimos que os cabos que constavam como dentro da parede, foram todos saqueados. Não é uma obra fácil, mas nós vamos concluir. Já temos um recurso separado para o Hospital Regional de Juiz de Fora. É questão só de tempo para ele ser concluído”, pontua o governador.

‘Estamos recuperando rodovias em todo o estado’

Romeu Zema ainda comentou o pleito defendido por lideranças políticas e empresariais da região, durante visita do vice-governador Paulo Brant (PSDB) a Juiz de Fora, no dia 9 de fevereiro. As conversas foram marcadas pela defesa da necessidade de incremento da infraestrutura local, em especial, para a melhoria das estradas que cortam a Zona da Mata. Para o governador, a reivindicação é legítima, uma vez que aspectos estruturais são vistos como um dos eixos centrais para o desenvolvimento econômico das variadas regiões de Minas Gerais.

“Desenvolvimento não é levar uma indústria, por maior que seja, para uma região. Para o desenvolvimento entra a questão de infraestrutura. Nós estamos recuperando rodovias em todo o estado. Sei que muitas estão extremamente danificadas, devido às últimas chuvas. Mas, hoje, nós temos mais de 70 frentes de trabalho em todo o estado. Isso está sendo possível devido à economia que nós temos feito. Minas Gerais ficou, aí, dez anos sem dar uma manutenção adequada nas estradas que só deterioraram”, afirmou o governador.

Zema foi além e pontuou que o Estado faz outros investimentos em infraestrutura. “Não só em estrada, também em escolas. Olha a Escola Estadual Delfim Moreira, no Centro de Juiz de Fora. Quantos anos fechada? Estamos lá concluindo a obra. Não só ela, mas mais de mil e trezentos prédios no estado. Como é que você desenvolve um estado, um país, uma cidade sem educação? Sem gente preparada? Então, é todo um contexto. É preciso avançar em infraestrutura, em educação e em segurança. Como eu disse, tudo isso está dentro de um contexto de desenvolvimento.”

Governador olha com cautela pedido da prefeita de JF

Apesar do reconhecimento da necessidade de incremento da infraestrutura da região, Romeu Zema foi cauteloso ao comentar pleito da prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), de que seja melhorada a ligação entre o Aeroporto Regional da Zona da Mata, entre as cidades de Goianá e Rio Novo, e a BR-040, em especial, até o trecho em que se localiza o Porto Seco de Juiz de Fora. “Tudo é possível. Mas eu lembro das nossas restrições orçamentárias. A análise será feita com relação a esse caso. Mas eu lembro que hoje em Minas Gerais nós temos estradas que tem buraco do tamanho dessa mesa. A nossa prioridade é recuperar estradas intransitáveis. Depois, a outra estrada que não está tão ruim. Vamos fazer novos novos investimentos, com toda certeza. Vamos ter esse momento. Queremos ajudar a Zona da Mata, que é uma região importante para Minas Gerais, muito próxima ao Rio de Janeiro e a portos que exportam produtos de Minas Gerais. Queremos dar o maior nessa análise. Eu ainda não tenho conhecimento desse projeto”, pontuou.

Críticas a gestões passadas

Sobre a citada restrição orçamentária, Romeu Zema voltou a criticar as gestões que o antecederam à frente do Governo do Estado. “Pegamos um estado que estava um caos há três anos; que não pagava a folha de pagamento em dia; que não quitou o 13º salário de 2018; que não pagava férias-prêmios; que não pagava os municípios, inclusive. Devia R$ 14 bilhões aos municípios. Desses, já pagamos R$ 6 bilhões para os municípios. Além do normal, que eu estou pagando, diferentemente do governo anterior. Então, quando você tem desafios tão grandes quanto esse, você tende a resolver uma questão por vez”, pontua o governador.

Zema ainda compara a gestão dos problemas do Estado à construção de um prédio de trinta andares. “Tem que fazer o primeiro andar, depois o segundo. Tem pessoas que acham que nós temos condição de fazer os trinta simultaneamente. Era um estado arrasado. Hoje, arrumamos a casa, equilibramos as contas. O trem está em cima do trilho, mas é um trem que está andando a trinta por hora. Nós vamos ter que trocar o motor desse trem. Vamos ter de trocar uma série de componentes para que ele comece a caminhar mais rápido. Mas as coisas estão na direção certa. Depois de doze anos, pela primeira vez, tivemos um superávit o ano passado. Isso sinaliza que as coisas estão melhorando. Agora, você não consegue pegar uma terra arrasada e, em um toque de mágica, transformar tudo. Tudo é gradativo. Isso está acontecendo”, avalia.

União entre lideranças locais é apontada como caminho

Ainda sobre o tema, o governador considera que as dificuldades econômicas e de reencontrar o caminho do desenvolvimento observada nas últimas décadas em Minas Gerais não tem relação com a representação política da região. “Temos de mudar um pouco essa visão. Juiz de Fora já teve governador. Já teve presidente. Nós vimos que não foi por isso que investimentos chegaram aqui e prosperaram. Talvez, até chegaram, mas não deu certo”, considera Zema.

Para o governador, a solução está na organização das cidades para identificar e explorar seus potenciais econômicos. “O que nós precisamos fazer no Brasil, muitas vezes, é enxergar a importância de arranjos produtivos locais e quando a região ou uma cidade encontra a sua vocação; quando trabalha unida; quando tem um propósito. Isso, muitas vezes, tem mais reflexo do que esperar que uma representação política leve alguma coisa. Vamos pegar o caso do Hospital Regional. Vieram aqui e fizeram um alarde enorme e, agora, a obra está parada há quase uma década.”

Romeu Zema considera ainda que, em seu entendimento, as cidades mineiras que mais têm crescido, se desenvolvem independentemente de sua representatividade política. “Não é porque ela elegeu um governador ou qualquer coisa do tipo. Vamos pegar o caso de Nova Serrana, que é a cidade que mais cresce em Minas Gerais. O que que tem lá? Gente empreendedora! A cidade encontrou um caminho: produção de calçados, de químicos ligado a essa produção e uma série de atividades conectadas. É um caso isolado? Não. Nós temos vários outros. Vamos pegar, lá na divisa com a Bahia, Taiobeiras, que é um polo de lingerie. É uma região quase já no semiárido, que está se desenvolvendo. Nós temos lá no sul de Minas, Monte Sião, com a questão de malha de tricô e etc. São várias cidades que encontraram um caminho, porque a sociedade se uniu. Se o estado não atrapalhar, ele já está fazendo muito.

Assim, Zema considera que todas as regiões estão recebendo empreendimentos. “A Zona da Mata está recebendo. Inaugurei, ontem, duas usinas fotovoltaicas aqui na região. Muita coisa já veio e continuará vindo. Agora, acreditar que um empreendimento vai mudar completamente o perfil de uma cidade ou de uma região, isso não existe em nenhum lugar do mundo. Ajuda, mas o cenário não muda. Nós precisamos cuidar bem desse jardim que chama Minas Gerais, para que as borboletas venham. Não podemos não ficar falando: ‘vou pegar uma borboleta”. Vamos melhorar o ambiente; vamos melhorar a segurança, como já melhoramos, nos transformamos no estado mais seguro do Brasil no ano passado; vamos simplificar a vida do empreendedor. Assim, as coisas começam a acontecer naturalmente. Não existe passe de mágica.”

‘Foi um mero comentário’, diz sobre preferência por fábrica Heineken em Uberaba

O governador ainda justificou fala própria feita em fevereiro quando disse ter um carinho especial pela cidade de Uberaba e que, se dependesse dele, a nova fábrica da cervejaria Heineken seria construída na cidade do Triângulo Mineiro. A cervejaria tem intenção de se instalar no estado e vem sendo disputada por várias cidades mineiras, inclusive, Juiz de Fora. “Quero dizer que eu não tenho nenhuma preferência. É igual com o meu filho. Meu filho mora em São Paulo, se alguém me perguntar: ‘você gostaria que o seu filho morasse contigo?’ Eu vou falar. Só que eu sei que ele não virá morar comigo. Ele tem um bom emprego. Ganha mais do que eu como governador do Estado, inclusive. Então, foi um mero comentário.”

Zema disse ainda que nunca influenciou nenhum empreendimento em Minas neste sentido. “Vale lembrar que muitos dos empreendimentos que Minas tem recebido estão no Sul do estado devido à proximidade com São Paulo. Muitas empresas falam, ‘eu preciso estar próximo de São Paulo, pois eu recebo componentes e é lá que está o meu grande mercado’. Em hora nenhuma nós direcionamos empreendimentos. Não será diferente com o caso da Heineken”, resume o governador.

Novo vai fazer coligação para disputa eleitoral em Minas

Por várias vezes, o governador Romeu Zema rejeitou estar em campanha. Sobre as articulações para seu projeto de reeleição, disse que os trabalhos são coordenados pelo Secretário de Estado de Governo, Igor Eto. “Estou focado em administrar o estado. Eleição para mim será nos três meses que a lei determina: agosto, setembro e outubro. Então, não tenho feito campanha. Essa questão tem sido conduzida pelo secretário Igor Eto, que é o secretário de governo. Mas o que eu adianto é o seguinte: nós teremos coligações, com certeza. Queremos, inclusive, mostrar que o Partido Novo não é um partido que se considera diferente dos demais, com relação a coligações. Estamos querendo somar.”

O governador disse ainda que há conversas em andamento e algumas já adiantadas. Sobre o nome do vice-governador de sua chapa à reeleição, o martelo não tem data para ser batido. “Há conversas avançadas com diversos partidos e o nome do vice deverá ser decidido somente lá em meados do ano, mais próximo da data-limite. Há alguns nomes em cogitação. Esse vice-governador com certeza vai surgir dessas conversas que estão em andamento”, afirma.

‘Eleição é consequência’

Neste momento, Zema reforça que seu foco está na gestão do Governo. “Diferentemente de muitos políticos, eu considero a eleição como consequência. Eu venho do setor privado. Eu sempre falava que lucro é consequência do que você faz. Lucro não é objetivo. Se nós queremos ganhar uma eleição, nada melhor do que fazer um governo bem feito; fazer um governo que entregue resultados. Em vez de pedir voto, tem que fazer as pessoas te darem voto. Tem uma diferença aí. É nela que eu acredito. As pessoas têm de ver que é um governo sério; que não tem corrupção; que está fazendo o melhor; e que pegou um estado arruinado e conseguiu avançar, mas que tem muito o que fazer ainda. Então, acho que eleição é consequência de trabalho e não objetivo.”

‘Não vou fazer nenhum ato ilegal’, diz sobre reajuste de servidores
O governador também comentou a mobilização dos servidores estaduais por reajuste de salários, que, no momento, é o fato de maior pressão sobre sua gestão. O Governo já encaminhou à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) um projeto de lei propondo reajuste de 10,66%, que corresponde à inflação acumulada em 2021, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano de 2021. Algumas categorias como servidores da educação e das forças de segurança pleiteiam um percentual maior. No entanto, Zema descarta a possibilidade e não acredita em outro desfecho diferente do que está colocado para discussão na ALMG.

“O desfecho, na minha opinião, está muito bem sinalizado. Eu não vou fazer nenhum ato ilegal. Existe uma lei, que chama Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina o seguinte: estados, como Minas Gerais, que estão gastando acima do limite prudencial, não podem conceder reajustes acima da inflação do ano anterior. Eu não vou descumprir a lei. Então está definido. Se eles querem que eu descumpra, como outros governos já descumpriram, eu não vou descumprir”, sentencia Zema.

O governador pontua ainda que os servidores das forças de segurança receberam um reajuste de 13% em 2020. “Estão recebendo mais um reajuste de 10%. Um cumulativamente ao outro, dá mais de 24%. Qual o outro estado nesses três anos concedeu 24% de reajuste? Então nós estamos fazendo o melhor, o que nenhum outro estado fez”, afirma o governador, que acredita existir intuitos políticos, para além dos pleitos por reajustes, por trás dos movimentos grevistas de servidores estaduais.

“Estamos vendo que é um ano eleitoral, em que as pessoas estão se aproveitando. A minha posição está muito clara. Eu até gostaria de dar mais. A lei impede e a disponibilidade do orçamento também me pede. Tem dois impeditivos aí. Eu gostaria de chegar para todo o funcionalismo público e falar: estou dobrando o salário de vocês. O que que eu ganho em ficar acumulando dinheiro no cofre do estado? Não ganho nada com isso. Eu quero é que isso se transforme em escolas melhores, em estradas melhores, em remuneração melhor. Então, eu tenho essa questão. Eu já falei, eu prefiro fazer o certo e perder a eleição, do que o contrário. Então, estou aqui para fazer o que a lei determina e é o que o Estado precisa. Ele não tem condição de pagar mais. No passado já fizeram auê, e o que que aconteceu? Não tinham recurso para pagar. Atrasaram o salário. Pararam de pagar férias-prêmio. Não pagavam o 13º. Tiraram recurso de todos os 853 prefeitos. Tiraram R$ 14 bilhões dos municípios. Transformaram o estado num caos. Se for para fazer isso, eleja um outro governador. Não eu”, resume.

Regime de Recuperação Fiscal ainda em pauta

O governador também sinalizou que seguirá em campanha pela aprovação do projeto de lei que trata do Regime de Recuperação Fiscal do Estado, que já tramita na Assembleia. “Sabemos que, muito provavelmente, esse projeto seria aprovado. Só que ele não é pautado. Entende? Nós temos aí pessoas que não tem interesse em resolver o caos que Minas Gerais estava, que nós já resolvemos, mas precisa de muito mais ainda. Quem que em sã consciência não quer pegar uma dívida monstruosa de R$ 140 bilhões e ter trinta anos para pagar com uma condição extremamente facilitada? Ou não entende de matemática ou não quer que o estado tenha um futuro promissor”, avalia Zema.

Para o governador, a aprovação do Regime de Recuperação Fiscal vai permitir planejar novos investimentos de infraestrutura. “Mas eu continuarei lutando para que esse regime seja aprovado, o que vai viabilizar, inclusive, que possamos resolver o problema aqui da Zona da Mata, que precisa de infraestrutura. De onde que eu vou tirar dinheiro para fazer esse projeto que a prefeita solicitou, pagando quarenta bilhões que estão vencidos para União, que as liminares vão cair agora? Que dinheiro que vai sobrar? Então eu falo: ou tem gente que não consegue entender matemática ou, então, quer que o estado continue na lama”, afirma o governador.

Privatização da Cemig ‘depende da ALMG’

Zema também reiterou sua intenção de privatizar empresas estatais. “A venda de Cemig, Copasa e Codemig depende da Assembleia. Continuarei insistindo. O Estado vai ganhar muito mais se investir esses recursos em infraestrutura, em educação e em segurança do que recebendo dividendos. Você não desenvolve um estado recebendo dividendos de uma empresa. Você desenvolve um estado é pegando esse recurso e investindo em estradas melhores e em infraestrutura para poder atrair mais empreendimentos, que, se instalados aqui, vão gerar um recolhimento extra que é muito maior do que os dividendos que o estado recebe”, considera o governador.

Fonte: Tribuna de Minas