O Bar do Embrulhão

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)

Entre os anos 40 e 80, o bar mais tradicional e frequentado em Bicas foi o Bar do Embrulhão, na Rua dos Operários. O proprietário, Sr. João Pinto de Castro (Embrulhão) era um homem muito alegre e brincalhão, muito estimado por seus amigos e fregueses.

A sua residência ficava nos fundos do bar. Sua esposa e os filhos: João Celso, Lacyr, Leatrice, Aparecida, Laize, Vera Lúcia e o Sebastião Leme (Alemão), nas horas vagas, davam uma mão ao pai na administração do bar.

Na época, os gerentes dos bancos, como os senhores Moreira, Carlos de Oliveira, Mário Giannini, e outros, ao receberem seus mais ilustres e importantes clientes para realizações financeiras não iniciavam os negócios sem antes ir ao Bar do Embrulhão, para tomarem aquele gostoso cafezinho.

No bar, além do tradicional café, também era oferecido deliciosos salgados e doces, cuidadosamente, preparados por sua esposa com todo carinho e higiene. O Bar do Embrulhão também foi o ponto de partida e chegada da Perua do Sr. Tonho, (Viação Santos), que partia para Juiz de Fora, às 7h15, e retornava por volta, das 18h. Na foto anexa, podemos ver a perua, ao iniciar a viagem para Juiz de Fora.

Durante muitos anos fui vizinho do Embrulhão, pois tinha uma loja e morava na mesma rua, e tive a grata satisfação de conviver com a sua querida e adorável família. Frequentemente, ia ao bar tomar um cafezinho e saborear um gostoso salgadinho.

Embrulhão: o seu nome ficou registrado na história de nossa cidade para que as futuras gerações possam conhecer a memória do nosso passado, da nossa gente e das nossas origens.

O Bazar São Francisco

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)

Um dos mais antigos estabelecimentos comerciais de Bicas, o Bazar São Francisco foi fundado pelo Sr. Francisco Padula, que era carinhosamente chamado de Titino Padula. Era localizado na Rua Coronel Souza, entre a antiga filial das Casas do Compadre e o Bar Tabuleiro da Baiana, e o seu fundo de comércio era papelaria e artigos de utilidade doméstica.

O Sr. Titino era uma pessoa muito alegre, divertida e estimada por todos. Constituiu uma clientela fiel e muito grande para o seu estabelecimento. Após muitos anos, com o falecimento do Sr. Titino, o seu filho, José Padula, chamado por todos de Zé Padula, também, muito alegre e comunicativo, pediu demissão da Estrada de Ferro Leopoldina, onde exercia a função de Maquinista para assumir a direção do Bazar, e, juntamente com a sua esposa, e as filhas, Aparecida, Ione, Eneida e Maria José, deram prosseguimento ao bom atendimento do estabelecimento.

O Zé Padula, com visão de expansão dos negócios, e tendo em vista que, naquela época, ainda, não existia a televisão, e a única fonte de ficar em dia com as notícias era a leitura de ornais e revistas, anexou ao seu estabelecimento uma bem montada banca de jornais e revistas, onde podíamos comprar: “O Jornal”, “Correio da Manhã”, “Jornal do Brasil”, “A Tribuna da Imprensa”, “Jornal dos Sports”, “A Noite”, “O Globo”, “Ultima Hora”, entre outros. As revistas mais vendidas eram: “O Cruzeiro”, “Manchete”, “Revista do Rádio”, “Capricho”, “Seleções”, “Burda” etc.

Existiam, também, as revistinhas infantis: “O Gibi”, “O Guri”, “Super Homem, “O Pato Donalds”, “Tiquinho”, “Pernalonga”, “Zé Carioca” etc. Por lá, ainda, podíamos comprar os pacotes de figurinhas para completar álbuns, tais como os de artistas do cinema, de ídolos do futebol, principalmente, em anos de Copas do Mundo… Álbum de bichos, flores, personalidades etc. Como era divertido colecionar as figurinhas.

Antes de termos a banca em Bicas, a saída era ir à Estação da Leopoldina, esperar a chegada do Expresso 21, que vinha do Rio de Janeiro e passava em Bicas, às 13h, e comprar jornais e revistas do jornaleiro Sr. Mário, que vinha do Rio e ia até Ubá, vendendo jornais nas paradas nas estações.

A compra era um sufoco, pois tinha fila e o trem não ficava muito tempo na estação. Era somente o suficiente para a troca da locomotiva. Como estou fora de Bicas, por mais de 40 anos, não sei se alguém deu continuidade ao importante estabelecimento comercial.

As telefonistas

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)

Na década de 50, e princípio dos anos 60, eram poucos os telefones residenciais e comerciais instalados em Bicas. Para se fazer uma ligação, local ou interurbana, tínhamos que acionar as telefonistas, através de uma manivela que fazia parte dos antigos aparelhos telefônicos. Elas recebiam as nossas chamadas e perguntavam a quem deveriam chamar.

No painel, à frente das telefonistas, havia um pino e uma tomada para cada aparelho local instalado e, caso a ligação solicitada fosse para Bicas mesmo, e tendo em vista que cada telefone instalado possuía uma tomada no painel, ela conectava o pino na tomada correspondente ao telefone solicitado na chamada. Feito isso, avisava a pessoa e transferia a ligação.

Para se fazer uma ligação interurbana, às vezes, demorava muitas horas e até o dia inteiro. Por aqui, tivemos competentes telefonistas como a Filomena, a Lenira, a Wanda Silva, irmã do saudoso Erinho, e muitas outras que, apesar de lembrar delas, não lembro mais os seus nomes. A operadora, na época, era a CTB (Companhia Telefônica Brasileira).

O Centro Telefônico em Bicas ficava em uma casa, na Rua D. Ana, atrás da antiga Prefeitura, e ao lado da casa do Dr. Milton de Souza, um dos mais conceituados médicos da cidade, na época. E, para o atendimento aos clientes, que não tinham aparelhos telefônicos em suas residências, ou estabelecimentos comerciais, a central dispunha de algumas cabines com aparelhos para atendimento e, na sala, haviam algumas poltronas para a espera da complementação da chamada que, geralmente, levava muitas horas.

Devido ao desenvolvimento tecnológico, telefonista é uma profissão extinta, já que até mesmo nas centrais de atendimento, a transferência de ligações é realizada pelo atendimento digital. A “Era das telefonistas” terminou com a invenção do telefone de discagem direta e ligação automática.

A partir de 1966, as “telefonistas” passaram a cuidar exclusivamente de serviços especiais, como por exemplo, o de auxílio à lista. Às vezes, fico pensando como evoluímos em termos de comunicação, pois, hoje em dia, através dos aparelhos celulares que levamos nos nossos bolsos, fazemos ligações de áudio e vídeo para qualquer parte do mundo, instantaneamente, e podemos ser vistos e ver as pessoas, com quem desejamos nos comunicar, com pureza de som e nitidez de imagem.

Será que ainda vamos ter mais algum desenvolvimento, como diz o nosso amigo João Lúcio. É pra se pensar!

O Bar da Yêda

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)

Na década de 50, e princípio da de 60, o Bar da Yêda foi um dos mais frequentados de Bicas. Funcionou durante muitos anos na Rua dos Operários, em frente as oficinas da Estrada de Ferro Leopoldina. Ficava ao lado da Farmácia Santa Maria, dos queridos farmacêuticos, Sr. Ivan de Castro e Sr. Pedro Dutra de Moraes. No local, hoje existe um dos prédios da Organização Fama.

Esse bar ficou na lembrança e deixou muita saudade. Uma de suas características, era manter um serviço de alto-falante, com grande potência, que ficava afixado na parte da frente do bar.

A Yêda usava o serviço para que os seus fregueses oferecessem músicas para os amigos, namorados, etc…. Até aí, tudo bem, mas…. como naquela época havia uma grande rivalidade entre os clubes de futebol, principalmente, entre o Esporte Clube Biquense e o Leopoldina Atlético Clube, sempre que havia uma partida entre os times. O clube vencedor pagava a Yêda para tocar, durante o dia seguinte ao jogo e durante toda a semana seguinte, uma música de gozação, que na sua letra dizia: “Estou doente, morena… Morena, estou doente… Cabeça inchada, morena…Tô e tô e tô”.   

Se o Leopoldina fosse o derrotado, o Esporte pagava para tocar a música para gozação dos operários das oficinas, que ficava em frente ao bar, e eram torcedores do clube, mas quando o Leopoldina ganhava do Esporte, pagava com a mesma moeda, e os torcedores do Esporte é que ficavam zoados… Ninguém tinha paz na redondeza.

Eu, que tinha uma loja próxima ao bar, qualquer que fosse o vencedor, não tinha sossego, ouvia a música mais de 300 vezes por dia e, à noite, ao deitar, ficava com ela na cabeça e custava dormir. Era uma tortura!

O nosso alívio foi quando o Joel Fonseca comprou o bar, anexou uma ótima padaria, e desativou o maldito serviço de som.

O camelô

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)

Em Bicas, como em outras cidades, sempre aportavam camelôs para venderem seus remédios que tudo curavam. Logo que chegavam na cidade, contratavam uma pessoa para ajuda-los nas mágicas, que normalmente faziam para atrair compradores para os seus produtos. Davam, também, algum dinheiro a duas ou três pessoas para que, assim que começassem a vender os remédios, eles serem os primeiros compradores com o objetivo de estimular e incentivar as vendas.

Em nossa cidade, quase sempre se instalavam na praça, em frente ao Bar Memphis, onde atualmente está o prédio da prefeitura, ou na pracinha entre a linha do trem e a Casa do Compadre, no início da rua Coronel Souza.

Como na época existiam poucas opções de divertimento, a chegada de um camelô era um sucesso. Juntava uma grande multidão à sua volta.

Habitualmente, eles eram chamados de “solta a cobra”, pelo motivo de sempre chegarem com uma caixa com uma enorme cobra, que se chamava “Dona Catarina”. Levavam, também, uma bolsa com um lagarto de nome: Dom Pascoal.

Eu me lembro que, juntamente, com outros meninos, permanecíamos no local do início ao fim da apresentação.

Em uma das seções, o camelô disse que durante a apresentação a Dona Catarina iria engolir o Dom Pascoal e que este também iria engolir a Dona Catarina e os dois iriam desaparecer, Ficamos observando o tempo todo e esse acontecimento não ocorreu.

Em outra apresentação, o camelô virou para o público e disse: “Agora eu vou soltar o Dom Pascoal e ele vai morder o pé de um menino que está sem cueca”. Nesse momento, vários meninos, eu não, e também alguns adultos, saíram de fininho; no entanto, o camelô disse: “Podem voltar que é brincadeira”.

Quase sempre os vendedores eram verdadeiros artistas que sabiam entreter as pessoas e sempre vendiam bem os seus remédios e, no fim, todos ficavam felizes e esperançosos pelo efeito dos medicamentos.

Dona Zenóbia

Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)

Os alunos que passaram pelo Grupo Escolar Coronel Joaquim José de Souza, nas décadas de 40, 50 e 60, certamente, vão se lembrar da Dona Zenóbia, uma pessoa muito alegre e comunicativa, sempre com um sorriso no rosto. Ela era muito estimada pelos alunos, professoras e funcionários do grupo, pois sabia cativar a todos. Dona Zenóbia era solteira, tratava os alunos como se fossem seus filhos e, como cozinheira da  cantina, servia diariamente uma suculenta sopa.

Às sextas-feiras, além da sopa, ofertava um gostoso arroz doce. Para ter direito à sobremesa, o aluno tinha de contribuir para a Caixa Escolar, com a importância de 500 reis, equivalente a 50 centavos, na moeda atual. Caso o estudante não tivesse o dinheiro, podia contribuir com a entrega de um ovo.

Eu me lembro que não deixava de comer o arroz doce. Quando não dispunha do dinheiro, ia até a Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, que sempre tinha engradados de galinhas aguardando a chegada do trem para serem despachadas para o Rio de Janeiro, e, com a ajuda de uma varinha, retirava um ovo e garantia a minha iguaria.

No entanto, Dona Zenóbia tinha um coração muito grande: se o aluno não tivesse o dinheiro ou o ovo, não deixava de lhe servir o arroz doce, sempre com um sorriso no rosto.

Dona Zenóbia deixou muita saudade para os alunos que tiveram a sorte de conhecê-la e que desfrutaram da sua amizade e do seu carinho.