Doação de uma vida

Sebastião de Souza Campos

Há cinquenta anos ele dá um testemunho de fé.

Há meio século, um homem frágil, pobre, traz, dentro do peito extraordinária força interior, que abala e espanta.

O primeiro número de “O MUNICÍPIO” foi impresso por ele. Letra por letra, exaustivamente.

De lá para cá, nada e ninguém o afastou daquilo que ele entendeu ser dever cívico (e o é): a contribuição do seu idealismo em favor da terra querida.

Os filhos e netos vieram depois (Dininho, Jeferson, Edson e Sebastião), seguindo aqueles passos generosos, pois nossa imprensa interiorana só sobrevive à custa desse devotamento superior e desprendido.

SEBASTIÃO CAMPOS, comovente exemplo de fidelidade, testemunho vivo de quanto pode o espírito humano, iluminado do desejo de servir.

Ao lado do nosso José Maria Veiga, do saudoso João Cândido, Sebastião Campos prossegue. E sua luta não vem manchada de ambição, de mesquinhos interesses. A trincheira, quase sempre desguarnecida, não lhe traz dividendos, ricas perspectivas, sonhadas opulências. É mister de garimpeiro, um mourejar de predestinado, que sabe seu fim e o rumo de sua áspera trajetória.

Esta cidade um dia precisou de tipógrafo, de um jornalista, que a retratasse e defendesse, marcando sua presença no mapa de Minas.

Aquele tipo franzino, sem empáfia, apresentou-se para dizer aos conterrâneos a verdade de todos os dias. E dar voz aos que não têm vez. E transmitir sempre a mensagem de esperança e otimismo.

Quanto lhe devemos Sebastião Campos. Na sua singular modéstia e simplicidade, há um cidadão que soube honrar o seu tempo. E deu o melhor de si, em valor incalculável.

Pela doação de sua vida, pelo amor ao trabalho, pela lição de humildade, obrigado.

Uma cidade também se constrói com homens de sua têmpera.

(Publicado no jornal O MUNICÍPIO, de 25 de setembro de 1983)