Gentil, homem plural

Um dia ele adoeceu. E preocupou-se com o mal que o atormentava. Mas não se entregou. Do fundo de sua alma, forte e indomável, encontrou reservas de energias para uma promessa tão inusitada quanto corajosa: “se eu me curar, vou construir uma Igreja”.

E o milagre aconteceu. Não o da cura, que, afinal, seu estado não era tão grave assim. Mas o milagre de um homem só, desassombrado, bater em todas as portas, reunir vontades, despertar consciências, e erguer no alto de sua fé, a Igreja do Gentil…

Eu não conheço proeza igual. Pois não foi o dinheiro de Gentil Corrêa de Almeida que prevaleceu. Ele não o tinha suficiente para tal obra. E mérito não haveria. A bela Igreja que lá está, de pedra e cal, de tijolo e ferro e cimento, custou sobretudo o suor e a raça de um cidadão de fibra.

Sua sensibilidade levou-o a erguer também o Lactário Angelina de Almeida. Outra iniciativa de amor, de solidariedade humana, que diz muito a tanta gente fria e desavisada, e dá a medida de sua têmpora de cristão militante.

Ex-prefeito, vereador e presidente da Câmara inúmeras vezes, fundador e líder da Cooperativa de Leite, antigo sócio no Cine São José de Francisco Retto Filho (outra grande figura biquense), Gentil Corrêa de Almeida é padrão de civismo, de crença nos valores do espírito e do trabalho.

A idade não lhe marcou os dias, nem lhe arrefeceu o ânimo, nem o fez amargo, ausente, egoísta. Seu caminhar é de permanente doação, de ativa presença nas coisas, nos fatos, na história desta cidade.

Exaltá-lo é dever, como exemplo para gerações, é honra, numa hora angustiada, de tanta desesperança. Gentil é homem plural, de muitas vidas. Impossível vê-lo afastado dos nossos problemas, esquivando-se, fingindo desconhecer o drama alheio, recusando-se na fraterna ajuda.

Nascemos em 5 de março. Para orgulho meu, temos em comum, ao menos, a mesma paixão por Bicas. Um dia subirei até sua Igreja para rezar e agradecer sua generosa existência.

                (Publicado no jornal O MUNICÍPIO, em 16 de junho de 1983)