A decadência jornalística nacional

A cada dia que passa torna-se mais difícil a tarefa de se informar corretamente a respeito dos fatos que compõem a nossa vida. A imparcialidade jornalística há muito deixou de existir. Veículos de comunicação importantes e reconhecidos no cenário nacional e internacional perderam-se pelo caminho em meio a conflitos de interesses e adoção de metodologias de trabalho pouco condizentes com a profissão. Debater sobre como a mídia brasileira tem se portado ao longo dos últimos anos é a intenção deste singelo texto que visa promover uma análise crítica do leitor a respeito dos fatos aqui enumerados.

Não é de hoje que as críticas envolvendo a emissora “plim plim” são frequentes no cotidiano brasileiro. Tal afirmação se comprova inclusive pela tentativa da própria emissora de se mostrar pouco preocupada com o fato, ao veicular uma campanha em diversos estilos musicais dizendo atingir “100 milhões de uns todos os dias”, apesar de outros dizerem não gostar de seu conteúdo. Nota-se, porém, que a gigante da comunicação e entretenimento nacional tem sofrido importantes baixas ao longo dos últimos anos, seja no setor artístico, seja no jornalístico. Reformulações em sua programação estão sendo feitas constantemente; no entanto, o tom utilizado ao disseminar informações tem se tornado consideravelmente agressivo e acusador.

Seu noticiário de horário nobre, comumente dedicado a assuntos políticos, tem se voltado à transmissão diária de notícias envolvendo o presidente do Brasil e sua família. Em outras emissoras, a onda tendenciosa se intensifica de mesmo modo. Aquela inserida no universo religioso reserva um generoso espaço de seu noticiário para denunciar irregularidades envolvendo a Fundação Roberto Marinho em licitações da Prefeitura do Rio de Janeiro. A que leva rede em seu nome, se reserva ao direito de falar da vida de todos os famosos, enquanto a pertencente ao homem do baú prefere continuar sendo a emissora mais alegre do Brasil.

Diferenças existem; porém, a forma como a notícia é dada se mostra incrivelmente divergente em todas elas. Um mesmo fato pode ser visto de diversas formas unicamente em virtude da maneira com que o mesmo é exposto. Tal similaridade se repete ao analisarmos as publicações da mídia impressa.

Assim, é construída uma fortaleza de opiniões preconcebidas e moldadas a fim de atenderem a efetivação de certos objetivos particulares. Analisando um caso hipotético de suicídio, vemos como uma mesma notícia poderia ser transmitida pelos veículos hoje existentes em nosso país com suas particularidades características: 1 – Homem se mata após governo Bolsonaro aprovar a reforma da previdência; 2 – Programação global induz homem a pular de prédio para a morte; 3 – Veja o que os famosos estão comentando a respeito do suicídio da semana na Avenida Paulista; 4 – Homem pula do prédio e morre. Confira os detalhes após o comercial da Jequiti.

Numa era em que a facilidade de acesso à informação é extremamente elevada, o grande desafio não se resume somente ao alto índice de fake news, como também à fonte de onde a informação está sendo obtida. A postura ilibada e íntegra transmitida por grande parte da mídia nacional faz com que a identificação de más condutas seja um tanto quanto dificultada. Deste modo, o que vemos é a adequação de públicos aos seus respectivos anseios; onde telespectadores e leitores buscam pelas notícias nas fontes que tratam o assunto da maneira que estes estão dispostos a aceitá-lo como verdade.

Com isso, é possível compreender que a polarização que tanto se fala nos dias atuais vai muito além de questões político-partidárias; e que adentra os mais diversos setores do país. Lamentável, porém, é constatar que nessa guerra de egos e interesses, o público é sempre o principal prejudicado e o barco em que todos nós estamos inseridos, fica cada vez mais à deriva; onde um rema para um lado, outro para a direção oposta; um fura o buraco e o outro tira a água que entra como uma medida desesperada de retardar o naufrágio a que todos estamos fadados. Difícil precisar, contudo, até quando será possível adotar tal dinâmica sabotadora de si próprio sem sucumbir pela própria estupidez.