Quando as palavras agridem

Fulano está com câncer… Beltrano está com lepra… Querem agressão mais sórdida, promovida por uma simples palavra?!

Médico alergista, imunologista e farmacologista, em certa ocasião, procurou-me um paciente que relatou-me que estivera em um dermatologista, e este, após exame criterioso de sua lesão na pele, simplesmente lhe disse: Tem tratamento, mas o senhor é portador do Mal de Hansen… E o paciente, atônito, lhe inquire: O senhor quer dizer lepra. Com a resposta positiva, o paciente, um homem de 1,90 e mais de 100 kg, desmaiou e quase caiu por cima do médico… É verdade! Ora… mesmo Mal de Hansen… no que o grande pesquisador, descobridor do bacilo da pertinaz moléstia, se sentiria “homenageado” ao chamarem sua descoberta de Mal dele.  Muitos podem até pensar que ele era “apenas” um portador famoso da moléstia, e não o herói descobridor do bacilo que a produz. E câncer. Ou, como modernamente, falam, neoplasia. Ora… câncer, palavra do latim, cancer, que de seu significado etmológico – caranguejo -, ultrapassou o quarto signo do zodíaco, dos que nascem entre 21 de junho e 22 de julho, tirando o brilho da quarta constelação do zodíaco, situada no hemisfério norte, tornando-se o obscuro e funério batismo dos portadores das chamadas neoplasias, especialmente as malignas… Recebo diariamente os “breaking news” do N.Y. Times, e, hoje, recebo a alvissareira notícia que “top scientists” na pesquisa dessa doença, estão trabalhando denodadamente para acabarem definitivamente – proibi-la! – a palavra câncer para qualquer doença neoplásica, pelos insidiosos envolvimentos que cria nas mentes de pacientes e até de médicos! Câncer coisa nenhuma – coitado do caranguejo…-, lepra jamais! Mal de Hansen… coitado, Hansen… Está na hora de criar novo dicionário médico, onde a palavra doença seja substituída por distúrbio da saúde, com a saúde, sempre, em primeiro lugar.