O mundo em que eu vivo

O mundo em que eu vivo pode ser descrito não somente por mim, mas também se transformar num relato de cada pessoa que por ventura venha a ler este artigo. Baseado numa observação corriqueira do cotidiano, o texto visa contrapor pontos de vista e abordar a dinâmica da vida sobre uma ótica incomum, trazendo verdades muitas vezes esquecidas quando nos inflamos de ego para expressar nossa representatividade e importância mundana.

Feriado de 1º de maio e eu estava escovando os dentes para dormir. Nesse momento, observei uma pequena formiga na pia do banheiro de minha casa. Algo comum em diversas residências do Brasil, porém este fato me chamou atenção por um motivo não habitual: o mundo em que de fato vivemos.

Ao observar aquela pequena formiga perambulando sobre a pia, pensei no quão vasto aquele território de louça parecia se mostrar para ela; ao ponto que para mim, era simplesmente uma pia onde daqui a alguns segundos eu iria enxaguar a minha boca. Ao ter essa percepção, comparei a situação da formiga com a minha própria e com a de todas as pessoas possíveis, considerando suas mais variadas realidades. Qual o tamanho do mundo para mim? Qual o tamanho do mundo para a formiga? Qual o tamanho do mundo para você que agora lê estas palavras e começa a imaginar o cenário descrito em sua rotina também?

Percebi, pensando mais sobre isso após me deitar, que minha casa talvez fosse o sonho de propriedade de qualquer formigueiro, e que fazer parte de algo do tamanho de Bicas, seria um verdadeiro sonho para qualquer formiga normal. Porém, para mim, infinitas vezes maior do que aquele pequeno animal, uma pia é somente um artigo de banheiro; uma casa, um abrigo; e uma cidade, um lugar que escolhemos para fixar moradia.

Ao abordarmos o tema de desigualdades sociais, temos a comum característica de dizer que determinados grupos vivem em mundos diferentes. Outros, por sua vez, dizem que vivemos no mesmo mundo, porém as pessoas vivenciam experiências e oportunidades opostas. É neste ponto que quero chegar. Qual o mundo em que você vive? Qual a sua importância no meio que você é membro? Você não passa de uma formiga ou pode ser considerado um enorme ser humano, capaz de jogar qualquer ínfimo inseto pelo ralo num simples abrir de torneira?

O mundo em que eu, em particular vivo, se resume à Bicas e Juiz de Fora. Para algumas pessoas, o mundo é realmente do tamanho do mundo. Elas dispõem de meios financeiros para viajar e conhecer diversas culturas. Têm oportunidades e conhecimentos que as levam a diversas regiões do globo terrestre. Para mim, apesar de todo o acesso que tenho às mais variadas fontes de informação, dos livros que leio, do conhecimento científico e intelectual que me leva a lugares inimagináveis, continuo pertencente a um mundo limitado a duas cidades próximas. E você? Qual é o seu mundo?

O mundo para muitas pessoas doentes, infelizmente se resume a uma cama. Para outras, o mundo é escuro. Para um outro tanto, ele se mostra como um verdadeiro obstáculo. Para os astronautas, o mundo pode ser considerado o universo; porém, visto através de uma janela, a qual não pode ser aberta. Vivemos em mundos diversos dentro de um mesmo mundo. Somos pessoas diferentes que se assemelham apenas na composição física e química dos corpos. Temos percepções, vontades, oportunidades e características pessoais distintas. Somos uma individualidade coletiva.

Comparar nossa condição com a de uma formiga me fez entender que temos tamanhos diferentes para a sociedade da qual fazemos parte. E que o nosso mundo varia proporcionalmente ao tamanho que por ventura temos, salvo muitas e boas exceções. Compreender a dinâmica da vida é importante para ampliarmos o nosso horizonte mental,
e a partir dessa ampliação, possibilitarmos o desbravamento de territórios desconhecidos dentro de nós mesmos. Deste modo, é possível conquistar espaços dentro do nosso próprio interior sem precisar mover um passo sequer no mundo físico. Mesmo assim, a nossa consciência do todo ainda permanecerá restrita a uma pequena parte dele.