Lição de vida

Perfis biquenses

Na década de 80, Chicre Farhat, escreveu várias crônicas para O MUNICÍPIO sobre personalidades biquenses, ressaltando nelas qualidades de caráter e de personalidade, muitas vezes despercebidos no dia a dia. Verdadeiras pérolas que, em novembro de 1983, foram reunidas em uma publicação lançada pelo prefeito Gilson Lamha. Posteriormente, Chicre continuou a usar sua brilhante mente para enaltecer outras personalidades. Assim sendo, em homenagem ao autor e aos seus personagens, tudo será republicado.

Dr. Gilson Salomão

Algum tempo fiquei diante do papel escolhendo as palavras que melhor pudessem traduzir o sentimento de vazio que me assaltou. Confesso-me envolvido por um mundo de recordações, e não consigo separar do duro fato que me tocou fundo, de um testemunho que pretendo isento e fiel da extraordinária figura humana que acaba de nos deixar.

Refiro-me a Gilson Salomão. Morreu o médico humanista, notável cirurgião, o catedrático, reitor e fundador da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Em reconhecimento de sua obra, foi levado pelo ministro Jarbas Passarinho para o Ministério da Educação, onde deu dimensão nacional ao seu talento, ajudando a Universidade Brasileira na escolha de seus líderes e nas verbas necessárias para sua definitiva implantação.

Cidadão de muitos títulos, mas que jamais perdeu sua identidade, nem esqueceu as nobres origens, ou se deixou conduzir por ambições mesquinhas. Venceu com altanaria, sem soberba, os pés fincados no chão, olhando sua gente, abrindo-lhe os espaços do futuro.

No consultório, em Juiz de Fora, sempre repleto, atendeu algumas vezes minha mãe e minhas irmãs. Não havia fila para elas, nem horário e muito menos honorários… Ele as recebia com extremo carinho, como se fosse devedor de alguma coisa, algo que seu coração generoso nem sabia explicar.

Acompanhou os últimos momentos da “Prima Ássima”, como costumava dizer. Esteve conosco por vários dias, solidário, atento, fraternal, irmão.

Gilson Salomão deixa atrás de si um facho de luz. Sua trajetória entre nós foi a de um homem superior, desses que traçam rumos, rasgam novos horizontes, desses poucos eleitos na gratidão e no reconhecimento público.

Perdê-lo foi um momento de grande amargura e solidão, só recompensado pela honra de tê-lo conhecido, e dele recolhido duradoura e exemplar lição de vida.

(Publicado no jornal O MUNICÍPIO, de 29 de abril de 1983)