Conceição Machado Veiga

Perfis biquenses

Na década de 80 e 90, o saudoso Chicre Farhat escreveu várias crônicas para O MUNICÍPIO sobre personalidades biquenses, ressaltando nelas qualidades de caráter e de personalidade, muitas vezes despercebidos no dia a dia. Verdadeiras pérolas que, em novembro de 1983, foram reunidas em uma publicação lançada pelo prefeito Gilson Lamha. Posteriormente, Chicre continuou a usar sua brilhante mente para enaltecer outras personalidades. Assim sendo, em homenagem ao autor e aos seus personagens, tudo será republicado. A saudosa Dona Conceição Machado Veiga é a personagem da vez…

Quando recebi das mãos de Dª Conceição Machado Veiga a placa que o jornal “O Município” me homenageava pelos setenta anos, senti logo que José Maria e Carlos Augusto Machado Veiga desejavam ir bem além no carinho e na sensibilidade.

Dª Conceição significava a importância maior, era como emblemática referência, que honra qualquer pessoa. Essa austera e exemplar figura humana, filha de um líder, fundador de cidades da nossa região, o Cel. Bertoldo Machado. Dª Conceição Machado Veiga bem traduz as virtudes da mulher mineira, no recato e singeleza, cercada da ternura de todos os seus.

Com José Maria Veiga formava belo par de marcadas tradições. Era o casal perfeito, que aglutinava, sabia receber, e ser fiel até as fundas raízes da generosa amizade.

José Maria Veiga e Conceição Machado Veiga são legendas e histórias, são símbolos, pontos de referência. Ninguém deixou de colher deles compreensão e solidariedade.

Seria o óbvio ululante, no dizer de Nelson Rodrigues, nosso primeiro dramaturgo, ficar aqui escolhendo adjetivos para bem caracterizar aqueles que já foram aprovados com louvor pela opinião pública.

Quem conhece os filhos de José Maria Veiga e Conceição, e acompanha a vida da cidade, sabe que Bicas nada deve na qualidade de sua gente, na identidade superior de criaturas que nos orgulham.

Acamada, Conceição Machado Veiga, biquense de Maripá, receba a modesta visita que ora lhe faço, perdoando com sua imensa fé cristã, o que faltou dizer da esposa e mãe, avó e irmã extremada, da amiga sincera, sobretudo da cidadã mineira.

Trago-lhe do fundo do peito um buquê de rosas. Com justiça, rendo-lhe meu preito de gratidão por sua existência e o que ela representou e representa de lição aos conterrâneos.

A vida precisa ter momentos de paz, o reencontro de consciências, a autocrítica. A beleza em cultivar a humildade intelectual e mirar os que enriquecem o patrimônio moral ao ser humano.

Conceição Machado Veiga se impõe com solar evidência, a pureza de sentimentos, sem afetação ou arrogância. A força da autoridade vem da sua delicadeza. Ela diz tudo em silêncio. Está presente mesmo na ausência… Eis o grande paradoxo dos que realmente comandam. Vêm de um tempo mágico esses valores autênticos, o veio tão rico, que não necessita de ordens e imposições. Apenas reflexões e bom senso.

Bicas e Maripá rompem fronteiras, rasgam horizontes, e acima de miúdas convenções do atraso e tolo provincialismo, acatam a soberana verdade dos campeões da fraternidade.

Sem essa riqueza interior imaculada, o mundo não teria compaixão, nem grandeza. Sem a grande dama de duas cidades, Conceição Machado Veiga, pouco valeria viver na aridez do egoísmo e da fria ambição.