Um causo à parte / Memórias / A tradutora de sonhos

O MUNICÍPIO está recordando os pitorescos contos do livro “Bicas, um causo à parte”, do saudoso Vasco Teixeira, prestigiado ex-colunista do jornal. Um biquense que também fez história nas cidades de São José dos Campos (SP) e Paraisópolis (MG), onde estava radicado. O Tiãozinho da Rua do Brejo era multifacetado: metalúrgico, político, cronista, escritor, artista plástico e mais.

A tradutora de sonhos

O jogo do bicho foi durante muito tempo uma forma de se divertir e se associar. Ninguém ficou rico com o jogo. Acertar no milhar, o maior prêmio, era muito difícil. Depois, perdeu o glamour para outros jogos e acabou caindo na mão do crime organizado…

No período de minha infância e juventude, na Rua do Brejo, tinha uma pessoa iluminada. Sua especialidade era interpretar os sonhos e traduzi-los num palpite. Dona Doca tinha uma margem de acerto enorme. Era comum vizinhos contarem seus sonhos pra ela, na intenção de fazer uma fezinha.

Ela dizia, com muita esperteza, que a química só valia para os sonhos dela, mas não se negava…

Seu cambista preferido era o Mosquito, que a ajudava a traduzir e a incentivava nos palpites. Um dia Doca disse para ele que tinha sonhado com um beija-flor mamando numa cadela. Mosquito fez as contas e sapecou: “Borboleta e cachorro”. Doca retrucou: “Pode ser vaca, também, ou cabra…”. Ficaram por ali fazendo as contas, até que finalmente se acertaram. Fizeram vários passes e ternos, mas deu mesmo foi o terno; borboleta, cabra e cachorro…

D. Doca recebeu uma grana legal, deu naturalmente a porcentagem do Mosquito e pagou pirulito para a molecada.

Bicas contraventora.