Em todos os sentidos

Nossos sentidos são realmente fabulosos. Além do tão misterioso quanto famoso “sexto sentido” – atribuído a quem tem intuição (extra sensorial) aguçada – os demais, ditos sensoriais, dão conta “dêreitim” de instigar e satisfazer nossos prazeres: o tato, a visão, a audição…

Mas, como todo indivíduo que supera a média, nosso guru literário – o Tiãozim do Sô João Belo (Vasco Teixeira) – já no primeiro dia de 2018 sapecou um “causo” (aquele da “Suconete” ELGRAN), que mexeu com os dois sentidos que mais cutucam o estômago: olfato e paladar. Estômago esse que, por sua vez, cutucou o cérebro, suscitando muitas lembranças… Cérebro esse que foi lá e deu uma chacoalhada no coração.

Foi um dos que gerou o maior afluxo de conterrâneos elegendo suas “DeBikatessens” prediletas. Da “Parte Alta” à Rua “15”, do Morro do Cruzeiro ao Areal, da Reta ao bairro Santana, do campo do Leopoldina ao do Flamenguinho… Esquadrinharam a topografia gastronômica da terrinha. Teve até comentário do Fran (Francisco Felipe Galil), que mereceu um rosário de sub comentários agregados no Facebook.

Bão, mas e o “Kiko”? O kikô têim cum isso?!

O assunto é que, eu, principiante nessa epopeia de escrever, não posso perder uma carona dessas por nada. Daí achei por bem acrescentar um “sub-causo”. Lá vai!

No bar do nosso querido Gilson Galil, os pastéis além de seus recheios específicos, ainda vinham revestidos de gentileza e agrado, onde um alegre e brincalhão senhor Gilson, com um pano branco amarrado da cintura para baixo feito um avental, cuidava da cozinha e atendia as mesas com cortesia, brincadeiras e humildade, enquanto seu filho, João “Bradisco” (?), coordenava o caixa e ficava “caladão”, mas só enquanto o assunto não era futebol.

Por azar (ou sorte), mas certamente por um capricho do destino, a nova sede da agência do Banco do Brasil foi construída em frente ao seu estabelecimento. Se não pelos predicados já decantados ou pela curta distância a ser vencida, o fato é que o “Happy Hour” dos bancários, capitaneados por seu ‘inquestionavelmente’ líder espontâneo, Lúcio Borges, passou a ser no “Sô Gilso”.

Eu frisei Happy Hour “dos bancários”. Não que Sr. Gilson tivesse má vontade em atendê-los, muito pelo contrário, além dele ser ultra solícito, afinal, era o seu negócio. Eram três, o(s) problema(s):

1 ) Sr. Gilson acordava e abria o bar cedo, visto ter uma clientela matinal de comerciários e outros trabalhadores, pois ele tinha também um café delicioso, pão com manteiga e, não poderia faltar, aquele pastel de queijo fritinho na hora.

2 ) Pelo exposto acima, justo é que o sono lhe ocorresse cedo.

3 ) Sr. Gilson não gostava de perder a novela por nada neste mundo, nem p’ra faturar uns “mirréis” a mais, mesmo sendo de origem Árabe – Galil -.

Apesar de ter uma televisão no bar, a algazarra da galera o atrapalhava quando dos cochichos em sussurros dos casais, ele gostava mesmo de ver a novela era em casa. E ponto.

Mal sabia ele que o pior ainda estava por vir no embalo da construção da nova sede bancária, com uma turma de funcionários em média etária muito jovem e extremamente empreendedores, além do estímulo da própria “Instituição” na construção das “Associações Atléticas” (AABB’s). Terreno escolhido, primeira etapa da obra a ser construída, logicamente – Campo de Futebol Society – sua iluminação e vestiário. Começaram as peladas nas terças e quintas. Se os Happy Hour’s iniciados às 18h já bicavam a novela, as peladas então. . . já que começavam em torno de 18h30, com muito esforço, iam acabar lá pelas, *&%#@, e só então é que vinha a cervejinha no “Sô Gilso”. Era uma tortura para ele, dava dó vê-lo cochilando no balcão, tentando entender o que os personagens falavam… mas, a delicadeza falava mais alto, e lá ficava ele…

Estratégia I – Sr. Gilson passou a fechar mais cedo (+ ou – 19h), às terças e quintas.

Estratégia II – Assim como hoje é escolhido um motorista da rodada para não beber, passaram a escolher um que não iria jogar, saía do banco às 18h e ia p’ro bar para assegurá-lo aberto aos demais, que começavam a pipocar lá pelas oito e meia/nove horas. Quebraram a espinha do ‘Sô Gilso”.

Passou o tempo…

Bela 5ª feira, eu de férias em Bicas, dei uma descida no centro e, lá pelas 22h30, vinha vindo do bar Tricolor (leia-se Edir Moreira) e não acreditei: bar do “Sô Gilso” aberto! Entrei, fui logo me ajeitando para escutar a resenha ao lado dos alegres jogadores e por ali fiquei. Passou um tempinho, não vi nem João nem “Sô Gilso”… A galera se servindo… Nilton Santos fritando pastel… Aí, questionei o Lúcio Flávio (?).

Estratégia III – “Sô Gilso” houvera feito uma cópia da chave do bar, a qual ficava aos cuidados do Lúcio, que tinha o compromisso de anotar tudo que era consumido. A turma passava água nas garrafas usadas e as colocavam de cabeça para baixo nos engradados vazios, além de lavarem os copos e os pratos.

Saímos de lá já beirando meia-noite. Deu trabalho p’ra fechar a porta…

Bicas era bão dimais… “Em Todos os Sentidos”!