Carga pesada na consciência

É notório que o Brasil necessita urgentemente de mudanças e que o povo é diariamente assaltado pelo governo em seus inúmeros e abusivos impostos. No entanto, as mudanças devem ser feitas de maneira inteligente e com a devida atenção a todos os seus efeitos colaterais, inevitáveis em qualquer tipo de escolha que fazemos. A crise provocada pelos caminhoneiros em todo o país passou de algo meramente restrito a uma categoria que reivindicava os seus direitos, para uma verdadeira baderna desgovernada feito a mais gigantesca carreta sem freio a descer ladeira abaixo.

Como transformar heróis em vilões em apenas 7 dias? Esse poderia ser o título deste artigo. Tudo é lindo quando o seu próprio bem-estar não está sendo afetado. A partir do momento em que o instinto de sobrevivência começa a falar mais alto, a lei do “salve-se quem puder” passa a ser prioridade máxima na vida das pessoas. Iniciada como uma reivindicação de melhores preços nos combustíveis e redução de tributos para os caminhoneiros do país, a greve geral avançou pela quarta semana do mês de maio e teve seus efeitos sentidos em todos os pontos imagináveis. No domingo, 27/05, após o pronunciamento do presidente, uma legião de pessoas que se sentiam prejudicadas se encheu de esperança com o possível fim da greve, frente ao acolhimento das queixas pelo governo federal. Todavia, o que vimos depois disso foi uma mistura de resistência por parte de alguns manifestantes, outros se sentindo pressionados e acuados em seu próprio meio e um total desvio de finalidade na greve que já deteriora o país.

Os efeitos já são mais do que conhecidos por todos. Noticiários divulgam quase 24h por dia notícias sempre atualizadas dos fatos. Mas não é demais expor mais um ponto de vista e opinião a respeito dos acontecimentos, diante inclusive do desvio de finalidade que os mesmos tomaram.

As pessoas falam sem conhecimento do assunto. Gritam pelo simples fato de aumentar o volume do burburinho já existente. Reclamam sem dispensar o mínimo de tempo sequer para pesquisar o porquê das coisas serem como são e estarem como estão. Chegam ao ponto inacreditável de pensar que com a volta da ditadura tudo será melhor. Numa ditadura, algo como o que estamos vivendo já teria terminado há muito tempo, só que num banho de sangue.

Depor um presidente corrupto e colocar outro corrupto no lugar, pensando ser este o salvador da pátria, não é solução para nenhum lugar do mundo, muito menos no Brasil, onde o sistema político é todo errado. Parar a nação e gerar incalculáveis prejuízos a diversos setores que já se encontram de certa forma fragilizados pelos longos períodos de crise que vivemos, não é uma atitude inteligente e pode ser até mesmo denominada como burra. Radicalismo também necessita de conhecimento e estratégia. De que adianta derrubar um governo deixando o país arruinado? Como se reerguer após uma devastação em diversas áreas econômicas e sociais? O Japão se transformou após bombas atômicas e tsunamis, mas o Japão é exemplo de lugar disciplinado. Enquanto isso, no Brasil reina o jeitinho de que com o mínimo de esforço podemos alcançar grandes objetivos.

Os verdadeiros caminhoneiros, pais de família que trabalham em condições precárias e buscaram legitimamente a obtenção de seus direitos, foram atendidos e agora se sentem acuados frente a um movimento paralelo que se infiltrou a fim de obter vantagens na manifestação já instalada. É um verdadeiro caos que só nos leva cada vez mais para o fundo do poço em que já estamos.

O brasileiro deve, antes de mais nada, aprender a escutar, pesquisar e entender a dinâmica do mundo. Ser um povo consciente e honesto é premissa básica de toda nação que se preze. O que estamos vendo é uma guerra em que ao invés de minar as forças do inimigo, os guerreiros atuam diminuindo as suas próprias. É como estar num barco de madeira, retirando pedaços do casco e atirando no barco ao lado na esperança de que com o peso extra de madeira acumulada, o inimigo venha a afundar. No entanto, sem perceber já ter retirado tantas lascas de sua embarcação, que não restou se não uma tábua onde poderá se agarrar enquanto deriva no oceano de sua própria ignorância.

É redundante dizer que o problema do país é cultural, porém, é sempre necessário. Enquanto não nos tornarmos uma nação inteligente e com princípios, continuaremos sendo feito animais selvagens: gritando, batendo cabeça como bodes raivosos para no fim das contas continuarmos sendo aprisionados em currais, onde poderemos lamentar a nossa falta de dedicação em aprimoramento pessoal e intelectual e o peso na consciência decorrente de nossas atitudes, sejam elas aceitas ou não pela maioria.