Histórias do RAMAL DE PEQUERI A MAR DE ESPANHA – por Vantuil Marconato, ferroviário pequeriense

A página otremexpresso teve a honra de conversar com o Sr. Vantuil Marconato, “Sr. Guilú” – único ferroviário morando em Pequeri – que trabalhou por 30 anos na Ferrovia, tendo entrado para a E. F. Leopoldina em 1963 aos 21 anos (vinte e um anos), onde começou trabalhado na Manutenção da Linha na Equipe da Via Permanente, passando a Contra Mestre de Linha e depois a Encarregado – Assistente de Via Permanente, aposentando aos 51 anos em 1993 pela RFFSA.

Para ilustrar as histórias de Vantuil Marconato, este espetacular registro fotográfico de um acidente ocorrido em 1921: “Descarrilamento e tombo da Loco 156. Trem 126. Dia 24/3/1921. Kº 12 do Ramal de Mar de Espanha, MG.” E lá estavam os trabalhadores da Via Permanente junto à Equipe de Socorro

Hoje com 82 anos, Sr. Vantuil nos trouxe belos e históricos relatos:

Falou-nos de seu pai, Plínio Marconato, que também foi ferroviário trabalhando 39 anos no Ramal de Mar de Espanha, nos tempos em que a família morava na roça, no Lima – era lá que ficava a Casa de Turma de Pequeri – onde nasceu. Mudaram-se para a área urbana de Pequeri quando Vantuil ainda era pequeno, para que ele pudesse estudar. Passado alguns anos mudaram-se para Santa Helena, onde ele entrou para a E. F. Leopoldina, voltando para Pequeri após finalmente poder comprar sua casa.

Sr. Vantuil entrou para a ferrovia trabalhando em Pequeri, onde ficou por 10 anos trabalhando no trecho da Linha principal – Linha de Caratinga, percorrendo a pé grandes distâncias, seja sentido à Santa Helena ou sentido à Sossego; e no Ramal de Mar de Espanha, que era percorrido a pé, de ponta-a-ponta, ida e volta.

Recordou seus primeiros tempos de ferrovia, quando dois homens andavam a pé pela linha, um de um lado, outro do outro, marcando as peças danificadas enquanto outro seguia com uma agenda anotando tudo que precisaria ser trocado. Observavam detalhadamente trilhos, dormentes, pregos e as chapas onde prendiam os trilhos com os pregos nos dormentes.

Naqueles tempos, para a troca das peças e fixação dos trilhos nos dormentes, tudo era feito à mão: “Ainda não existia a brita. Os dormentes eram apoiados na terra mesmo! Depois é que apareceram as máquinas e a brita.”

Percorriam todo o trecho a pé.  Iam e voltavam andando cerca de 12 km’s por dia de serviço observando tudo detalhadamente. Não tinha trole para este serviço. Quando chegavam, fazia o mapa no escritório e mandavam para a “Residência”. Muito depois é que apareceram as máquinas e ferramentas! 

Lembrou-se da dificuldade para subirem de Trole a serra de Sossego para Pequeri numa turma composta de 12 homens, 13 com o Feitor: “todos tinham que empurrar o Trole na grande subida, não dava para “tocar” na vara. Era a turma toda empurrando para subir até chegar à Caixa d’água no Lima, aí era só descida até Pequeri.”

Foto aérea de Pequeri em 1969 vendo-se a segunda e atual Estação em destaque, tempo em que o Sr. Vantuil ainda trabalhava na via permanente

Disse que também existia uma Equipe de Ronda, que percorria o trecho também à noite com as antigas lanternas – as cambonas.

Lembrou-se da história de um guindaste que estava atendendo um acidente ocorrido próximo à Caixa d’água de abastecimento das Locomotivas, que existe até os dias de hoje 5km sentido à Sossego, no ponto mais alto deste trecho, onde a linha seguia de Pequeri em subida até a Caixa d’água para, de lá, iniciar a grande descida até Sossego. Não soube dizer o que aconteceu exatamente, mas o guindaste disparou descendo solto e desgovernado de volta para Pequeri, atingindo uma Máquina a Vapor que estava estacionada na Estação, entrando com “aquele bico” literalmente rasgando a Máquina de fora a fora. Segundo Sr. Vantuil, a descida era tão forte que a equipe de manutenção vinha sobre o trole sem precisar das varas: “O Trole descia sozinho.”

As ferramentas da equipe ficavam na garagem, encostada na Casa de Turma, no Lima, em direção a Sossego. Disse que hoje ela não existe mais, restando apenas a Caixa d’água.

Recordando seus tempos de ferroviário, disse: “meu trecho de trabalho era até o pó de pedra, pra cá do cemitério, onde tinha uma placa de quilômetro ali, a gente fazia de Santa Helena até a placa. A turma de Pequeri fazia dali prá cá. Quando tinha um serviço maior, uma turma ajudava a outra. A gente usava o arco de pua para furar os dormentes. Depois que apareceram as máquinas de furar dormente.”

“Para trocar os dormentes que eram trazidos de trem, eles eram descarregados e empilhados na beira da linha, a gente colocava no trole e ia levando até onde ia fazer a troca. Dormentes muito pesados, Aroeira pura. Dormente bom era de Braúna e de Aroeira. Houve um tempo que passaram a trazer dormentes de eucalipto roliço, a gente tinha que acertar ele para colocar certinho na terra. Aquilo era ruim pra caramba! Além do Ramal de Mar de Espanha, chegaram a usar dormentes de eucalipto aqui e no trecho principal também.”

Belíssimo registro de 1935, onde vemos o Trem passando ao lado da Rua Marcelino Tostes rumo à Santa Helena chegando na Praça José Flora, local onde ficava a primeira Estação de Pequeri. Como disse Sr. Vantuil…“Ainda não existia a brita. Os dormentes eram apoiados na terra mesmo! Depois é que apareceram as máquinas e a brita.”

Lembrou-se de uma vez que aconteceu uma tromba d’água na serra de Telhas, de Bicas para Rochedo, provocando uma enxurrada tão grande que arrancou mais de 500m de linha: “Aquilo ficou pendurado, um buracão enorme debaixo da linha. Juntou-se um monte de homens, a gente cavava a terra no morro perto pra ir jogando no buraco, depois tinha que socar tudo para compactar. Era “socaria” por muito tempo porque você socava, o trem passava e aquilo arriava tudo de novo.”

Disse que antes de fecharem o trecho de Três Rios a Ligação, a turma foi transferida diversas vezes, tendo trabalhado em Piraúba, Furtado de Campos, São João Nepomuceno. Depois que fecharam este trecho, ele foi transferido para Três Rios; depois para Sapucaia, Volta Grande e depois para Além Paraíba: “Equipe de via permanente era isso, cada dia mandavam para um lugar. Mas, para a época, a gente ganhava um dinheirinho bom.”

Lamentou terem acabado com a Estação de Santa Helena: “Ela não podia ter sido destruída”.

Teve um irmão ferroviário já falecido, Orlando Marconato, que também morava em Pequeri e que trabalhou na manutenção da linha do Ramal de Mar de Espanha.

Destacou que boa parte do antigo leito ferroviário para Mar de Espanha está escondido no meio do mato. Que a estrada rural de hoje não percorre todo o antigo leito ferroviário: “Existia um mapa da linha do Ramal. Com ele seria possível identificar o antigo leito ferroviário.”

Lembrou-se de outros ferroviários de Pequeri: “o Corrêa; o feitor José Fernandes; o agente de Estação Plínio – o Plínio da Estação – que gostava de uma caçada; e o José de Andrade, chefe da Estação.”

Destacou a importância da Fábrica de Pó de Pedra naqueles tempos: “Tem uma fábrica de pó de pedra ali na Praça José Flora que, por um tempo, chegou a ter um desvio ali, onde ficavam vagões estacionados para carregar de pedra.”

Este desvio era exatamente onde existiu a primeira Estação de Pequeri.

Belíssimo registro de 1935, onde vemos o Trem passando ao lado da Rua Marcelino Tostes rumo à Santa Helena chegando na Praça José Flora, local onde ficava a primeira Estação de Pequeri. Como disse Sr. Vantuil…“Ainda não existia a brita. Os dormentes eram apoiados na terra mesmo! Depois é que apareceram as máquinas e a brita.”

Outra lembrança importante do Sr. Vantuil: “Nos últimos tempos do Ramal de Mar de Espanha, o Trem do Ramal na verdade saía de Bicas, passava por Pequeri e ia para Mar de Espanha. Ao chegar a Pequeri, o Trem esperava o outro vindo de Três Rios para, em seguida, o guarda-chaves virar a chave e o Trem seguir para Mar de Espanha.”

Lembrou-se também da garagem de Trole que existia ao lado da casa de Turma de Santa Helena.

Que o Sr. Vantuil lembre ou conheça, além dele, não tem mais ferroviários que trabalharam em Pequeri morando na cidade.

Sr. Vantuil saiu de Pequeri transferido para Três Rios na mesma função, sempre percorrendo grandes trechos de linha. Depois de alguns anos em Três Rios foi transferido para Volta Grande. Andava de Volta Grande, para um lado até Cataguases e, para outro, até Recreio. Lembrou que neste período, já eram as empreiteiras que faziam o serviço de troca e manutenção das peças que a equipe havia identificado como necessidade de troca. Uma das coisas que o marcou neste trecho era que, de Abaíba para Recreio, o Trem subia muito para logo depois pegar uma grande descida até chegar a Recreio.

De Volta Grande, foi transferido para Além Paraíba, onde finalmente aposentou: “Ficava em Além Paraíba a semana toda! Tinha sábado que vinha, tinha sábado que não vinha, pois não dava tempo. Às vezes descarrilhava trem e tinha que ficar por lá mesmo.”

Em todo este tempo de trabalho sempre fez parte da equipe que andava pela linha identificando e marcando as peças que precisavam ser trocadas informando à equipe da Residência, que mandavam o material para fazerem o serviço de troca e manutenção das linhas.

Enfim…

Essa é a bela e riquíssima história do Sr. Vantuil Marconato, um grande ferroviário de Pequeri!

Fonte: O TREM EXPRESSO

ESTAÇÃO BICAS – Uma cidade que nasceu da Ferrovia, de sua Estação Ferroviária / Mais uma belíssima história

Matéria atualizada em 1º de setembro de 2023.

A antiga Estação Ferroviária, vendo-se ao lado o espaço do antigo pátio de manobras e das Oficinas que infelizmente não existem mais.
Belíssimo registro fotográfico da Estação, vendo-se o movimento na grande avenida com inúmeras casas comerciais e grandes armazéns.
Um dos mais belos registros fotográficos da ferrovia em Bicas! A chegada festiva de uma composição na cidade, onde vemos um grande número de pessoas e carros no entorno da Estação. Destaque para a grande plantação de café no morro atrás das oficinas.

A ESTAÇÃO

Estação de Bicas guarda uma belíssima história, tendo sido fundamental para a criação do Município. 

Quando a Cia. Estrada de Ferro União Mineira aqui chegou ao final da década de 1870, o local escolhido pelo engenheiro Pedro Betim Paes Leme – responsável pela construção da ferrovia – para ser erguida nossa Estação Ferroviária era conhecido apenas como “o lugar denominado Taboas”, lugar este pertencente à Villa do Espírito Santo (Guarará), distrito de Mar de Espanha. E é neste momento que é tomada a decisão a meu ver “crucial” para a existência de nossa cidade: dar à nova Estação Ferroviária o nome de “BICAS”.

Para ilustrar, destaco duas Estações de nossa região que estão localizadas bem distantes das sedes de seus municípios: Tocantins e Chiador. Mesmo estando na área rural das duas localidades, receberam seus nomes.

Aí vem a grande pergunta: e se nossa Estação tivesse recebido o nome “Villa do Espírito Santo” ou “Guarará”, Bicas existiria? Claro que não!!!  

Importante ressaltar que a chegada da ferrovia e a escolha para sediar uma Estação foi seguida de outra importantíssima decisão:

– construir também ali as futuras instalações de uma Oficina Ferroviária.

Tudo isso proporcionou ao local uma importância sem precedentes, sendo fundamental para a criação do Município. Foram tempos de desenvolvimento e pujança.

Com a incorporação da União Mineira pela Leopoldina Railway, os investimentos aumentaram. Em pouco tempo, a localidade ganhou importância e tornou-se estratégica para a empresa, com uma completa e bem equipada Oficina de Manutenção de Locomotivas e Vagões, que ficou famosa por ter uma das mais competentes equipes de trabalhadores ferroviários.  

Pela sua posição estratégica, posteriormente passamos também a sediar uma Equipe de Socorro.

Em pouco tempo, a localidade se desenvolveu e realizou o grande sonho de se tornar uma cidade. E veio a emancipação em 1923, nasce a cidade de Bicas!

Seguindo com grande visão de futuro, a Leopoldina Railway criou o LICEU, uma Escola com excelente nível de ensino direcionada aos filhos dos ferroviários.

Sempre pensando na capacitação e formação de grandes profissionais ferroviários, abriu também uma Escola Profissionalizante – o SENAI.

Comprovando a importância de nossa Estação Ferroviária, trago também trecho de uma publicação da revista carioca “O Malho” do ano de 1921 falando do Município de Guarará e de seus distritos, que destaca: “O Município é servido pela Leopoldina Railway, com duas Estações: Bicas e Santa Helena. A Estação de Bicas, que é, em exportação, a 3ª do estado, está a 7 horas de viagem do Rio de Janeiro.”

ISSO MESMO!! A 3ª DO ESTADO DE MINAS GERAIS EM EXPORTAÇÃO!!!

Enfim… grande geração de empregos com níveis salariais nunca vistos por aqui, fato que naturalmente gerou inúmeras oportunidades de trabalho nos mais diversos ramos, seja no comércio ou na prestação de serviços. 

Ou seja, se levarmos em conta o indiscutível “grande desenvolvimento de nossa cidade” no período de existência da ferrovia, conclui-se que fomos realmente “agraciados” por ela. Feliz o dia em que decidiram nomear nossa Estação Ferroviária de “BICAS”!

Sem dúvida um histórico belíssimo, que faz da antiga Estação Ferroviária de Bicas uma das mais importantes e tradicionais edificações, com grande valor histórico e cultural para a cidade, importante Patrimônio Histórico que em 09 de setembro de 2023 completará 144 anos.

HISTÓRICO

Como informam todos os documentos e as cartas ferroviárias, a Estação de Bicas foi inaugurada pela Cia. União Mineira em 9 de setembro de 1879, com certeza em grande e festivo evento, além da aguardada chegada oficial do primeiro Trem trazendo as autoridades acompanhadas de grande comitiva.

 Em 1884 a Cia. União Mineira foi vendida à Companhia Estrada de Ferro Leopoldina, sendo esta vendida à The Leopoldina Railway em 1904, empresa com sede na Inglaterra que assumiu a gestão e controle de grande número de pequenos ramais ferroviários nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo até o ano de 1950, quando foi incorporada pela Estrada de Ferro Leopoldina – E.F.L.

A ESTAÇÃO HOJE
 

Na antiga Estação Ferroviária funcionam hoje a rodoviária da cidade; a loja de artesanato da Art’Bicas – Associação dos artesãos Biquenses – e o Memorial do Ferroviário Biquense, belíssimo Museu idealizado pela Professora de História Rosália Mayrink que abriga belíssimas peças, fotos, pinturas e documentos que mantêm viva a história da cidade e resgata a importância da ferrovia para o Município.

Pela Estação de Bicas passaram trens de passageiros até a primeira metade dos anos 1970, sendo o ramal suprimido – erradicado –  oficialmente somente em 1994.
A verdade é que, com o fim da ferrovia, a cidade de Bicas-MG estagnou-se. 
Como na maioria das cidades por onde a Estrada de Ferro Leopoldina passou, Bicas vive um vácuo à procura de uma nova vocação.

Por sua história e pela importância da ferrovia para nossa cidade, a antiga Estação Ferroviária – hoje Terminal Rodoviário José Croce – torna-se fundamental a sensibilidade e a atenção do Poder Público Municipal para sua constante manutenção. Um Patrimônio Histórico desta envergadura é e sempre será digna de ser tratada com extrema atenção e carinho. 
Ela realmente merece! 

Estação Ferroviária de Bicas foi fundamental para a criação da cidade… da minha cidade. Aqui nasci sendo filho e neto de ferroviários. Me orgulho de dizer que faço parte desta história!

Por tudo isso, presto minhas homenagens fazendo uma das coisas que mais gosto: fotografar, resgatar e restaurar suas antigas fotos!

A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DE NOSSA ESTAÇÃO:

Para escrever sobre a Estação de Bicas torna-se fundamental destacar o PRIMEIRO RELATÓRIO DA ESTRADA DE FERRO UNIÃO MINEIRA.  São 28 páginas de uma maravilhosa história onde o que mais despertou minha atenção foi o “Relatório do Eng. Pedro Betim Paes Leme” discorrendo sobre todas as informações dos trabalhos por ele realizados até aquela etapa da grandiosa obra. E lá na página 19, para mim, a mais importante de todas as informações: o registro de uma decisão crucial para o surgimento daquela que seria a cidade de Bicas!

Relata Pedro Betim Paes Leme:

 “…A Estação terminal dessa primeira seção, cujas obras se acham adjudiciadas, não pôde ser colocada no Arraial do Espírito Santo (hoje Guarará), como era nossa intensão e mais ardente desejo. As dificuldades desse traçado por um lado e as condições de um mais fácil prolongamento para São João (Nepomuceno), a que tínhamos que atender, por outro demoveram-nos do primeiro intento, obrigando-nos a designar para essa estação o lugar denominado Taboas (nasce Bicas).

A cerca de 2 kilometros do arraial do Espírito Santo é esse o lugar que mais se presta ao prolongamento de nossa linha, qualquer que seja a direção que nos aconselhem os estudos, a que estamos procedendo.

As grandes dificuldades da Serra das Bicas, que temos que descer para chegar a São João se multiplicariam, se não se tornassem insuperáveis com a escolha de outro qualquer ponto”.

Eng. Pedro Betim Paes Leme decidiu então construir a estação no lugar denominado Taboas, quando também foi decidido ele denominá-la “BICAS”, devida a sua proximidade à Serra das Bicas. 

Este documento pode ser visto na íntegra aqui na página acessando o link abaixo:

https://otremexpresso.blogspot.com/2016/06/primeiro-relatorio-da-estrada-de-ferro.html 

Outra prova do valor histórico e cultural da Estação Ferroviária e da própria ferrovia para Bicas é o trecho do Diário de Dom Pedro II, vol. 25, de 27 de abril de 1881(aª fa), copiado de José Carlos Barroso – Cessão Marcus Granado). Dom Pedro II andou na União Mineira passando por Bicas, em 1881:

-“(…) 5 ½ Acordei. Vou ler. Saio às 7h. Caminho conhecido até Serraria. Cheguei às 8 ¾ a Juiz de Fora. A cidade tem aumentado muito. Bela avenida com bonitas casas que devem arborizar. Almocei numa destas que é do Barão de Cataguazes. Partida do trem às 11h 10′. Nada de novo até Serraria. Aí entramos no trem da estrada de ferro da União Mineira. Percorremos 84km até o arraial – vila ainda não instalada de S. João de Nepomuceno. A estrada para subir parte da serra do Macuco tem 2 ziguezagues com plataformas. Tem 7 estações pequenas porém bem construídas conforme a aparência. Vista muito bela assim como mato viçoso de Bicas para diante. Descobre-se amplo vale fechado por altas montanhas, e perto de S. João avista-se a alta serra do descoberto de contorno original. Grande número de quilômetros a começar da Serraria passa a estrada por fazendas de café muito bem plantadas e algumas com casas feitas com bom gosto. Há interrupção de terras tão boas para voltarem estas. Vim conversando com o engenheiro Betim cuja direção inteligente e ativa revela-se no modo porque a estrada foi construída e tendo trilhos de aço, e com o desembargador Pedro de Alcântara Cerqueira Leite a cuja influência se deve sobretudo a estrada que é de bitola de um metro. (…)  

Fonte: site Estações Ferroviárias do Brasil, de Ralfh Mennucci Giesbrecht.

Veja mais detalhes e mais fotos, clicando AQUI.

LICEU OPERÁRIO BIQUENSE – A Escola Primária Quatro de Novembro – LICEU

Em mais uma viagem pelos 100 anos de Bicas trazemos hoje mais uma belíssima página de nossa história: o LICEU; a Escola Primária Quatro de Novembro.

Convido a todos para uma viagem em fotos de uma das mais tradicionais Escolas de nossa cidade que nasceu da ferrovia, criada para atender aos filhos e filhas dos ferroviários biquenses.

Desde os tempos da Leopoldina Railway e da criação das Oficinas de Bicas, sempre houve uma grande preocupação da direção da empresa em qualificar seus futuros operários, seja na criação de uma Escola Primária altamente qualificada, como na criação de uma Escola de Formação Profissional – o SENAI – que também se destacou pela excelência na formação de grandes profissionais ferroviários.

E graças mais uma vez à contribuição dos amigos da página, trazemos fotos realmente históricas da Escola que nasceu “Liceu Operário Biquense” para posteriormente se chamar “Escola Primária Quatro de Novembro”, mas nunca deixou de ser carinhosamente chamada de LICEU.

Também estudei ali, entre 1969 e 1972. Uma escola com uma metodologia de ensino tão elevada e rigorosa que quando me mudei para o Rio de Janeiro em 1973 tornei-me sempre um dos melhores alunos nas escolas públicas por onde passei naquela cidade. O aprendizado no LICEU também foi fundamental para minha aprovação no Centro de Formação Profissional do Engenho de Dentro – SENAI-RJ – em 1976.

Lembro-me do intervalo das aulas, do esperado momento do “anúncio da merenda do dia” feito pelo Sr. Chiquinho – Francisco Silvestre Machado, do Sr. Valentin Machado na organização de tudo, enfim… bons tempos…

Excelentes profissionais do ensino biquense passaram pelas salas de aula do LICEU, como a eterna Professora Maria Antonieta Silva Carvalho – a Dona Tueta, Wilma Pires, Helaine Godinho, Odete Pinho, Tereza Amorim, Marly Renaut, Dorinha e Gracinha Cúgola, Ana Marta Borges Ribeiro, Libania Penchel, Maria Helena Horaci, Ana Lúcia Lobão Fam, Margarida, Vanda Durão, Walter Lhamas Ferreira, enfim, grandes profissionais do ensino que muito contribuíram para tornar o LICEU de Bicas uma das mais renomadas e respeitadas Escolas da região.

Ao nos aproximarmos das comemorações pelo Centenário de Bicas, trago então esta singela homenagem apresentando registros em que realizei trabalho de “restauração fotográfica” e fazem parte de nosso acervo, graças à colaboração de muitos amigos e amigas que também tiveram a honra e a alegria de estudar no LICEU por alguns anos de suas infâncias.

Veja mais fotos, clicando AQUI.

A SAPOLÂNDIA – Um dos mais tradicionais Blocos Carnavalescos de Bicas

No ano do “Centenário de Emancipação de Bicas” trazemos mais uma bela página de nossa história.

Relembrando os antigos carnavais biquenses, vamos viajar nos registros fotográficos de um dos mais tradicionais Blocos Carnavalesco

s: A SAPOLÂNDIA!!!

Era sempre um dos mais aguardados blocos do Carnaval de Bicas, se destacando pela animação, pelo grande número de participantes e principalmente pela criatividade.

É só conferir nas fotos abaixo e curtir as lembranças dos grandes carnavais biquenses com a SAPOLÂNDIA!!!

Veja mais fotos, clicando AQUI

FAMÍLIA DAVID – SALOMÃO DAVID, VIÚVA SALOMÃO & FILHOS / SEM DÚVIDA, UMA BELÍSSIMA HISTÓRIA

VIÚVA SALOMÃO & FILHOS

Enunciado das notas fiscais do “Armazem de Secos e Molhados Viúva Salomão & Filhos”

Ao nos aproximarmos do Centenário do Município de Bicas e imaginando já conhecer grande parte de nossa história, eis que surge o amigo Jairo Ramos destacando novas páginas da belíssima história de nossa cidade: a histórica “saga” do Libanês Salomão David.

Este belo trabalho de pesquisa sobre a destacada família de empreendedores biquenses teve início com o biquense Marco Antônio Garcia, sendo posteriormente enriquecida com mais alguns detalhes por Fernando Amaral Ventura Júnior.

* UMA VIAGEM NO TEMPO:

Para compreendermos melhor esta riquíssima história, vamos nos reportar à década de 1890, quando muitos imigrantes começaram a chegar ao Brasil na esperança de realizar seus sonhos de prosperidade, fato que perdurou até a década de 1920.

Eis que, vindos do Líbano em 1919, chega ao Brasil a Família David, vindo direto para Bicas, um lugarejo na Zona da Mata mineira onde a agitação e o entusiasmo com a recém-chegada Ferrovia pairava ares de progresso e pujança, trazendo grandes expectativas e esperanças de um futuro melhor.

Justamente por isso, era fundamental também que procurassem se instalar o mais próximo da Estação Ferroviária. Ao redor daquela Estação era depositada toda a confiança e esperança dos novos moradores e empreendedores.

E foi neste clima que chegaram o patriarca libanês Salomão David e sua esposa grega Marianthe Popadopoulos. Também, vieram para Bicas, posteriormente, Persephone e sua filha Despna, que chegaram em 1922, vindas diretamente da Grécia, de Sokia, cidade que caiu nas mãos Otomanas exatamente junto de Esmirna, na Ásia Menor.

* A FAMÍLIA:

Salomão David Mariante Popadopoulos tiveram sete filhos homens: Eduardo David, que assumiu a firma por ocasião da morte do pai; Daudt DavidMichel David, Alberto David, Antônio David, Ângelo David e Jorge David.

Na foto acima, a família de imigrantes, onde vemos o casal com seus filhos: Eduardo David, filho mais velho, que assumiu a firma por ocasião da morte do pai; Daudt David e Michel David; Jorge David – pai de D’Anestis David – que está com uma bola na mão; no colo está o filho Ângelo David. Marianthe teve ao todo sete filhos homens, faltando nesta foto os filhos Alberto e Antônio

* EMPREENDIMENTOS.

FIRMA VIÚVA SALOMÃO & FILHOS

 

Acima, belo registro da Firma Viúva Salomão & Filhos, vendo-se ao fundo o belíssimo prédio de dois andares, onde morou Eduardo Salomão David. Abaixo, o mesmo local nos dias de hoje.

Tradicionalmente ligados ao comércio, iniciaram suas atividades criando aquela que viria a ser a sede e principal ponto de referência comercial da família, a Firma Viúva Salomão & Filhos, belo prédio comercial com uma grande variedade de mercadorias e produtos, que existia em frente à Estação Ferroviária de Bicas, no local onde hoje está situado o Supermercado Santo Antônio.

Acima, mais um belo registro da Firma Viúva Salomão & Filhos. Abaixo, o mesmo local nos dias de hoje

INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE ARROZ VS&F:

Acima, o Farmacêutico Pedro de Assis Amaral, sua esposa Felisbina Gouvêa do Amaral com seus netos em frente ao prédio da Indústria de Beneficiamento de Arroz MS&C.

Acima, a Rua Capitão Pedro Assis Amaral, vendo-se o prédio da Indústria de Beneficiamento de Arroz VS&F, destacado na foto abaixo.

Com grande capacidade criativa e atentos às alternativas comerciais que iam se apresentando, abriram uma das primeiras Indústrias de Beneficiamento de Arroz VS&F (em uma das fotos do prédio que tenho está escrito MS&C) da região, instalando-se, mais uma vez, bem próximo à Estação Ferroviária. A grande máquina de beneficiamento ficava instalada em prédio localizado na antiga Rua Santa Clara, hoje Rua Cap. Pedro Assis Amaral. Um dos destaques da empresa era a embalagem em sacos de algodão para o arroz produzido.

 

 

Acima e abaixo, “ontem & hoje” da Rua Capitão Pedro Assis Amaral, vendo-se o prédio da Indústria de Beneficiamento de Arroz VS&F na foto mais antiga.

FÁBRICA DE SABÃO SANTO ANTÔNIO VS&F:

 

 

Acima, antigo trabalho/pesquisa de uma aluna da Escola Municipal Cel. Joaquim José de Souza, destacando os empreendimentos Viúva Salomão & Filhos.

Fábrica de Sabão Santo Antônio VS&F, inaugurada em 1935, produzia grande diversidade de sabão e ficava localizada na Rua Garcia Passos. Nos dias de hoje, bem em frente ao local, está localizada uma praça que recebeu o nome Praça Jorge Salomão David.

A Praça Jorge Salomão David, construída em frente ao local onde ficava a Fábrica de Sabão Santo Antônio VS&F.

REFINARIA DE AÇÚCAR:

 

Sempre atentos às atividades comerciais que iam surgindo no Brasil, abriram também a grande Refinaria de Açúcar, inaugurada em 1938. Ficava localizada onde hoje está situada a agência do Banco SICREDI, no início da Rua Barão de Catas Altas. Ou seja: demonstrando mais uma vez a grande visão comercial, a refinaria ficava localizada estrategicamente ao lado da linha férrea, pois sua produção era tão grande que os trens da E. F. Leopoldina estacionavam seus vagões de carga bem ao lado do prédio para que fossem carregadas grandes quantidades de sacas de açúcar, que seguiam rumo ao porto do Rio de Janeiro para exportação. No início de suas atividades e por um longo tempo, era a única refinaria de açúcar na região, destacando-se como grande exportadora de açúcar refinado.

O antigo prédio da refinaria tornou-se posteriormente um espaço de grandes eventos – o antigo Barra Limpa; posteriormente ocupado pelo Frango Bar, mais conhecido como Bar do Aleluia, onde hoje funciona uma agência bancária do SICREDI.

POSTOS DE COMBUSTÍVEIS:

Acima, o antigo Posto de Combustíveis Mariante, primeiro posto de combustíveis da cidade de Guarará. Abaixo, o mesmo local nos dias de hoje.

 

Acima, a inauguração do Posto de Combustíveis São José em Bicas, também empreendimento Viúva Salomão & Filhos. Abaixo, o mesmo local nos dias de hoje.

Comprovando mais uma vez a visão comercial da família, sem se prenderem a um ou dois ramos de atividade, inovaram mais uma vez ao criar dois Postos de Combustíveis: um em Bicas, nominado Posto São José. Isso mesmo, o Posto São José que fica localizado no centro da cidade de Bicas até os dias de hoje! Seu criador e primeiro proprietário foi a Família Salomão David; o outro em Guarará, nominado Posto Mariante em homenagem à matriarca, que ficava localizado bem próximo ao centro da cidade, que hoje não existe mais.

* Ou seja, a Família Salomão foi, sem dúvida, uma das maiores e mais destacadas famílias de empreendedores de nossa cidade gerando emprego e renda para muitas outras famílias biquenses de sua época, tendo dado grande contribuição para o desenvolvimento de nossa hoje centenária cidade de Bicas.

Ao assumir os empreendimentos da família, o filho mais velho Eduardo Salomão David não só deu continuidade como desenvolveu investimentos em novas frentes comerciais, tornando-se personalidade de destaque na cidade. Morou em um belo e destacado prédio, localizado próximo à Estação Ferroviária e aos principais empreendimentos familiares, mesmo prédio onde posteriormente funcionou a primeira agência do Banco do Brasil.

Como forma de reconhecimento à grande contribuição que deu para o desenvolvimento de nossa cidade, a rua que passa em frente ao Hospital São José, no Bairro Retto Jr, recebeu seu nome: Rua Eduardo Salomão David, proposição do então Vereador José Cúgola. Presente na cerimônia de colocação da placa, o professor da Faculdade de Direito da UFJF Marcelo David – bisneto de Marianthe Popadopoulos – discursou e agradeceu à singela homenagem.

* D’ANESTIS DAVID:

Os pais de D’Anestis David – Jorge David e Julieta Bechara.

D’Anestis David em Ibitipoca, paraíso mineiro onde toma doses de brasilidade, nuances que povoam suas telas com figuras de artistas e de monumentos da arte grega.

Um dos sete filhos de Salomão David e Marianthe que também deu continuidade às grandes contribuições para o desenvolvimento de Bicas foi Jorge David

Jorge David casou-se com Julieta Bechara e tiveram os filhos Olga, Jorge, Graça, Maritcha e D’Anestis.

Assim chegamos a um dos herdeiros desta verdadeira e histórica “saga”, o biquense e grande artista D’Anestis David, filho do casal Julieta e Jorge David, neto do grande patriarca da Família, o Libanês Salomão David.

D’Anestis, pintor mineiro, radicado na Europa, há mais de 20 anos, graças à sua ascendência grega, tem trabalhos com grande sucesso de público e crítica em destacados e importantes eventos culturais, no Brasil, e em diversos países.

O prefácio de um de tantos livros de promoção das grandes exposições de suas obras de arte assim o descreve….

“Diz-se que a obra de arte é, antes de tudo, libertação e rito de passagem, nos quais o artista empenha sua experiência pessoal, para nela renascer. Saído de Bicas-MG, onde nasceu de pais gregos, veio para o Rio ainda jovem para estudar artes plásticas e ainda jovem o gênio curioso jogou-o pelas estradas do mundo, aventureiro com cavalete e pincéis na mochila.

Morou no Tibet e, fincando na paz religiosa daquelas montanhas, trabalhou sem cessar até que sua personalidade inquieta o tirasse de lá para os anos vividos sob o sol e no azul agitado das ilhas gregas, o inseparável pincel e a indomada revolta convivendo com a mitologia.

D’Anestis produziu quadros que foram expostos com grande sucesso no Museu Nacional de Belas Artes em outubro/novembro de 1998, na Exposição intitulada “Memórias do Absurdo” obras que a todos brindou com nuances entre a paz suiça de Montreux e a energia telúrica de Ibitipoca, paraíso mineiro onde toma doses de … brasilidade, nuances que povoam suas telas com figuras de artistas e de monumentos da arte grega.”

A imigração da família David, por D’Anestis David.

“Salomão David, chega a Bicas em dezembro 1919, veio na imigração. A partida da pátria mãe deveu-se a ocupação Otomana, seja no Líbano como na Grécia.

Grande empreendedor já em Haddad, Beirute; decidiu mudar-se e construir a vida no nosso promissor Brasil.

Nossa Bicas tinha o privilégio de desfrutar das Linhas da Leopoldina que a aproximava do Rio de Janeiro e outras importantes localidades em Minas.

Leopoldina Railway Company Limited, de capitais Ingleses era a maior empregadora da região, que mantinha em Bicas uma oficina de reparos de locomotivas e vagões, estabelecimento considerado de grande porte. Em 1925, a Leopoldina servia a região com o mesmo tipo de comboios de quando inaugurada a ferrovia, quarenta anos antes. Os misters da direção viviam no Rio de Janeiro e Petrópolis. Quando apareciam em Bicas, toda a população os cobria de atenções, pois os tinha como bons empregadores.

Em 1922, com a queda de Esmirna para mãos Otomanas, exatamente em setembro, toda a parte Grega de nossa família sofreu com o holocausto de Esmirna. Esta cidade era a joia da Ásia Menor, era o progresso total do comércio e exportações. Conforme carta traduzida escrita em Nova York, por nosso tio Epaminondas, dirigida à minha bisavó e minha tia Despna Papadopoulos.

Em 1927, já com sete filhos homens, nosso patriarca faleceu com uma úlcera supurada, causando grande dor à sua esposa Marianthe Papadopoulos e seus filhos.

Eduardo Salomão David, com apenas 19 anos assume a empresa do pai e a transforma com muito êxito em várias outras, seja o Açúcar Leão; Sabão Atlas e Serrano; bem como na produção de Arroz fino Amarelão. Consegue administrar a educação dos irmãos no PIO Americano no Rio de Janeiro. Assumiu muito bem o lugar de seu pai dando um verdadeiro apoio a sua família.

Nos idos de 1953 e 54, no Governo Café Filho, a empresa com grande volume de exportações de Açúcar para a Inglaterra e China, teve um grande golpe. Toda nossa produção e a de outrem que compramos para exportar em um só bloco, ficou estagnada por motivos administrativos pífios ocasionando o estacionamento dos Navios da Loyds inglesa sem carregamento do açúcar que por três meses ficou estocado no Porto do Rio de Janeiro.

Enfim, ocorreu por nossa conta o estacionamento dos NAVIOS, por três meses, ocasionando o derretimento da carga virando o porto do Rio de Janeiro um melaço total. Na ocasião o Instituto do Açucar e Álcool, o IAA, transformou toda a carga em Álcool. Nunca formos ressarcidos pelo prejuízo nem mesmo pelo Instituto do Açúcar e do Álcool. Movemos um processo caríssimo contra os mesmos e ganhamos nas duas primeiras instancias. Na terceira instancia, por motivos obviamente políticos, fomos derrotados.

Nosso prejuízo foi colossal, uma vez assumimos toda a exportação e não deixamos nenhum credor nosso sem receber. Nosso açúcar compreendia em apenas um quarto deste empreendimento.

Nunca abrimos falência, nem mesmo concordata para liquidarmos nossos prejuízos. Ficamos absurdamente sem o capital de giro para continuarmos a produção. Tudo foi afetado, inclusive a Fábrica de Sabão que cabia ao meu pai Jorge Salomão David administrar, pois era grande conhecedor da química de produzi-lo.

Bicas perdeu muito com a inatividade de nossas industrias, é o que escutei a vida toda de lembranças de nossos conterrâneos.

Referências bibliográficas: Emil Farhat em Histórias Ouvidas e Vividas.

Em 22 de novembro de 1943 o Libano foi criado como estado livre. Os emigrantes então sírios passaram a ser libaneses devido a localidade de seus nascimentos.

Todos os Gregos e Sírios Libaneses que migraram para o nosso Brasil vieram, portanto, devido a ocupação Otomana que foi desastrosa.”

Abaixo, a carta traduzida escrita em Nova York, por nosso tio Epaminondas, dirigida à minha bisavó e minha tia Despna Papadopoulos. Com a queda de Esmirna para mãos Otomanas, exatamente em setembro de 1922, toda a parte Grega de nossa família sofreu com o holocausto de Esmirna, cidade que era a joia da Ásia Menor, era o progresso total do comércio e exportações. 

 

Acima e abaixo, o cemitério de Bicas abriga os jazigos onde podemos ver a lápide de Salomão David e de demais membros da Família, registros de Fernando Amaral Ventura Júnior.