O baile que terminou antes da hora
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)
Os Biquenses que viveram os anos dourados com certeza vão lembrar as grandes festas e animados bailes realizados no Clube Biquense.
Fazia parte da programação anual do Clube a realização de bailes de carnaval, de formaturas, das debutantes, da rainha do carnaval, da primavera, etc. Os bailes sempre faziam sucesso com os salões sempre cheios.
Naquela época, eram animados por excelentes orquestras e conjuntos de sucesso… Tivemos a presença dos mais famosos, como a Orquestra Tabajara (do Maestro Severino Araújo), a Cassino de Sevilha, a Marimba Alma Latina, a do Maestro Rui Rey, a Eldorado (de São João Nepomuceno), a Orquestra Além Paraíba, o nosso querido Conjunto Copacabana (com a voz do Joãozinho do Sr. Licinho), etc.
Um Conjunto que se apresentou por diversas vezes foi o do Waldir Calmom, que fazia muito sucesso com o solovox, instrumento de teclado, com um som meio trombone, meio acordeom. Para quem não sabe, Waldir Calmom era nascido em Rio Novo e alcançou sucesso nacional com a série de 12 LPs “Feito para dançar”.
Mas, teve um baile que terminou antes da hora… Era costume do Clube a realização anual de um baile com a renda destinada a Caixa Escolar do Grupo Cel. Joaquim José de Souza. Nesses bailes, para maior sucesso financeiro, eram realizados leilões de prendas como: bolos, tortas, frangos assados, bandas de leitoas, etc, prendas essas doadas por biquenses de bom coração.
Em um dos bailes, eu e mais três amigos, fazíamos parte de uma mesa e era de nossa intenção arrematar a banda da leitoa para degustar no final do baile. Consultamos a nossa situação financeira e, somando todo o dinheiro que tínhamos no bolso, dava a importância de, equivalente em moeda atual, o valor de R$ 145,00. Ficamos animados, tendo em vista que bandas de leitoas nos leilões da época atingiam no máximo R$ 100,00.
Na metade do baile, foi iniciado o leilão! Lançamos R$ 20,00, mas ao lado de nossa mesa, tinha uma ocupada por 4 boiadeiros, que tudo indicava, estavam com a mesma intenção nossa, pois eles cobriam as nossas ofertas a tal ponto que fizemos até o nosso limite: R$ 145,00. Nesse ponto eles ofereceram R$ 150,00 e o leiloeiro bateu o martelo.
Um deles foi até a mesa das prendas, pagou, pegou a leitoa, ao passar por nossa mesa disse: “Olha aí seus pés raspados, não vão sentir nem o cheiro.” Em seguida, um deles arrancou um pé da leitoa e, virando para nós, disse: “Vocês não são de nada… Olhem com os olhos e lambem com a testa”.
Nessa altura, o sangue de um da nossa mesa ferveu e, num momento de fúria, foi dado um chute no pé da mesa deles. Assim, a leitoa caiu longe, saiu escorregando e foi parar nos pés das senhoras que estavam sentadas nas cadeiras em volta do salão tomando conta das suas filhas.
A partir desse momento, o tempo fechou e eles partiram para cima de nós, com socos e pontapés. No princípio, apanhamos, tendo em vista que estavam acostumados a pegarem bois no laço.
Eles, eventualmente, iam aos bailes, ao passo que nós estávamos sempre presentes. Por esse motivo, tivemos a ajuda de vários amigos… Virou uma briga generalizada, houve um grande tumulto, quase todos saíram pelas escadas e foram embora. Nessa altura, eles estavam apanhando, saíram do clube e foram embora também.
Resultado: o baile acabou e ninguém comeu a leitoa!