Ferreira da Fonseca – O falar na Fazenda da Serra
O falar na Fazenda da Serra trouxe à lembrança vidas vividas noutras paragens. As coisas mesmas, de lá e de cá. As semelhanças dr dois mundos e infâncias na roça que se uniram na vida adulta da cidade. De uma parte, a vida que veio do entorno da Fazenda da Serra. Da outra, o menino nascido numa serra que fora habitada pelos naturais Puris, criado em berço e caixote. De cá, a Pedra Branca a dar nome ao sítio ou lugar, num dos vales da Serra do Rochedo. Noutra ponta, um filho do sítio da Onça, fincado na cidade que emprestou seu nome à ferrovia que trouxe progresso para a mata mineira.
Hoje, antes de falar dos Ferreira da Fonseca, tomou corpo a vontade de lembrar, com um pouco de troça, como eram as casas dos sítios e a da fazenda com terreiro e senzala. A realidade da gente da roça. Da casa pobre e, da casa grande com vidraça na sala. Contar que na casa da roça, de sítio ou fazenda, no tempo passado, roceiro, o cuité cortado era prato e, no caldeirão reinava: angu e feijão de tropeiro. Na casa do trabalhador de eito ou, de leira, por vezes pouco mais que um catre no canto. Na da fazenda, com eiras e beira, a lembrança da senzala com humanos em pranto. Numa e noutra, da abóbora d’água se fazia cumbuca. Às vezes, cortada com arte e, sequinha. Tinha panela de ferro e caneca de lata batuta, formando o todo ou, os únicos trens de cozinha.
Lembrar que nos mundos das duas crianças, cercando pequeno lenheiro em brasa, havia três pedras a formar uma trempe no chão. Sobre elas, o tacho de cobre, pretinho, pretinho, a ferver o sabão. Bica de bambu apoiada em esteio a trazer a água da mina em constante derrame. Água pura, cistalina, que sem muito rodeio, era colhida em moringa ou bebida na folha de inhame.
O conceito de luxo, era a roupa de missa, a caneca esmaltada, de ágata azul, verde ou marinho. O prato de louça e vez por outra, coisa enlatada. Talher sem ferrugem, chávenas, toalha e lençol, tudo limpinho, aguardando visita. Arco perfeito no coador de flanela. Cafeteira banhada em estanho. Água filtrada e fervida em chaleira ou panela. E o café, secado no terreiro de antanho. A roupa clara, de linho ou de brim, lavada na bica e quarada no capim. Passadeira à tardinha, roupa a engomar e o ferro-de-brasas com fagulhas a soltar.
Aqui ou alhures era assim. Nos sítios e fazendas da várzea ou da serra, tudo igual. Idênticos e inesquecíveis fatos e trecos. História que encanta quem canta o passado, acompanhado pela Banda da Serra ou, pela lira leopoldinense, do saudoso maestro Manoel Reco-reco. Quanto aos Ferreira da Fonseca, assunto dos artigos das últimas quinzenas neste Jornal, é só escolher o sítio ou fazenda. Tudo eera igual. Diversos, tão somente os endereços, como se verá.
ANTONIO FERREIRA MARTINS (DIM), o pai, como se sabe fundou a Fazenda da Serra, casou-se com Luiza Maria da Conceição, em primeiras núpcias e, em segundo matrimônio, com Maria do Carmo Pires Leite. Ali viveu e criou filhos, todos do primeiro casamento, que seguiram profissão semelhante.
O primeiro deles, Antonio Ferreira Martins Junior, bandeou para os lados de Rochedo de Minas (MG) e por lá foi proprietário da fazenda São Domingos. Casou-se com Henriqueta Martins Soares Henriques e, em segundas núpcias, com Ana Braz de Mendonça (Nicota).
Avelino (Martins) Ferreira da Fonseca, o segundo, tinha apenas uma cerca de arame a marcar os limites com as terras de seu pai. Casou-se com Christina Jacintha da Conceição e criou sua família na fazenda da Boa Vista da Serra, destacada produtora de café e outros cereais no atual município de Maripá de Minas.
Reynaldo Ferreira da Fonseca foi casado com Ana Maria (ou Ana Tereza) de Jesus, carinhosamente tratada por Sinhana. Certamente residiu nas proximidades de Maripá de Minas, onde vive e presta relevantes serviços o seu bisneto, Leonardo Ferreira da Rocha.
Virgilina Maria da Conceição, a quarta filha de Antonio Ferreira Martins e Luiza Maria da Conceição, casou-se com Domiciano José de Souza e também, viveu em Maripá de Minas onde deixou grande descendência.
Firmino Ferreira da Fonseca e mais dois irmãos do sexo masculino, faleceram antes de 1890, conforme anotação no Boletim do Recenseamento da População de 31.12.1890 do distrito de Maripá, documento localizado no arquivo da Fazenda da Serra.
Laudelina Maria da Conceição era casada com Antonio Francisco de Souza que, segundo consta, tinha o título de coronel, conforme documento assinado por seu pai, encontrado no arquivo da Fazenda Serra. Não se tem ao certo onde viveu, mas tudo indica que terras em Maripá eram o seu endereço.
Leopoldina da Costa Mattos, a filha caçula, foi casada com João da Costa Mattos e, em segundas núpcias, com João dos Santos. Dela, principalmente o ramo familiar de seu filho Quintino da Costa Mattos se tornou bastante conhecido. Porque a ele foram adjudicadas terras e a sede da Fazenda da Serra quando da partilha no inventário de sua avó Luiza Maria da Conceição. Mas principalmente porque sua fazenda era uma das mais importantes do município e, também, pelo envolvimento de Quintino com a vida política e social da cidade.
Por hoje a história fica por aqui. No próximo encontro ainda se falará de Ferreira da Fonseca. Até lá.