Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)
Para falar do saudoso “CINE THEATRO SÃO JOSÉ”, basta apenas dar uma volta no tempo e deixar-se ir pela imaginação para poder resgatar esta nostalgia, bem lá do fundo do túnel, para que possamos viver um pouquinho dessa fantástica fábrica de “faz de conta” que é, e que foi o nosso querido e inesquecível cinema de Bicas. Quanta lembrança nos traz os lindos momentos que o cinema de Bicas nos proporcionou. A televisão na época, anos 1960, era privilégio apenas dos bens sucedidos, financeiramente. Essa regalia ainda demorou por um bom tempo para chegar às casas dos menos favorecidos.
E, assim, eu como tantos outros da minha idade, fomos sem dúvidas os protagonistas dessa magia que era curtir um cineminha, desde as inesquecíveis matinês, aos domingos, às 10 horas, como também as sessões das 18h e 20h, quase sempre lotadas. Simplesmente, por que não havia outra diversão. O entusiasmo e as novas descobertas sempre falavam mais alto, quando chegava um enorme cartaz anunciando um filme novo… Despertava a nossa atenção, e ao passarmos em frente ao cinema, acompanhávamos o Chicão a fixar os cartazes, pregando com tachinhas nos quadros fixados nas paredes as fotos, onde se via estampadas algumas cenas dos filmes. Só isso já era gratificante! Estar ali, debruçado em uma das cancelas, vendo e acompanhando, passo a passo, o trabalho do Chicão, que também pintava faixas e cavaletes com propaganda dos filmes e os levava para serem afixados em locais de movimento de pessoas. O Chicão também trabalhava nas oficinas da Estrada de Ferro Leopoldina e, nas horas de folga, consertava os nossos fuscas.
Era realmente fantástico ver as longas e pesadas cortinas se abrirem dando lugar à imagem projetada na tela branca. A projeção era um trabalho do funcionário Gote (Iguatemi Índio do Brasil), que durante o dia trabalhava na Fábrica de Calçados Almirante. Antes do início, enquanto se esperava abrir as cortinas, ouvíamos músicas suaves, quase sempre uns boleros cantados por Gregório Barrios, Pedro Vargas e outros. Como era gostoso chegar atrasado, ao som do jornal esportivo do Canal 100, onde tínhamos a oportunidade de ver um trecho da partida de futebol entre Botafogo e Flamengo, realizada na semana anterior, e ter que procurar no escurinho do cinema, um lugarzinho vago, entre uma cadeira e outra, permanecendo sempre abaixado, para não atrapalhar os que ali já estavam com os olhos grudados na tela. Pois nem sempre o lanterninha se fazia presente para nos acompanhar até o suposto assento vago.
Os eternos apaixonados namoravam sem se preocupar com o que estava sendo exibido. Bastava um estalo de bolas de chicletes para que formasse um coro, de pedido de silêncio. Quanta lembrança nos traz os casais de namorados, onde reinava o cavalheirismo, comprando os ingressos com o Dalton Retto, com o Décio ou com o Duílio. Na portaria, recebendo os ingressos, estava o Sr. Chico Retto ou o Sr. Gentil de Almeida, sócios do cinema, muito gentis e cavalheiros, sempre acompanhados de um fiscal de menor que quando tinha um caso complicado, recorria ao Delegado, Bacharel José Maria Veiga, que em poucos minutos resolvia o problema e mandava colocar uma pedra em cima.
Uma hora antes do início das sessões, formava-se uma enorme fila para compra de ingressos, que se estendia mais ou menos até o casarão do Cel. Joaquim José de Souza, onde hoje, no local, está a agência do Banco do Brasil. Também se formava uma fila para a entrada no cinema. Todos que viveram essa época foram testemunhas dos movimentos de pessoas que ficavam transitando em frente ao cinema, num vai e vem, entre o jardim da igreja e a travessia da linha do trem, no início da Rua dos Operários, o famoso “footing”, onde, quase sempre começavam os namoros.
Essas eram as emoções de um tempo, que ficaram perdidas para sempre no seu próprio tempo, talvez na esperança de que um dia alguém possa reerguer um pouquinho desse nosso passado para a nossa querida cidade de Bicas, e por que não, sonho de alguns, poderem presenciar, mais uma vez, as antigas portas do nosso “CINE THEATRO SÃO JOSÉ” se abrirem novamente, nem que seja em outro local, pois o antigo imóvel, onde funcionava o cinema, foi demolido, porque, reverenciar ao nosso passado, é uma forma de agradecer a Deus pelo presente e nos reconciliarmos com nós mesmos, o nosso futuro!