Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Nos anos 70, Bicas viveu bons momentos de lazer e entretenimento, no Bar e Churrascaria Espigão, um local onde se podia fazer refeições, tomar uma cervejinha bem gelada, acompanhada de saborosos tira-gostos, e também dançar ao som de ótimos conjuntos, que quase sempre eram acompanhados da bonita voz do Messias Leitão (Dom Pedrito), que apresentava os principais sucessos de boleros e músicas românticas daquela época. O Espigão virou um ponto de encontro dos amantes da noite e, em questão de bar, era o que tinha de melhor em Bicas e região.
A Churrascaria era localizada na Rua dos Operários, em um quintal nos fundos do Bar do Zé de Brito, um quiosque muito grande de forma arredondada, feito de madeira e muito bem construído… Era coberto com sapé. O seu fundador e proprietário foi o saudoso Agostinho Alves dos Santos.
Naquela época, o Espigão foi um sucesso, um dos primeiros a ter música ao vivo e eletrônica. Era muito frequentado pelos jovens e também por muitos casais, pois reinava muita alegria, desconcentração e respeito exigido pelo Agostinho.
O jornal O MUNICÍPIO, em sua edição do dia 09 de fevereiro de 1975, na coluna do JB, publicou a seguinte nota:
“Agostinho Alves dos Santos é o homem forte do sereno biquense, com a Churrascaria Espigão. E a curtição musical jovem é com o Conjunto CBV que, também, encontra sempre um jeito de badalar os corações já coroados.”
Eu me lembro que, nos fins de semana, eu e minha esposa Diná lá comparecíamos e passávamos bons momentos, tomávamos umas caipirinhas, cervejinhas, tira-gostos e aproveitávamos para dançar ao som de bonitas músicas.
O Espigão apresentava nos fins de semana animados shows com artistas e cantores de fama internacional e no Brasil.
Naquela época, em uma das apresentações, que nós tivemos o privilégio de participar, foi a do renomado cantor argentino Gregório Barrios. De fama mundial, com a sua voz romântica, famosíssimo, era considerado o maior cantor de boleros de todos os tempos. Seu repertório continha, entre muitas outras músicas, os sucessos: Contigo aprendi, Nosotros, Maria Bonita, La Barca, Lamento Boricano, Oracion Caribe, Dos Almas, Vereda Tropical, Frio em Alma, Palavra de Mujer, Perfídia, Díez minutos más, Anahí, Inutilmente, Luar de Ypacaraí e muitas outras.
No Espigão, também, apresentavam-se Nelson Gonçalves, Orlando Silva e a eletrônica Furacão 2000, entre outras… O Espigão deixou saudades e, quem viveu naquela época, certamente, vai lembrar do seu sucesso.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Rua Capitão Gervásio, vendo-se a Capela São Sebastião, ao fundo – Foto: Amarildo Mayrink
Em novembro de 1900, Guarará passou a ter como seu chefe político o jornalista Afonso Leite, que havia aportado na cidade, em julho de 1.898, sessenta e três anos antes de se ver envolvido na chamada “Chacina do Guarará”, por um crime do qual não participou, mas foi vítima da inescrupulosa trama engendrada por seus inimigos políticos, comandados por um Juiz de Direito desonesto.
Antes da tragédia de 15 de maio de 1960, jamais Guarará foi palco de qualquer acontecimento sangrento que pudesse macular o prestígio da comunidade de um povo ordeiro, pacífico e sempre vivendo em paz e harmonia até a publicação do Ato do Governador Bias Fortes, removendo para Guarará o Juiz de Direito da Comarca de Monte Belo, Dr. Isoldino da Silva Júnior, de personalidade não muito bem acatada, devido ao seu modo de proceder, sendo empossado nos últimos meses de 1.957. Um juiz mais político e menos juiz, marcado pela insensatez de seus atos.
No comando da política, insurgiu-se o juiz contra o tradicional chefe e ex-prefeito do município, Afonso Leite, e com ele vivia “às turras”, perseguindo seus amigos e correligionários, processando abusivamente muito deles, inclusive um Coletor da Fazenda Estadual.
A sociedade de Guarará vivia em sobressaltos e temerosa das arbitrariedades praticadas pelo desastrado e odiado magistrado, pelas piores ações cometidas contra os cidadãos da comuna que não rezavam na sua cartilha.
Em face de o juiz ter sido derrotado nas eleições de outubro de 1.958, desvestindo-se da toga, vestiu a roupagem de político sem pudor. Dominado pelo ódio e autoritarismo desenfreado, passou a atirar os munícipes uns contra os outros, por meio de ameaças, intrigas, calúnia e infâmias, acabando de se incompatibilizar com quase a totalidade da população guararense.
Assim começou a tragédia
Era conhecida a decisão o Egrégio Tribunal de Justiça, que havia punido o juiz Isoldino, por duas sérias infrações no exercício do seu cargo. Visando demonstrar o respeito ao povo de Guarará que o Poder Público Municipal, por seus representantes mais legítimos, não descurava na procura dos meios legais para afastar da comarca o indesejado juiz, que vinha perturbando a paz e a tranquilidade da vida municipal, o prefeito, vice-prefeito e o Presidente de Câmara Municipal publicaram um folhetim intitulado “Sem Comentários” em que as três autoridades municipais apenas transcreveram “ipsis verbis” duas Certidões extraídas da Corregedoria de Justiça condenando a pessoa do juiz Isoldino pelos fatos ocorridos.
Quando tomou conhecimento da existência dos boletins, que já estavam sendo espalhados pela cidade, o juiz e sua mulher traçaram um plano diabólico contra a vida do coronel Afonso Leite e disseram que tinha a sua disposição cinquenta homens para efetuar a tarefa ordenada, pois teriam que acabar com aqueles folhetins na cidade, mesmo que fosse necessário correr sangue.
Na manhã do dia 15 de maio de 1960, o coronel foi avisado que a dona Elizabeth, esposa do juiz, dizer que dispunha de 50 homens para atacar sua casa às 17h30. O coronel tomou providências com as autoridades (prefeito, delegado de Polícia etc). O delegado, como medida preventiva, determinou que o Destacamento Policial montasse Guarda na Praça do Divino, em frente à residência do coronel, a partir das 12h daquele dia. Um dos capangas do juiz dizia que aquele seria o “último dia vida do coronel Afonso Leite, pois a sua casa seria atacada pelo dr. Isoldino e seus capangas. Ao aproximar-se a hora marcada, ou seja, aos dezessete e trinta minutos, um após outro vinha e se colocava em frente ao Bar do sr. José Abrahão, ao lado da Rua Tiradentes, e em frente à casa do coronel, os demais, trinta ou quarenta dos asseclas do juiz, vinham com ele e sua esposa no tempo oportunamente combinado.
Informados de que o sr. Afonso e seus amigos estavam no referido bar, armados com revolveres e facas. Um dos capangas do juiz saca de uma faca e fere o prefeito, sr. Marcos de Souza Rezende pelas costas. Felizmente não foi muito grave e ele se recuperou. Daí para frente, começou o tiroteio, que só terminou quando acabaram todas as munições e teve como resultado a morte do juiz Isoldino, de sua esposa, Dona Elizabeth e de um capanga do juiz, de nome José Arcanjo. Doze pessoas foram feridas à bala ou com arma branca (faca). O delegado já havia se comunicado com os seus superiores, isolado os cadáveres e providenciado socorro aos feridos.
Do processo
O juiz da pronúncia, depois de discorrer, a seu jeito, sobre a atuação de cada um dos denunciados, sempre no diapasão do relatório oferecido pelo delegado do inquérito, e acatando o entendimento da denúncia do MP, o julgador pronunciou os denunciados, transferindo, como de lei, o julgamento a ser proferido pelo Tribunal do Juri da Comarca de Juiz de Fora, de competência legal, deferida para decidir o caso em espécie. No primeiro julgamento, em 20/2/1961, os acusados foram condenados com penas rigorosas: 1 réu a 36 anos de reclusão, 1 a 27 anos, 3 a 19 anos, 1 a 10 anos e 1 a 7 anos de reclusão.
A defesa, para lograr um julgamento imune de paixões interessadas, não vacilou em impetrar à Instancia Superior os recursos legalmente admissíveis. O primeiro julgamento do Primeiro Juri foi anulado, em razão de irregularidades cometidas pelos jurados. Obstinadamente, a acusação sempre apelou das absolvições de qualquer dos réus, nos diferentes julgamentos a que foram submetidos. Essa novela se desdobrou em tantos capítulos, que teve a duração de sete anos consecutivos, desde o dia 20 de fevereiro de 1960, quando foi realizado o primeiro Júri, até a data de 11 de maio de 1967, que ficou marcada, historicamente, pelo reconhecimento da inocência dos réus, sem mais apelo, da existência de um Direito conspurcado desde a primeira hora pelos verdadeiros destruidores da imagem da Justiça.
A providência Divina, que a tudo assiste, e é mais pura e solidária do que a inconfiável Justiça dos homens, abriu para aqueles réus a estrada larga da compreensão e da sabedoria para que os injustiçados obtivessem a recuperação de uma liberdade por mais de seis anos perdida, e que havia sido produzida pela maledicência do despeito, da desfaçatez e da ambição política, que via de regra não tem limite na sua atuação e que nunca é proveitosa para a própria sociedade. Que o exemplo fique para aqueles que, servidores ou não da Justiça, possam aproveitar. Obs.: Por uma questão de respeito não mencionei os nomes dos réus.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Pracinhas eram os soldados, veteranos do Exército Brasileiro, que foram enviados para integrarem as forças aliadas contra as forças do Eixo, na Segunda Guerra Mundial, iniciada em setembro de 1939 e terminada em agosto de 1945. Essa guerra ceifou a vida de cerca de 55 milhões de pessoas.
Por fazer parte da aliança com os Estados Unidos, os alemães afundaram vários navios brasileiros, causando grandes prejuízos ao nosso país, e a morte de muitos compatriotas. Por esse motivo, o governo brasileiro, em agosto de 1942, decidiu participar das forças aliadas, e a partida do primeiro navio brasileiro para a Itália se deu apenas em 02 de julho de 1944. A demora em enviar tropas visava, justamente, a formação de um corpo militar.
Aproximadamente 25 mil homens fizeram parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou junto aos Aliados na Campanha da Itália. Dessa forma, em torno de 1500 brasileiros foram mortos na guerra (cerca de 450 morreram em combate).
Eu me lembro que, em 1945, com 7 anos, os meus pais me levaram para uma cerimônia cívico -religiosa, que o vigário da época, Padre Francisco Maximiano de Oliveira, em um ato de solidariedade, homenageou a mãe do nosso conterrâneo, Sargento José Carlos da Silva, que foi morto em combate na Batalha de Monte Castelo, na Itália, doando a vida em defesa da Pátria.
Na foto, os pracinhas biquenses que merecem a nossa homenagem pelo muito que fizeram e contribuíram pela vitória das Forças Aliadas:
Após o término da 2ª guerra mundial, em maio de 1945, foi realizada em Bicas grande festa cívica em homenagem aos pracinhas de nossa cidade que participaram das batalhas de Montese e Monte Castelo.
Entre eles: Alibert Adib, Sinval Ribeiro de Castro, Sebastião Soares, Juquinha de Castro (Pequeri), José Jorge da Silva e Heitor Rocha, que sobreviveram e retornaram ao Brasil. Ó Sarg. José Carlos da Silva e o Tenente Belfort Arantes (Pequeri), lá serviram e morreram.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Vamos voltar ao passado e lembrar de nossos antigos barbeiros, aqueles da época das navalhas “Solinger”, que eles amolavam e afiavam na presença do freguês. E, para isso, usavam uma pedra própria e um pedaço de madeira macia; logo após, conferiam o corte, passando o fio da navalha na unha dos seus polegares esquerdos.
Os mais antigos guardam na retina a figura do barbeiro de pé diante do espelho de sua barbearia, afiando a navalha com habilidade e em gestos cadenciados, com a calma de um religioso e a espiritualidade de um bom contador de casos.
Pronta a navalha, sacava da gavetinha a torturante máquina manual de cortar cabelos, aquela que arrancava mais do que propriamente cortava. E pior ainda, quando a título de higienizar a região trabalhada, vinha com a mão cheia de álcool e esfregava sobre os ferimentos… os fregueses quase desmaiavam de tanta dor.
Às vezes, usavam um recipiente spray, com uma bola de borracha para espirrar o álcool; depois, para aliviar a dor, pegavam uma pequena botija de borracha abastecida com talco e borrifavam a pele do freguês.
O barbeiro é como um mago das tesouras e navalhas, capaz de transformar uma simples juba em uma obra-prima. Além disso, ele é um confidente… Alguém em que se pode confiar para compartilhar segredos e desabafos, e também ouvir e contar fofocas.
Fazemos aqui uma homenagem, ainda que singela, e sujeita a esquecimento, aos antigos barbeiros de Bicas. Partindo da Rua do Bonde, tínhamos o Sr. Luiz barbeiro, que também prestava serviços de afiar tesoura e facas (ele tinha como passa tempo uma criação de passarinhos)… Chegando na Rua Cel. Souza, tivemos a barbearia do Zanone, do Agostinho dos Santos, do Sr. Jacks Soares (pai) e Jacks (filho); o Wantuil, o Sr. Jorge Sarto, o Zambone e o Alberto barbeiro (Moleque).
Na Rua dos Operários, tivemos o Sr. Jovelino, o Tute, o Sebastião Maluco, e seu irmão Luizinho, o Januário, o João da Malvina, o Vicente dos Santos (Chacrinha); na Rua Capitão Pedro Assis Amaral, tivemos a Barbearia São Jorge, do Sr. João Bello, muito conceituada, que também contava com o barbeiro Sr. Alípio.
Tivemos também o Sr. Juquinha, ao lado da Farmácia Rezende. Logo depois da refinação de açúcar, em frente a Maçonaria, na rua de baixo, o Mário barbeiro… Seguindo para o Tira Couro, tinha a barbearia do Sr. Jair de Dona Malvina e, mais a frente, o Sr. Cornélio. Na Rua Santa Tereza, depois da casa do Dim Motta, tinha uma barbearia, muito frequentada, mas não lembro o nome dos barbeiros.
A esses ilustres barbeiros que, naquela época, foram responsáveis pela boa aparência dos biquenses, a nossa homenagem e o nosso respeito pela importante profissão.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
A agência dos Correios em Bicas funcionou durante muitos anos em uma casa situada na Rua Barão de Catas Altas, ao lado da antiga Farmácia Rezende e de frente ao Clube “O Paladino”, que era muito atuante naquela época, com a realização de famosos bailes.
Na referida agência, funcionários e telegrafistas muito queridos e eficientes prestaram serviços, dentre eles, lembro-me de alguns como o Sr. Gumercindo Silva e sua esposa, Dona Mariana; do Sr. João Xavier; do José Maria Xavier; da Dona Conceição; do José Galil (Zuza); do João Marques; do Sebastião da Costa Moura; do Carlos Augusto Machado Veiga e de outros que não me recordo mais os nomes. Também, tinham eficientes carteiros, como o Sr. Crispim, muito alegre e muito querido pelos biquenses.
Os Correios da época tinham por finalidade transportar fisicamente cartões postais, cartas e encomendas, sendo, também, prestador do serviço de telegrama, que era uma mensagem urgente e confidencial, transmitida eletronicamente, impressa e auto envelopada. Após o devido acondicionamento, o telegrama era entregue no endereço do destinatário. Hoje em dia pode-se enviar “telegrama” via internet.
Os telegramas eram enviados por meio do Telegrafo, que foi uma das primeiras formas de comunicação à distancia e sua história remete ao século dezoito… Foi um aparelho de comunicação muito importante nos séculos dezenove e vinte, que permitiu que informações fossem transmitidas a longa distância, de maneira rápida e eficiente, revolucionando a comunicação em todo o mundo.
Apesar de sua importância, o Telegrafo ficou ultrapassado, com a popularização do telefone, durante o século vinte. Mesmo assim, sua invenção e desenvolvimento foram fundamentais para a criação de outras tecnologias de comunicação que utilizamos atualmente como a internet, que alguns estudiosos acreditam que foi um marco importante e decisivo na evolução tecnológica. Isso por que ultrapassou barreiras ao aproximar pessoas, culturas, mundos e informações.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Sabemos que as Estradas de Ferro tiveram importante papel histórico na formação e desenvolvimento de certas regiões. É importante enfatizar que a Ferrovia promoveu um desenvolvimento econômico na região, contribuindo para facilitar o transporte da produção cafeeira, leiteira, pecuária e passageiros.
A história do trem de ferro em nossa região começou no ano de 1879, quando o engenheiro encarregado da obra e de colocação dos trilhos foi o Dr. Pedro Betim Paes Leme, o nome da Estrada de Ferro era União Mineira, que, em 1898, por dificuldades econômicas e falta de pagamento aos credores Ingleses, a The Leopoldina Railway encampou a citada Ferrovia.
A sorte de Bicas
O projeto original da Ferrovia previa que os trilhos deveriam partir do Povoado de Santa Helena, seguir em direção a cidade de Guarará e de lá para Rochedo de Minas; mas, tendo em vista que um grande fazendeiro do município de Guarará, que nem com uma boa indenização, permitiu a colocação dos trilhos em sua propriedade.
Dessa forma, o engenheiro não teve outra alternativa a não ser alterar o projeto, e de Santa Helena desviou o trajeto em direção ao Arraial das Taboas (Bicas), seguindo para Rochedo de Minas.
Essa alteração no projeto original acarretou aumento na quilometragem e nos custos da obra, mas foi a única saída. Não fosse a atitude do referido fazendeiro, hoje Bicas não seria essa cidade bonita e desenvolvida, e sim um pequeno Distrito de Guarará.
Fonte: Informações de um Sr. idoso estudioso e apaixonado por ferrovias
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Até a década de 30, em Bicas, o transporte de passageiros era feito por trens, até que, no princípio dos anos 40, o Sr. ANTÔNIO DE PAIVA SANTOS, que era mais conhecido como Sr. Tonho, teve a ideia de iniciar o transporte rodoviário entre Bicas e Juíz de Fora.
Na foto, um dos primeiros ônibus que iniciaram a frota da Viação Santos… Eram veículos de mecânica forte, pois tinham que enfrentar estradas de péssimas condições, de Bicas a Juiz de Fora.
O trecho era de terra, a viagem durava duas horas e, em caso de chuva, levava mais tempo, pois o Sr. Tonho parava o ônibus no pé da serra do Bairro Floresta e colocava correntes nas rodas de trás para subir sem atolar.
Nossa homenagem ao Sr. Antônio de Paiva Santos, já de saudosa memória que, graças a sua visão e coragem, viu realizar os seus sonhos e, com a sua iniciativa, deu início à frota da Viação Santos, que muito serviço prestou à população de Bicas e redondeza.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Há alguns anos atrás existia uma lenda de que em noites enluaradas apareciam fantasmas embaixo de uma árvore que ficava na beira da estrada, há uns 2 quilômetros, depois de Bicas, em direção a Santa Helena. Uns falavam que era o Lobisomem, outros que era a Mula sem cabeça e alguns diziam que era o Saci-pererê.
Eu me lembro que, juntamente com outros meninos da Rua Garcia Passos, não tínhamos medo de nada, a não ser passar por baixo da referida árvore. Fazia parte de nossas travessuras, nos fins de semana, nadar em um açude, há uns 3 quilômetros da referida estrada. Ele ficava numa propriedade que não me lembro se era do Sr. Ranulfo Schetino ou do Sr. Gentil Correa de Almeida, mas o proprietário não se importava com a nossa presença. Para chegarmos até o açude, tínhamos que passar por baixo da árvore, o nosso maior desafio. Passávamos correndo e sem olhar para trás.
A Igreja Assembleia de Deus, que tinha um salão na nossa rua, usava o açude para a realização dos batismos de seus fiéis. Eu me lembro que não perdíamos nenhuma cerimônia dos batismos. Para nós era um divertimento… O pastor submergia os batizandos na água e logo após os emergia. Eles saiam engasgados e soltando águas pelas narinas, muito assustados e apavorados.
Quanto à árvore mal-assombrada, atualmente, com o asfaltamento da estrada, não sei se ela ainda está de pé, e se a lenda persiste.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Em Bicas havia uma tradição no mês de maio: “Os festejos da Igreja Matriz”, pois é o mês de Nossa Senhora. Era uma festa muito bonita. Eu mesmo participei de muitas. Havia sempre uma festeira que preparava e organizava toda programação que acontecia do dia primeiro até o dia 31 de maio.
O ritual mais importante dessas festas era a coroação de Nossa Senhora. Para isso eram escolhidas as meninas que iriam participar. Todas as noites, após a reza (uma pequena missa), as meninas iam em um cortejo muito bonito, vestidas de anjo com as assas bem grandes… tudo muito branco, roupas longas. O anjo que iria coroar Nossa Senhora seguia à frente carregando a coroa. Era muito bonito assistir aquele momento de tanta beleza e fé. Essas não escondiam a euforia e ansiedade pelo momento da distribuição das sacolinhas de doces e cartuchos de amêndoas, que acontecia logo após a celebração.
No momento em que colocavam a coroa sobre a cabeça da Santa, os sinos badalavam, fogos coloridos brilhavam no céu e a banda fazia-se ouvir com grande entusiasmo. Depois, continuavam a tocar no coreto, ao lado da Igreja, músicas populares da época.
Acontecia, também, em uma barraca ao lado do coreto, um muito animado e concorrido leilão de prendas, doadas pelos fieis, que tinha a finalidade de angariar fundos para obras da Igreja. Era muito divertido! Também, tinha outra barraca com sorteios feitos por porquinhos da índia que escolhiam uma casa numerada para entrar e o apostador que comprou o bilhete correspondente ganhava o prêmio.
A barraca do leilão ficava muito cheia, e os lances alcançavam bons resultados. Ao lado, no coreto, a banda tocava, intercalando a vez com o leiloeiro, que tinha a função de leiloar as prendas doadas.
A festa do mês de maio contava com a colaboração de vários voluntários, como o Sr. José Ferreira (pai do fotógrafo Adelson), que sempre exercia a função de secretário-tesoureiro.
Já faz muito tempo que isso aconteceu… Tenho certeza de que todas aquelas crianças e adolescentes jamais se esqueceram desse pedaço de suas vidas. O tempo passou, mas as lembranças ficaram dentro de cada um de nós.
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Os circos foram, por muito tempo, uma das principais formas de lazer nas cidades do interior.
Nos fins da década de 50, e princípio da de 60, era um motivo de grande alegria a chegada de um circo em Bicas. Quase sempre eram montados num então grande terreno, situado no centro do Bairro Santana, normalmente, uma armação desmontável, coberta com uma lona. Eram destinados a espetáculos de variedades, acrobacias, com malabaristas, contorcionistas, mágicos, palhaços e outros personagens que buscam divertir e surpreender o público. O palhaço é uma figura inocente e divertida que está no imaginário das pessoas, há muito tempo.
A magia do circo nos remete a algo incrível, fazendo-nos viajar na alegria do palhaço, nas acrobacias e criatividade dos seus artistas.
Ao chegar um circo na cidade, era de costume, na véspera da estreia, fazerem um desfile com os seus artistas e os animais nas principais ruas, apresentando um bonito espetáculo. Normalmente, as pessoas saiam de suas casas para assistirem a apresentação e se manifestavam com muitas palmas. Quase sempre o palhaço ia na frente com sua perna de pau e um megafone cantando: “Hoje tem marmelada?” “Hoje tem goiabada?” Hoje tem macacada?” … e a criançada respondia: “Tem sim senhor”… Em seguida, ele perguntava: “E o palhaço o que é?” … Todos respondiam: “É ladrão de mulher”. Os leões, macacos, cachorros etc desfilavam em suas jaulas e o elefante era puxado por uma corda.
Eu me lembro que, juntamente, com outros meninos, éramos contratados pelo dono do circo para acompanharmos o desfile e fazer coro com o palhaço. Para compensar o nosso trabalho, após o término do desfile, ele fazia uma marca em nossos braços com uma tinta azul, para sermos identificados na portaria e assistirmos ao espetáculo de graça.
As apresentações ficavam sempre cheias. Para se conseguir um bom lugar nas arquibancadas, o espectador tinha que chegar cedo e enfrentar uma grande fila. Também, eram oferecidas poltronas perto do picadeiro, com um preço mais alto.
Faziam parte das apresentações: os palhaços, mágicos, contorcionistas, trapezistas, as vezes tinham o globo da morte, também, a apresentação dos animais, como leões, elefantes, macacos, cães, girafas etc. Depois da apresentação dos artistas, eles apresentavam um teatro dramático, que prendia a atenção dos espectadores, ao ponto de, no final da apresentação, muita gente ficar com lágrimas nos olhos. Às vezes, apresentavam uma comédia que proporcionava muitos risos.
O circo, na época, era muito esperado pelos biquenses. Proporcionava-nos bons momentos de distração, emoção, risos e muito suspense, com um grande silencio na apresentação dos trapezistas. Eu e outros meninos íamos durante o dia ao local, onde o circo estava armado, para vermos os animais de perto, rir das macaquices dos macacos, ver o banho dos elefantes etc, mas…. o nosso principal objetivo era ver de perto as lindas trapezistas, quase sempre filhas do dono do circo. Como foi bom ser menino naquela época.