Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário
(Tonico da Dona Minervina)
Vamos voltar ao passado e lembrar de nossos antigos barbeiros, aqueles da época das navalhas “Solinger”, que eles amolavam e afiavam na presença do freguês. E, para isso, usavam uma pedra própria e um pedaço de madeira macia; logo após, conferiam o corte, passando o fio da navalha na unha dos seus polegares esquerdos.
Os mais antigos guardam na retina a figura do barbeiro de pé diante do espelho de sua barbearia, afiando a navalha com habilidade e em gestos cadenciados, com a calma de um religioso e a espiritualidade de um bom contador de casos.
Pronta a navalha, sacava da gavetinha a torturante máquina manual de cortar cabelos, aquela que arrancava mais do que propriamente cortava. E pior ainda, quando a título de higienizar a região trabalhada, vinha com a mão cheia de álcool e esfregava sobre os ferimentos… os fregueses quase desmaiavam de tanta dor.
Às vezes, usavam um recipiente spray, com uma bola de borracha para espirrar o álcool; depois, para aliviar a dor, pegavam uma pequena botija de borracha abastecida com talco e borrifavam a pele do freguês.
O barbeiro é como um mago das tesouras e navalhas, capaz de transformar uma simples juba em uma obra-prima. Além disso, ele é um confidente… Alguém em que se pode confiar para compartilhar segredos e desabafos, e também ouvir e contar fofocas.
Fazemos aqui uma homenagem, ainda que singela, e sujeita a esquecimento, aos antigos barbeiros de Bicas. Partindo da Rua do Bonde, tínhamos o Sr. Luiz barbeiro, que também prestava serviços de afiar tesoura e facas (ele tinha como passa tempo uma criação de passarinhos)… Chegando na Rua Cel. Souza, tivemos a barbearia do Zanone, do Agostinho dos Santos, do Sr. Jacks Soares (pai) e Jacks (filho); o Wantuil, o Sr. Jorge Sarto, o Zambone e o Alberto barbeiro (Moleque).
Na Rua dos Operários, tivemos o Sr. Jovelino, o Tute, o Sebastião Maluco, e seu irmão Luizinho, o Januário, o João da Malvina, o Vicente dos Santos (Chacrinha); na Rua Capitão Pedro Assis Amaral, tivemos a Barbearia São Jorge, do Sr. João Bello, muito conceituada, que também contava com o barbeiro Sr. Alípio.
Tivemos também o Sr. Juquinha, ao lado da Farmácia Rezende. Logo depois da refinação de açúcar, em frente a Maçonaria, na rua de baixo, o Mário barbeiro… Seguindo para o Tira Couro, tinha a barbearia do Sr. Jair de Dona Malvina e, mais a frente, o Sr. Cornélio. Na Rua Santa Tereza, depois da casa do Dim Motta, tinha uma barbearia, muito frequentada, mas não lembro o nome dos barbeiros.
A esses ilustres barbeiros que, naquela época, foram responsáveis pela boa aparência dos biquenses, a nossa homenagem e o nosso respeito pela importante profissão.