As divertidas viagens na perua do sr. Tonho
Escrito por Antônio Santa Cruz Calvário (Tonico da Dona Minervina)
Diariamente, menos aos domingos, o sr. Tonho, fundador da Viação Santos, por volta das 6h30 da manhã, estacionava a sua perua em frente ao Bar do Embrulhão, e enquanto aguardava a hora da partida para Juiz de Fora, às 7h15, assentava em uma das mesas do bar, e enquanto tomava um cafezinho, juntamente, com o Embrulhão, e alguns passageiros, contavam piadas que, de longe, ouvíamos às gargalhadas. Os passageiros que iam chegando também assentavam em mesas e participavam das piadas. Por volta das 7h, o sr. Tonho pedia ao trocador para colocar as bagagens dos passageiros no bagageiro, que era acessado por uma escada que ficava na parte de trás da perua. Logo em seguida, o sr. Tonho solicitava aos passageiros a tomarem seus lugares, pois já ia dar a partida. Logo ao sair, o trocador cobrava as passagens dos que não haviam feito no Embrulhão.
Após a partida, o sr. Tonho ligava o rádio Motorola, que tinha um alto-falante grande afixado em cima do para brisa. Ouvíamos as primeiras notícias do dia, sempre com os comentários do sr. Tonho, além das piadas, é claro. A perua, quase sempre lotada, possuía 20 e poucos assentos e era permitido a viagem de mais ou menos quinze passageiros em pé. Pegava e deixava gente em quase todas as entradas das fazendas, entre Bicas e Juiz de Fora. A condução chegava por volta de 9h30 a Juiz de Fora e o retorno se dava às 15h45, regressando a Bicas, mais ou menos, às 18h.
Em uma das viagens, cedi o meu lugar para um senhor idoso que estava em pé, pois na época eu era jovem. Em uma das primeiras paradas, entrou uma moça com uma criança no colo coberta com uma manta. Um senhor que estava sentado em uma poltrona na frente gentilmente cedeu o lugar para a moça; tudo bem, mas ao chegar perto de um ponto em Retiro, a moça pediu a um passageiro para puxar a cordinha que ela ia descer. Ao sair, a manta agarrou na poltrona e descobriu-se que era um filhote de cachorro que ela estava levando enrolado. O sr. que cedeu o lugar para ela ficou furioso, esculhambou a moça e foi resmungando até Juiz de Fora.
Em uma outra viagem, entre os passageiros, encontrava-se o gerente do Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais, da época… Homem simples e muito estimado na nossa cidade. Lá pelo meio da viagem, o gerente disse que estava com uma tremenda dor de barriga, foi até o sr. Tonho e o pediu que parasse a perua, pois precisava dar uma descarregada. Atendendo ao pedido, o sr. Tonho encostou e parou o veículo. O gerente desceu, foi para trás da perua e resolveu o problema. Aliado, veio segurando as calças, chegou na porta da perua e, olhando para os passageiros perguntou: alguém tem um papel para me “emprestar”.
Como eram divertidas as viagens para Juiz de Fora na perua do Sr. Tonho.