Vieira e outras saudades
Zé Vieira
Que faz o coração de um homem se interessar pelos garotos de sua terra?
Que fina sensibilidade daquele cidadão, que todos os dias levava um grupo de meninos para treinar futebol sob seu comando.
Ele sabia o contentamento que seu gesto proporcionava aos jovens “atletas”. E a seus pais, pois afastava os filhos de outros caminhos menos saudáveis.
Lá pela altura de 1939, Bicas não tinha uma piscina sequer, uma quadra de vôlei, basquete, nada. O futebol era a única atividade esportiva, e JOSÉ VIEIRA, famoso ponta direita do Sport, possuía autoridade e camaradagem para ensinar.
Todos nós do Ipiranga F.C. o estimávamos e seguíamos seus conselhos sem qualquer discussão. Eram tardes deliciosas, de muito suor e horrorosas furadas… Respeitáveis pernas-de-pau eram pacientemente orientados pelo Vieira, que nunca desanimava.
Eis alguns “craques” do Ipiranga: Carlos Augusto Resende Lopes, Gilson Lamha, Edamir Abdo, Milton Cúrzio, Renato Ladeira, Luverci, Necesinho, Rubens Machado, José Maria Monteiro e o modesto escriba destas linhas.
Do Ipiranga nasceu o timaço dos “Estudantes” e vieram outros “donos” da bola, malabaristas do gramado: Ivan e Clovis Vasconcelos, Ralphinho, Iram Leite, Damião Mendes, Lita e o Gote, que a turma dizia ser estudante da Fábrica Curzio…
Ainda o vejo, quarenta anos passados, sempre disposto a iniciar novo time, sério, compenetrado,acreditando no que faz. Amadorismo puro, idealista. Conterrâneo fraterno, que faço questão de abraçar quando vou a Bicas.
Ele veio de unida e destacada família de ferroviários. O pai, Possidônio, maquinista da mais bem cuidada e reluzente locomotiva da Leopoldina. Os irmãos Jair e Nilson, este um dos grandes prefeitos de Bicas.
Casado com Flor de Liz, irmã do Motinha, companheiro de infância, e filha do saudoso José Mota (o Motão), velho amigo do meu pai e do tio Karim.
As alegrias, lembranças e a saudade se entrelaçam, tudo formando o tempero gostoso de nossa Bicas.
Técnico, catedrático da pelota, ex-presidente do Clube Biquense, ferroviário exemplar, José Vieira, amigo eterno dos jovens conterrâneos. Obrigado!
Você, Vieira, também sempre foi jovem, porque é limpo seu coração.
(Publicado no jornal O MUNICÍPIO, de 07 agosto de 1983)