Vá de trem
Minha mãe sempre me dizia: ” O que se leva dessa vida é a vida que se leva”
E não é que é isso mesmo? Morreu e fim. Pode ser milionário, pode ser proprietário, pode ser otário ou proletário. Não vai levar nada…
Dizem que em uma família de libaneses quando o patriarca morreu os filhos colocaram dinheiro no caixão como forma de agradecer o pai… O filho mais velho depois que todos colocaram a grana no ataúde recolheu o montante, somou os valores, enfiou tudo no seu próprio bolso e fez um cheque com o triplo da quantia amealhada, nominal e cruzado ao moribundo…
Acho que coisa boa pra levar dessa vida são as viagens de trem que comecei cedo, fazendo o trajeto na Estrada de Ferro Leopoldina, Bicas- Pequeri. Tempos depois encarei uma Vitória-Minas, da Cia Vale do Rio Doce.
Foram 19 horas iniciadas em BH, na linda estação central CVRD, saindo por por volta das 20 horas em trens com poltronas e restaurante. Isso foi nos anos 70, e a paisagem beirando o Rio Doce ficou na memória até a tragédia do rompimento da barragem… Dizem que a Vale vem recuperando tudo. Tomara!
Depois Tiradentes-São João del Rei, metrô do Rio, metrô de SP, trenzinho do Corcovado, metro de Buenos Aires, metro de Santiago (fui parar dentro de uma vinícola)…
Bem, aí fui conhecer parte do Velho Continente, meu principal sonho de consumo, minha obsessão!
Quando conheci o Underground de Londres e o Metropolitain de Paris comecei a entender o que é qualidade de vida, conforto e segurança. As linhas de metrô e trens dessas cidades são como teia de aranha, vão pra todo canto, passam sob o Tâmisa, sob o Sena, sob o Canal da Mancha… Dá vontade de ficar o dia todo, a semana toda, o ano todo, conhecendo as estações, quebradas, bairros em cada parada! Você não precisa de carro, basta um mapinha na mão e vontade de girar. Os passes não são caros e tem de todo tipo: diário, semanal, mensal.
O melhor do metrô da Europa é que tudo está interligado. Trem pra todo lugar. Já fui de Amsterdan pra Brugges passando por Bruxelas e voltei no mesmo dia. Velocidade = 290km/h, flutuando, internet, bar…
De Madrid pra Barcelona a 300km/h é fantástica e dura 3 horas. Barcelona além de linda moderna medieval tem também um fantástico traçado de trens e estações tipo a que me levou em Mont Serrat, um mosteiro situado nas alturas que subi em trens com cremalheira.
Em Portugal, fiz Lisboa-Sintra, Lisboa-Cascais e Porto-Guimarães, fora o metrô de Lisboa, ainda pequeno; porém, muito confortável.
Na República Tcheca, mais precisamente em Praga, o sistema é recheado de Leves Sobre Trilho, assim como Berlim e Amsterdan (que ainda é entrecortada por canais navegáveis e incríveis).
De Praga pra Berlim, o trem vai beirando o Rio Elba, e as paisagens são de cinema, locais de sonhos.
Deixei a Itália pro final, mesmo não sendo o último destino, porque fizemos tudo de trem e com passes comprados aqui antes da viagem.
Roma-Positano, parte em trem parte na estrada mais linda que já passei beirando o Mediterrâneo nas alturas, penhascos, curvas de 360 graus, vilas, barcos…
Nápolis-Pompeia, trem local lento e panorâmico, Vesúvio, cidade petrificada…
Nápoles-Firenze, Toscana, Da Vinci, Dante Alighieri, Michelangelo, Galeria Uffizi,…
Firenze-San Giminiano, cidades medievais, vinhos pontuados na esquina, muros e torres, comida de babar, bisteca Fiorentina, ossobuco…
Firenze-Siena, cidade do Palio (corrida de cavalos entre famílias, tradição de mil anos…). Firenze-Pisa, torre inclinada, Piazza der Miracoli.
Finalizando pro retorno Firenze-Roma.
Com a cara e a coragem em 16 dias intensos e que levo na memória pra sempre.
Se for não pense duas vezes: Vá de trem!!!
Essa crônica é pro Dr. Ricardo (amante dos trens).