Uma volta no tempo XXVI
Para o número 126 do jornal A Região apresento um contrato bilateral verbal, tendo como outra parte o maior incentivador do desporto na cidade, ou seja, EDGARD ARÊZO DA CUNHA. Alfaiate aposentado, 88 anos, viúvo, 6 filhos, atualmente morando sozinho, em Juiz de Fora, onde realizei a entrevista.
No ano 1977, estudava no Colégio Sousa Ramos e fiquei todo satisfeitão, quando o professor Edgard, coordenando um torneio interno de futsal, pôs-me a jogar, no segundo tempo, e concluiu: “Até que você, menino, não joga tão mal quanto eu imaginava!”. Para mim, um magriço desajeitado, foi a glória. Eureca!
Aos 9 anos, seu Edgard começou a aprender o ofício com o sr. Ângelo Padula e se estabeleceu na praça São José. Como bom profissional, não lhe faltava serviço, recordando-se do fato de que todos os filhos do sr. Joaquim Fernandes Alhadas confeccionaram seus primeiros ternos na sua alfaiataria.
O primeiro terno a gente nunca esquece! E, no caso, e à época, significava a liberdade do homem. Ao vestirem os primeiros modelos, os garotos da família Alhadas (e outros) estavam livres para o que desse e viesse, vida além. (Acrescente-se que a maioria dos alunos do Senai fazia suas roupas com o Arêzo.)
Em parceria com Izaltino Godinho, fundou o Turunas, clube carnavalesco popular das morenas rosadas, que funcionava exclusivamente no mês do carnaval. No bate-coxas, a turma era selecionada, exigia-se o uso de gravata e bonitão com barba por fazer, nem pensar.
Quem brigasse era eliminado, claro. Num período mais recente, participou de forma concreta da escola de samba Abelhinha, formada no Campo de Leopoldina, bairro que com ele se identifica, através de parentes e amigos. Naquela parte da cidade, o samba está presente: José Cúgola “Preto”, Caixote, Só Entre Nós, Mensageiros do Samba e outros. Avalia que a Abelhinha, apesar da falta de dinheiro, é a melhor de Bicas, pois tem as melhores passistas e bateria nota 10.
Do gol à ponta esquerda, jogava bem, não só no Esporte e Leopoldina, como ainda, em outros times da região. Em 07 de setembro de 1940, atuando pelo galo biquense, venceu o Flamengo-RJ- por 7 a 3. Ficou tão empolgado com o massacre que decidiu, daí em diante, só honrar a camisa preta e branca. O famoso e concorrido “Juvenil do Seu Edgard”, do qual era presidente, diretor de futebol e treinador, revelou talentos, dentre eles: José Cúgola “Preto”, Edgarzinho, Ferrugem e Nevito.
Aprendeu Educação Física com o sgt. Ferreira e a praticou no Senai e no Ginásio Francisco Peres (Colégio Sousa Ramos), onde foi levado por um de seus atletas, Dirceu de Sousa Ramos, diretor do estabelecimento. Exemplo de condicionamento físico, levantava cedo, fazia ginástica e corria pela cidade. Nunca fumou, nem bebeu. Se pegasse um dos seus ingerindo álcool ou pitando, nada falava, mas o coitado podia esperar que para o próximo jogo, era banco na certa.
No mais, disse que…
Era Oliveirista do “papo amarelo” (seguia a política partidária do dr. Oliveira Sousa), a quem recorria nas horas da dor de barriga, considerando-o o melhor prefeito de Bicas…
Gosta de forró e seresta, sendo sócio vitalício do Clube Quisaudade, com sede em JF…
Viúvo de d. Maria José, em 1948, não quis mais se casar, porque não encontrou outra super Amélia, maior qualidade da falecida…
Em 1939, levou o Esporte CB para jogar duas vezes no Rio de Janeiro…
Aprecia a obra de Getúlio Vargas, Francisco Alves e Dalva de Oliveira…
No Rio, torce para o América FC e para a Escola de Samba Estácio de Sá…
Gosta da cor vermelha, de guaraná, ouvir rádio, programas de humor, angu, arroz, feijão e couve …
Morou em Bicas e no Rio de Janeiro …
Depois de aposentado, vendeu muita laranja nas feiras de JF …
Trouxe em Bicas a cantora Ângela Maria para dar show no Cine-Theatro São José e no Esporte CB …
Em 1970, fez o melhor tempo num teste de Cooper, em JF …
(Entrevista do Zé Arnaldo com o saudoso professor Edgar Arêzo da Cunha, publicada originalmente no extinto jornal biquense A Região, n. 126, de 15/11/1997.)