Um causo à parte / Memórias / Malhação

Malhação

A molecada ficava em polvorosa quando chegava o sábado de aleluia. Era bonito ver a participação da criançada. Cada um arranjava uma maneira de ajudar na confecção do Judas… Uns iam pegar capim para encher a camisa e calça, dando forma ao corpo. Uma bola de borracha pintada com boca, nariz e olhos caracterizava a cabeça, que também tinha um chapéu de palha preso em cima.

Tudo isso encaixado no colarinho da camisa xadrez. Um par de sapatos velhos amarrado na boca da calça completava o manequim. Alguns moleques compravam as bombinhas no Sr. Listote e preparavam o material bélico que ia dentro do Judas, que nesse momento já existia fisicamente…

Assim, à tarde, o danado do traidor já estava pendurado naquele poste feito de trilhos de trem, que ficava bem na esquina da rua do Brejo… Chegada a hora, nós, juntos com alguns coroas, todos armados com varas, batíamos sem dó no malvado traidor.

Quando ele finalmente caia, saíamos puxando aquele traste pelas ruas empoeiras até colocar fogo em seu corpo… Aí vinha o melhor da festa: eram bombinhas estourando juntas com umas cabeças de nego, até chegar a hora do busca-pé.

Aquele trem saia como um raio atrás de nós soltando faísca pra todo lado… Tinha moleque que até pulava dentro do córrego para se livrar das faíscas brilhantes. Enfim, o Judas virava pó, e nós, suados de tanto divertimento, fechávamos mais uma Semana Santa… Bicas empírica.