Um causo à parte / Memórias
Para não dizer que não falei das flores
Minha mãe tinha acabado de arrumar o almoço do meu pai e disse com firmeza: “Um pé lá, outro cá!!! Hoje o dia não é para criança”.
Peguei a bolsa e fui fazer o de sempre. Não entendi direito o recardo, mas desci a Rua do Brejo, passei pela José Soares e cheguei na esquina da Barão de Catas Altas.
Notei que o clima não estava bom. Waltencir, dentro da farmácia, com cara de poucos amigos. Amado na porta do armazém apreensivo fumava um cigarro, sem charme nenhum. Cheguei na barbearia, meu pai foi logo me dizendo: “Volte pra casa direto”.
Mas, eu, criança curiosa, não deixei ficar em branco. Vi o Sr. Michel na porta da loja… Ele estava mastigando a ponta do charuto. Parei em frente à Estação Ferroviária e vi o motivo de toda a preocupação: tanques do Exército cercando tudo. Foi a primeira vez que vi uma metralhadora de verdade.
Sr. Jorge Sarto, que estava passando, pegou-me pelo braço e mandou eu ir para casa… Com medo fui correndo e quando virei a esquina, ouvi uns versos num rádio de alguém: “Há soldados armados amados ou não”. Era abril de 1964…
Nossa Bicas sisuda…