Touro à unha

Dona Diola estava terminando de varrer a calçada, bem na esquina de sua casa. Sapim vinha montado na sua mula Castanhola, guiando uma vaca que havia escapado lá da fazenda do Dim Mota. Era uma tarde de verão com céu azul. O vaqueiro, com seu chapéu à la John Wayne, estava em mais uma tarefa de rotina…

Quando a vaca ia indo em direção ao Ginásio, a danada encorporou o “coisa ruim” e desembestou passando por cima de tudo que estava em sua frente… Tirou uma fina no Liberalino que o deixou da cor de caulim. Sapim, meteu as esporas na Castanhola e encurralou a vaca naquela rua do lado direito, que terminava na cerca da matinha…

No corre-corre, Zé Alicate, que tava tomando uma “limpa goela” no botequim por ali, botou a cara pra fora e viu quando a vaca investiu sobre a Castanhola e a derrubou, indo o vaqueiro, desequilibrado, parar com a cara num mourão de braúna…

Ninguém chegava perto do animal; porém, Zé Alicate, nosso velho toureiro, não se intimidou… Pediu mais uma cachaça e foi lá se ater com a fera. A rua, já lotada de espectadores, parou em silêncio. Zé tirou a camisa e a abanou na frente da vaca que partiu pro ataque. Ele, com sua destreza de “Manolete”, pulou entre seus chifres e, num bote só, jogou a “possuída” no chão.

Logo os valentões chegaram para ajudar. Amarraram a vaca e a caminhonete do Dim Mota foi solicitada… Sapim, com a calça rasgada, o beiço rachado e sangrando, subiu na Castanhola com dificuldades, e um moleque lhe entregou o chapéu todo amassado.

Dona Diola perguntou pro Zé Alicate se ele não teve medo… Zé, respeitosamente, bateu a poeira da roupa, limpou as mãos e respondeu: “Estou acostumado a pegar touro a unha… Com ela foi só um treino”… E saiu solerte… Bicas nervosa.