Só tendo fé
Novembro de 2019 e a variedade de temas disponíveis para a elaboração de um artigo de opinião é extensa. Infelizmente, para aqueles residentes na zona da mata mineira do maior país da América do Sul, as opções momentâneas ainda acabam sendo reduzidas: a BR 267 e o Supremo Tribunal Federal.
Os últimos dias trouxeram uma carga de elementos negativos muito significativa. Falar de uma rodovia e de um tribunal federal num único texto pode soar estranho para a grande maioria das pessoas; no entanto, ambos possuem algo em particular que vai além de seu âmbito federativo: sua baixa qualidade. Salvo poucas e boas exceções (Luiz Roberto Barroso, Luiz Fux, Edson Fachin e Cármen Lúcia), nosso país tem sido muito mal representado juridicamente ao longo dos últimos anos. Possuímos um órgão de última instância que não representa os anseios da população e ainda contribuem para o retrocesso de tudo o que vem sendo feito para que o país possa voltar a se reestabelecer.
Ao citar a decisão absurda e tendenciosa de um tribunal pra lá de descrente até para alguns de seus membros, não é intenção limitar a revolta pela soltura de um ex-presidente ladrão, corrupto e manipulador; mas sim pela extensão que tal medida toma ao beneficiar um contingente sem precedentes de indivíduos que mais do que nunca, passarão a se sentir acima da lei e de todos. Tal fato só reafirma no inconsciente popular que: aos que têm como pagar, tudo; aos que não têm, nada.
Quantas pessoas lotam os presídios a espera de um julgamento por terem cometido crimes banais e torpes? No Brasil, se reafirma a cada dia que passa a certeza de que ladrões de galinha devem ser mais fortemente punidos que aqueles de colarinho branco. Ter uma conta bancária repleta de muitas cifras faz com que seja possível postergar qualquer punição e estabelecer uma verdadeira intocabilidade em relação a tais criminosos não abarcados pelos rigores e isonomia da lei.
De mesmo modo, analisando elementos de qualidade duvidosa, nos deparamos novamente com a BR 267. O que dizer mais uma vez de algo tão ruim quanto o nosso “supremo”? É lastimável ver tanto dinheiro público se esfarelando em cada nova cratera que se abre num asfalto tão porcamente construído. Basta uma mera garoa para que todos os motoristas se sintam trafegando sobre uma peneira. O número gigantesco de carros à beira da estrada tendo seus pneus trocados é o maior indicativo disto. Até quando seremos feitos de bobos num país em que nada funciona com excelência?
O título deste artigo não foi escolhido por acaso. Ao perceberem as iniciais das palavras que o compõem, é possível notar uma menção ao órgão citado anteriormente e que em nada nos representa; mas também é uma mensagem sincera de que somente tendo muita fé é possível acreditar que dias melhores ainda virão. Mesmo que minem nossas esperanças e estabeleçam a descrença no interior de todos os brasileiros, a fé de que tudo um dia pode ser melhor fará com que continuemos nos incomodando com as injustiças, arbitrariedades e desperdícios de dinheiro público que veem acontecendo ao longo de décadas, e busquemos nossos direitos. Somente tendo muita fé, realmente.