Show da “Wanderléa”

Fui para casa do Sr. Edgar Arezo aprender a fazer uma nova pipa que o Jari trouxe do Rio de Janeiro. Ele estava ensinando para quem quisesse. Armação de bambu invertida e duas curtas rabiolas. Confesso que não achei difícil e logo fui fazer a minha “Wanderléa” para cortar o céu da terrinha. Maninho me falou que era melhor colocar “cortante” (cerol), porque os outros iam dar em cima da novidade.

Peguei uns cacos de vidro e fui lá na linha do trem na hora que o Expresso ia passar e coloquei os cacos em cima do trilho. Assim que o comboio passou, com cuidado recolhi aquele pó fino que mais parecia talco. Passei no Globo das Louças e comprei um pedaço de cola de sapateiro.

Cheguei em casa… Enquanto a cola se derretia dentro de uma lata no fogo, estiquei no quintal uns trinta metros de linha nº 10 amarrados em dois pontos e preparei o “cortante”. Depois de pronto, emendei a linha com o “cortante” na outra que estava enrolada numa lata de Leite Glória e fui soltar a Wanderléa no céu da terrinha.

Logo apareceu uma pipa ali do bairro Santana que foi tosada sem o menor sacrifício. Ela desceu tremulando sem rumo e foi parar em cima do telhado do consultório do Dr. Ladeira.

Uma outra também teve o mesmo destino, caindo no campinho da nossa rua. A terceira eu cortei e aparei. A “Wanderléa” veio com o frete enroscado na linha naquele lindo céu azul. Quando eu terminei a operação, a molecada me cumprimentou e eu ganhei mais tarde uma graninha vendendo cópias da “Wandeca”… Bicas em céu de brigadeiro!