Semeador de otimismo

ANTÔNIO LAMHA

Ele povoou de alegria minha infância e mocidade. Beirando os setenta, ainda o vejo entre os foliões, animado, imbatível. Esse prazer incontido vem do seu puro coração de menino, sem mágoas ou ressentimentos.

É um carnavalesco-austero, se me permitem a expressão. (Nunca botou um cigarro na boca e sempre evitou a bebida).

Em tempos idos, fundou com o Emil “O Lince”, jornal de humor e crítica, de grande sucesso, entre nós.

ANTÔNIO LAMHA já foi de tudo: vereador combativo, comediante, Rei Momo, viajante, seresteiro, comerciante e Juiz de Paz.

Amante do bate-papo espichado, cheio de lembranças e de graça. Guarda fatos curiosos, escondidos na memória privilegiada, e é capaz de trazer para você o mais estranho convite de casamento, seu retrato de chupeta na boca, ou um velho artigo de jornal, com raras preciosidades.

Certa feita, abriu uma casa de calçados, e ele mesmo escreveu seu nome. Trepou na escada e no alto da parede inovou: “Pare! É aqui a Casa do Compadre”.

Nenhuma companhia teatral, artista algum que viesse a Bicas, subiria ao palco antes de Antônio Lamha, o “Tanus Antun”, de sua deliciosa transfiguração.

Com o talento de seu espírito e inteligência, ele ficava incumbido de quebrar o gelo, a expectativa da plateia, preparando o caminho da representação e do sucesso. Imitava, então, com invulgar fidelidade a fala atravessada dos “patrícios”, contava piadas, e improvisava com o público, já dominado, inúmeras brincadeiras.

Marido em primeiras núpcias da saudosa Fizinha, e depois da estimada granberyense Maria Helena. Antônio Lamha, generoso e cordial, sempre uma palavra amiga, naquela voz mansa e pausada: “Você mora no Rio, mas seu coração bate aqui. Isto é bonito”. Irmão solidário, filho querido de D. Maria e Jorge Lamha, gente especial, da melhor qualidade, em cuja casa hospitaleira, desde cedo, eu conheci tanto carinho e fraterna amizade.

Obrigado Antônio, pela alegria de sua vida. Você também ajudou a fazer a história desta cidade.

(Publicado no jornal O MUNICÍPIO, de 24 de julho de 1983)