Santa Casa de Misericórdia ultrapassa cem transplantes de rim com nova técnica
Nefrectomia laparoscópica, ou ‘doação de rim por vídeo’, é uma técnica menos invasiva para doadores; 320 pessoas aguardam por um transplante no hospital
Por Gabriel Silva
27/09/2022 às 16h16
A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora comemorou, nesta terça-feira (27), a marca de mais de cem transplantes de rim realizados por meio da nefrectomia laparoscópica, ou doação de rim por vídeo, procedimento que se caracteriza por ser menos invasivo para os doadores. O hospital juiz-forano é referência nacional no transplante do órgão e utiliza a técnica desde 2017. Atualmente, 320 pessoas aguardam pela doação na instituição.
A celebração aconteceu na data em que é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, além de ser a semana que fecha o Setembro Verde, mês de incentivo à doação. Conforme Gustavo Ferreira, nefrologista coordenador do Serviço de Transplante da Santa Casa e presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, nos últimos anos o país passou por uma queda no número de doadores vivos que diminuiu a capacidade de suprir a demanda de pacientes por transplantes.
“Esse é o terceiro ano consecutivo com uma queda no número de transplantes no Brasil. Nosso país, historicamente, vinha crescendo na atividade de transplantes. A pandemia acometeu duramente essa atividade e é um momento importante para que possamos retomar a nossa capacidade de transplantar”, avalia Ferreira, lembrando que a fila de pessoas aguardando doação em todo o país ultrapassa 50 mil pessoas. Em média, o Brasil realiza metade dos transplantes que deveria realizar para dar conta da demanda, de acordo com o nefrologista.
Nesse sentido, a utilização da doação de rim por vídeo, defende o médico, é uma das esperanças de aumentar o número de procedimentos com doadores vivos. De acordo com o urologista Pedro Bastos, que compõe a equipe de transplante da Santa Casa, a técnica é padrão em outros tipos de cirurgias, mas ainda é subutilizada no âmbito da doação renal. “Nós já passamos a marca dos cem transplantes, todos foram exitosos e o pós-operatório foi muito bom. A gente tem não só o aspecto estético, mas alimentação e alta precoces, além de baixo custo para o sistema, porque essas pessoas ficam menos tempo internadas. Um paciente de Juiz de Fora pode ser operado hoje e ter alta amanhã”, exemplifica.
‘Para ser doador, o primeiro passo é a vontade’
Para se disponibilizar como doador, o cirurgião vascular Márcio Souza elenca a motivação como principal fator. A partir daí, o interessado passa por um longo processo de exames juntamente com quem vai receber o órgão para garantir a segurança do processo. “Para que ele seja inicialmente avaliado como um doador, o primeiro passo é a vontade. Se ele tem conhecimento mínimo sobre o processo e se sente à vontade para ser doador e ajudar alguém que precisa, o indivíduo que necessita do órgão vai ser encaminhado juntamente com o possível doador até um ambulatório, onde eles serão avaliados”, explica.
O processo de triagem inclui o levantamento do histórico clínico do paciente, exames laboratoriais e análise de compatibilidade. Caso o candidato seja reprovado para a realização da laparoscopia, ele ainda pode ser adequado para o procedimento convencional. Já no caso de pessoas interessadas em doar órgãos após a morte, o ponto principal é comunicar a família, que ficará responsável por efetivar o desejo do indivíduo.
Passados os dois primeiros anos agudos de pandemia de Covid-19, o principal desafio para as instituições de saúde é reconquistar a confiança da população para frequentar o sistema de saúde, segundo o cirurgião Gláucio Souza. “É fundamental a retomada da confiança da população no sistema de saúde e também fazer com que as pessoas procurem os centros transplantadores. Através dos serviços de diálise, os pacientes são estimulados a procurar o centro transplantador e, lá, nós conversamos sobre as doações em vida.”
Fonte: Tribuna de Minas