Salão São Jorge

Durante mais de quarenta anos, uma placa com um “São Jorge” pintado atravessou Bicas em vários endereços. Eu comecei a acompanhá-la, como engraxate, quando seu endereço era frente aos correios na Barão de Catas Altas.

A barbearia do João Barbeiro registrou uma parte importante da história biquense. Eram três barbeiros fixos, e uma outra cadeira que ficava sempre à disposição de um aprendiz e, claro, a banca de engraxate, por onde passaram eu e os meus irmãos, entre outros moleques…

A freguesia era eclética e numerosa. Modéstia à parte, meu pai formava sempre uma equipe com ótimos profissionais. Não havia assunto importante que não passasse por lá: morte do deputado Oliveira Souza, golpe militar, greve dos ferroviários entre outros tantos do dia a dia.

 Meu pai sempre discreto, ouvia mais do que falava, apesar de ser bom de papo, assim como os outros barbeiros. Esse talvez tenha sido o motivo de que lá na barbearia a conversa rolava solta. Se o assunto apertasse ou era proibido para menores, meu pai tinha uma saída, que era me pedir para ir lá no Armazém do Orlando de Freitas trocar algum dinheiro.

Isso era o suficiente para a conversa dos mais velhos chegar ao fim sem o ouvido curioso do moleque engraxate. Costumeiramente, os adultos faziam a barba todos os dias, e cortavam o cabelo uma vez por mês.

Quando surgiram os Beatles, com seus cabelos compridos, lembro-me que o outro barbeiro, Sr. Alípio, comentou que a freguesia talvez diminuísse. Meu pai achou que não e disse: “Até chegar por aqui, vai demorar; além do mais, você acha que os coroas vão aderir a essa moda?” Bicas comunicando…