Rio lamento (Já há dois anos!)
Como uma última esperança,
Para iludir meu pensamento,
Recorro à brincadeira de criança;
E pergunto:
– Cadê o rio que aqui passava ?
Até recente momento,
Mas, a referendar o sofrimento,
Para a dor dessa resposta,
Não existe “Linimento”!
O RIO ?… Lamento !
Num instante, da calma fez-se o tormento,
Água, madeira, barro, de tudo um tanto,
Gritos de aflição, gemidos em todo canto,
Almas assustadas, um silêncio barulhento,
Crianças em companhia do pranto,
De todos os lados, um só “Lamento”…
Uns, já definitivamente cerrados,
Outros, incrédulos e arregalados,
Mas, em todos os olhos o desencanto,
Nos vivos, receio e pressentimento,
Nos inertes, desespero sem brilho, espanto,
Onde o ouvido alcança, muito “Lamento”…
Ó velho rio, “Doce”, até dois anos antes,
Onde havia, caudalosas águas abundantes,
Contaminada com desrespeito, hoje, só lama,
Mortalmente feridas, serpenteiam titubeantes,
Sangrando o coração de quem te ama,
Em todos os cantos, constante Lamento,
Da plena vida, à penúria, num instante
Imensas, tristeza e sofrimento
Nos sonhos, ponto final, sina errante,
Não há paz, desmoronou o alento,
Já virou estribilho, tanto “Lamento”
Em teu leito, de morte,
Esgueirando só o restante,
O porque de tão nefasta sorte,
Tornando-te roto o semblante
Te arrancaram a vida num instante,
Em ti, hoje, o único navegante,
É este turbilhão, de “Lamento”…
A lama segue pelo rio afora,
Seu rastro de destruição,
Outras vidas devora.
O rio, “Doce”, outrora,
Carrega tóxicos e odores,
Lágrimas, cadáveres e dores,
Impunes e silenciosos,
Seguem os colonizadores,
Ignorando todo esse Lamento . . .
Omar Vieira de Oliveira (Omar D’Minas)