Qual máscara devo usar? diferentes tipos geram dúvidas na população
De acordo com o médico infectologista Rodrigo Daniel, todas as proteções são eficazes se usadas corretamente
Por Nayara Zanetti (estagiária sob supervisão do editor Eduardo Valente)
04/06/2021 às 07h41- Atualizada 04/06/2021 às 08h45
Após mais de um ano da pandemia de Covid-19, o uso de máscaras ainda gera dúvidas na população e muitas pessoas perguntam: qual máscara devo usar? Tal situação ficou mais evidente nas últimas semanas, em razão de novas variantes do vírus identificadas no país. Consideradas mais contagiosas, muitas pessoas têm recorrido a máscaras específicas em busca de proteção, enquanto outras, já vacinadas, entendem não ser necessário mais o uso do acessório.
O uso obrigatório de máscaras foi determinado pela OMS no começo da pandemia. Isso porque elas, comprovadamente, reduzem tanto a chance de contrair o vírus quanto a de transmiti-lo, funcionando como uma barreira de proteção que evita a liberação dessas gotículas no ar quando há tosse, espirros ou conversas. Por se tratar de uma doença de transmissão eminentemente respiratória, as máscaras – e o distanciamento social – são consideradas medidas importantes para reduzir a contaminação.
A recomendação das autoridades de saúde é que o uso de máscara permaneça mesmo entre as pessoas já imunizadas. Isso porque, embora ela esteja protegida das manifestações graves da doença, ainda pode carregar o vírus e infectar outras pessoas.
Conforme a OMS, o uso de máscaras reduz o número de novas infecções, de mortalidade e das hospitalizações. “Análises mostram que aumentar em 10-15% a adesão às máscaras triplica a probabilidade de reduzir a transmissão na comunidade e a chance de novos bloqueios econômicos”, explica o médico infectologista Rodrigo Daniel, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF).
Os tipos de máscaras
Atualmente, a população tem usado três tipos diferentes de máscaras, que se dividem em máscaras de proteção de uso não profissional, como as de tecido, máscaras cirúrgicas e equipamentos de proteção respiratória, também conhecida como respiradores (PFF2/N95).
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a principal diferença entre as máscaras de tecido para as demais é não possuir um elemento filtrante. Sendo assim, ela deve ser utilizada por pessoas comuns para reduzir a disseminação do vírus, enquanto os profissionais de saúde devem utilizar as máscaras cirúrgicas e os respiradores, pois eles atendem as normas técnicas e sanitárias necessárias no ambiente hospitalar.
Já a diferença entre a máscara cirúrgica e a PFF2/P2 ou a N95 é a capacidade de impedir ou dificultar a propagação das gotículas e o contágio, tanto em relação ao profissional de saúde quanto ao paciente. “A máscara cirúrgica é indicada para proteger o trabalhador da saúde de infecções por gotículas transmitidas a curta distância e pela projeção de sangue ou outros fluidos corpóreos que possam atingir suas vias respiratórias. O respirador N95/com filtro PFF2/P2 retém gotículas e é feito para proteger o trabalhador contra aerossóis contendo vírus, bactérias e fungos. Embora tanto a máscara cirúrgica quanto o respirador contenham um elemento filtrante, a máscara cirúrgica não protege adequadamente o profissional de microrganismos transmitidos por aerossóis porque não mantém uma vedação adequada”, ressalta a Anvisa.
Eficácia de cada modelo
Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), com publicação no periódico Aerosol Science and Technology, apresentou diferenças na eficácia de diversos tipos de máscaras. O estudo contou com 227 modelos de máscaras que são usados no Brasil e constatou que a PFF2 retém cerca de 98% das partículas, tornando- se a máscara que oferece maior proteção. Já as máscaras cirúrgicas possuem uma eficácia de 89%, enquanto as de TNT oferecem uma proteção entre 78% a 87%. As de tecido variam na eficácia, podendo ser de 15% até 70%.
‘A melhor máscara é a que se utiliza corretamente’
Na avaliação do médico Rodrigo Daniel, mais importante que o tipo de máscara é saber utilizá-la adequadamente. “A melhor máscara é aquela que se usa o tempo todo, não adianta comprar máscaras caras e não usar adequadamente”, disse, acrescentando que, fora do ambiente hospitalar, máscaras com camadas duplas ou triplas de algodão são altamente efetivas, especialmente com o distanciamento social adequado e se estiverem devidamente adaptadas à face, sem folgas.
“As recomendações oficiais são de uso de máscaras de tecidos por todos, exceto para profissionais de saúde que devem utilizar máscaras cirúrgicas na maior parte dos atendimentos. As máscaras N95/PFF2 ou equivalentes estariam reservadas aos profissionais que realizam atendimentos a pacientes suspeitos da Covid que estejam submetidos a determinados procedimentos ou de outras patologias, como a tuberculose”, ele completa.
O médico infectologista também falou da hipótese de se usar duas máscaras como forma de reforçar a proteção. De acordo com ele, a recomendação veio de um ensaio realizado em condições de laboratório, no qual máscaras de tecido associadas a uma máscara cirúrgica se mostraram mais efetivas que as outras máscaras isoladamente. No entanto, o médico ressalta que não há evidências para a recomendação geral da população.
Importante, segundo ele, é cuidar do acessório para que ele se mantenha eficaz. Por esta razão, explica o médico, é recomendado que a troca seja realizada a cada 3 ou 4 horas. Caso a máscara estiver úmida deve-se mudar assim que possível. Vale ressaltar que, para efetuar a troca de máscaras, é necessário se distanciar de outras pessoas, assim evitando expor aos presentes uma possível contaminação. “Hoje se sabe que a transmissão por contato com superfícies contaminadas, apesar de possível, é considerada de baixo risco. Mesmo assim, ainda se recomenda evitar tocar a máscara na parte do tecido, preferindo as alças”, comenta o infectologista.
Fonte: Tribuna de Minas