Prefeituras da Zona da Mata atribuem erro à plataforma do SUS e negam aplicação de vacinas vencidas

Levantamento realizado por pesquisadores da Unicamp e da Unifesp aponta problema com 8 lotes de imunizantes da AstraZeneca.

Por Fellype Alberto, G1 Zona da Mata
 

As prefeituras de cidades Zona da Mata divulgaram nesta sexta-feira (2) comunicados que negam a aplicação de vacinas vencidas e atribuem erro à plataforma do Sistema Único de Saúde (SUS). Um levantamento baseado no cruzamento de dados oficiais do governo federal aponta que ao menos 26 mil pessoas podem ter recebido doses vencidas da vacina AstraZeneca contra a Covid-19 no Brasil. O Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) se pronunciou sobre o caso (veja a íntegra da nota abaixo).

Na região, foram registrados lotes nas cidades de Juiz de Fora, Muriaé, Além Paraíba, Santos Dumont, Viçosa, Bicas, Cataguases e Ubá. O trabalho dos pesquisadores Sabine Righetti, da Unicamp, e Estêvão Gamba, da Unifesp, foi publicado nesta sexta-feira (2) pelo jornal “Folha de S. Paulo”.

Os dados, aos quais o G1 também teve acesso, indicam que o problema ocorreu com doses de oito lotes da vacina (veja tabela abaixo).

As prefeituras citadas negam o problema e atribuem o achado do levantamento a falhas na inclusão de dados no SUS, que recebeu anotações com atraso de até dois meses.

O Ministério da Saúde informou ao G1 que todas as doses são enviadas dentro do prazo e que, caso aplicações fora do período ocorram, é preciso passar por uma nova aplicação “respeitando um intervalo de 28 dias entre as doses”.

Lotes de vacinas aplicadas após o vencimento

Lote Validade Distribuição Doses distribuídas Aplicadas após validade
4120Z001 29/03/2021 24/02/2021 499.480 2.911
4120Z004 13/04/2021 22/01/2021 179.880 874
4120Z005 14/04/2021 22/01/2021 1.819.870 17.674
CTMAV501 30/04/2021 24/03/2021 100.780 1.814
CTMAV505 31/05/2021 24/03/2021 316.800 1.090
CTMAV506 31/05/2021 24/03/2021 350.380 942
CTMAV520 31/05/2021 24/03/2021 254.160 84
4120Z025 04/06/2021 24/02/2021 351.190 546

De acordo com o levantamento, foram aplicadas 25.935 doses fora do prazo em pelo menos 1.532 cidades.

O lote da vacina é uma informação que deve constar no comprovante de aplicação.

De acordo com Sabine Righetti, uma das autoras do levantamento, as informações são do DataSUS e da Sala de Apoio à Gestão Estratégica (SAGE). A equipe analisou a data de vencimento dos lotes de vacina que ainda estavam sendo ministrados no Brasil.

Primeiro, foram encontrados 8 lotes da AstraZeneca que já venceram. Depois, esses dados foram cruzados com as datas de aplicação informadas. Ainda de acordo com a pesquisadora e jornalista, esses são os únicos lotes que já passaram da validade no país.

As prefeituras de Juiz de Fora, Muriaé, Viçosa e Cataguases divulgaram notas rebatendo o levantamento. O G1 também entrou em contato com as cidades de Além Paraíba, Santos Dumont, Bicas e Ubá, mas até a última atualização desta matéria não houve retorno.

Juiz de Fora

A Prefeitura de Juiz de Fora divulgou um post nas redes sociais também negando o erro.

“O lote 4120Z005 da vacina AstraZeneca foi recebido em 31/01, e tinha data de validade até 16/04/2021. Todas as doses desse lote foram administradas dentro do prazo correto, entre 01/02/2021 e 09/04/2021”, informou a prefeitura.

Muriaé

A Prefeitura de Muriaé também divulgou um comunicado oficial nesta sexta-feira e informou que nenhuma vacina foi aplicada fora do prazo na cidade.

“A Prefeitura de Muriaé, através da Secretaria Municipal de Saúde, informa que nenhuma dose de vacina contra covid-19 foi aplicada fora da validade.

Todos as doses supostamente vencidas foram feitas dentro do prazo em Muriaé.

Houve erros de digitação ao se efetuar o lançamento de alguns dados na sistema do Ministério da Saúde. Até o momento, esta plataforma não permite correção das informações lançadas de forma equivocada.”

Viçosa

A Prefeitura de Viçosa informou ao G1 que a cidade não recebeu nenhum lote do imunizante vencido. A Diretoria de Comunicação afirmou que deve publicar uma nota técnica com mais informações sobre a situação ainda nesta sexta-feira.

Cataguases

A Prefeitura de Cataguases também divulgou uma nota oficial em que esclareceu que as doses foram administradas dentro do prazo de validade na cidade e que qualquer divergência na informação se deve a problemas na plataforma do SUS.

Nota Conasems

“Conasems informa e reafirma que os municípios brasileiros não aplicam vacinas com prazo de validade expirado. Embora o MS tenha envidado esforços contínuos para aprimorar o sistema de informação adotado para registro das doses aplicadas, ainda temos fragilidades que necessitam ser superadas. Temos insistido e cobrado sobre a fragilidade dos sistemas de informações do Ministério da Saúde, precariedade dos mesmos e a ineficiência para tomada de decisão. Os profissionais destacados pelos municípios para aplicação das vacinas, adotam as boas práticas de vacinação, que entre vários itens observados, os lotes são devidamente verificados quanto ao prazo de validade e existe triagem rigorosa nesse processo. Em relação a matéria sobre aplicação de vacinas com prazo de validade expirado em 1500 municípios brasileiros esclarecemos o seguinte.

No início da vacinação nos meses de janeiro e fevereiro o sistema de informações do PNI apresentava muita instabilidade, o que não permitia alimentação célere das doses aplicadas, com consequente atraso na digitação.

Além disso o tempo da digitação é muito maior que o tempo da vacinação, não é possível informar os dados em tempo real.

Data da digitação dos dados do vacinado não necessariamente corresponde ao dia efetivo de vacinação. Essa diferença chegou a 60 dias de diferença naquele momento.

m locais de vacinação organizados para aumentar o acesso da população à vacina como drive thru, centros de vacinação, vacinação extramuros em algumas instituições (ILPI, penitenciárias, entre outros), os dados são inseridos no sistema de informação a posteriori.

Destacamos que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem registro individualizado e amplamente divulgado, com mais de 100 milhões de registros de doses aplicadas com várias varáveis individualizadas no sistema de informação adotado, mesmo com todos os problemas de conectividade e plataformas que temos.

Lembramos ainda que o número de doses de vacina para covid-19 adquiridas e distribuídas pelo MS, sempre foi muito aquém da necessidade para cumprirmos com o PNO, ou seja, na realidade assim que chegaram nos municípios foram imediatamente aplicadas, não havendo a possibilidade de expirar seu prazo de validade. Portanto,

Os municípios brasileiros priorizam o ato de vacinar e proteger a população e seguem firme no propósito de defesa do Sistema Único de Saúde – SUS.”

Fonte: G1 – Zona da Mata