O realismo fantástico

Já dizia o compositor baiano que atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. No carnaval biquense, só não viu a Sapolândia, quem estava no cemitério. Por ser completamente anárquica e debochada, não se sabe até hoje com certeza sua origem. Sabemos que Jorge Mossoró partiu de uma brincadeira com os amigos e montou o que seria a maior e mais representativa atração do carnaval biquense…

A Sapolândia tinha por princípio a irreverência carnavalesca, que sempre norteou a festa de Momo. Foi um… talvez bloco! Ou seria um bando de palhaços? Não importa. Assim como sua origem, o que sempre valeu foi sua presença marcante nos dias de folias…

Personagens nascidos da imaginação popular faziam o povo da terrinha escancarar belas gargalhadas durante o seu desfile. Além de Jorge Mossoró, que era o maestro regendo os loucos, com uma batuta improvisada, nariz de plástico, paletó de fraque e bermuda de bolinhas, tinha o Patesco , com suas patuscadas, roubando a cena com seus rebolados na boquinha da garrafa, e, vez por outra, pegava um folião distraído e gritava no seu ouvido “Oh Munha!!!”.

Sá Onça encarnava o fotógrafo “Medonça” com seu tripé tirando fotos explosivas, onde a mistura de pólvora com anilina sujava todos que estavam por perto, inclusive o fotografado. Mazzaropi era o repórter da PRCAPETA, rádio fictícia. Ele usava um microfone que dava para a pessoa segurar sugerindo uma entrevista, e antes da pessoa falar, apertava um botão dando choque.

O coitado assustado jogava o microfone longe. E tome gargalhadas… Os instrumentos da Sapolândia eram tubos plásticos com penicos nas pontas, violões sem cordas, latas velhas, buzinas e demais aparelhos acústicos, que não podem faltar em nenhuma orquestra de tantãs.

A música era um ruído anárquico sem variação, mas o que contava mesmo eram as coreografias daqueles homens travestidos de malucos, que passavam pelas rua deixando um estupor que jamais saiu da lembrança povo da terrinha, que teve a honra de participar ou assistir o que se tinha de mais genuíno no nosso carnaval… Bicas vertendo alegria.