O mascate

Fazendo concorrência com os lojistas, aquele vendedor ambulante conquistou o coração e o bolso de muita gente, por Bicas inteira. Quando chegava na nossa rua, a atenção se voltava para ele e sua mala. Munir (acho que era esse seu nome), na verdade o famoso “Tá Barato”, parava na ponte, passava o lenço branco na testa tirando o suor, respirava fundo e gritava: “O comadre Tá Barato chegou!”

Com esse cartão de visitas, a mulherada aparecia nos portões de avental, bobes no cabelo ou de qualquer jeito, só para ver as novidades… Tá Barato calmamente colocava aquela mala enorme no chão, ajeitava no braço uma variedade de tecidos femininos, que era para atrair a mulherada e assim começava os trabalhos…

Gabardine tropical inglês, uma porção de novidades, retalhos que era cópia do vestido de Brigite Bardot, do filme tal e, por aí ia com seu lero-lero. Dizia ele para os amigos: “Se eu abrir a mala, nem que seja um alfinete tenho que vender”.

Tá Barato fez história numa época que a palavra valia mais que qualquer documento e se tornou uma pessoa de posses, graças ao seu trabalho duro e honesto… Geralmente, quando ele estava terminando de visitar nossa rua, algum moleque sempre fazia a mesma pergunta pra ele: “Você sabe porque turco tem o nariz grande?” Ele: “Moleque eu não sou turco, sou libanês”.

Mas nós respondíamos, em coro: “É porque o ar é de graça”. Ele dava um sorriso e ia para outra freguesia… Bicas para todos!