O afano dos galináceos
Na divisa do campinho da rua do brejo ficava o quintal de dona Aracy, que volta e meia brigava conosco por causa da invasão para pegar a bola que lá caia. Vez por outra, ela até furava nossa pelota…
Ficamos sabendo que seu irmão Itibêre Gouveia do Amaral, lhe deu de presentes algumas galinhas exóticas e que ela tinha o maior xodó com os galináceos. Por este motivo nos aguçou aquela vingança reprimida. Preparamos cuidadosamente uma visita ao galinheiro das beldades penosas.
Neném Brasinha nos disse que seu fogão a lenha estava à disposição, desde que o produto chegasse em sua casa já depenado; portanto, sem a prova do crime. Já com longa experiência no ramo, nosso pelotão de frente entrou em ação…
Já noitinha, subimos pela mangueira que ficava no fundo do quintal do Waltencir e, num silêncio sepulcral (parecia que estávamos levitando), tivemos acesso ao galinheiro. Duca, Miro e Fumanchú, os especialistas, jogavam para fora, já abatidas, as aves e, nós do baixo clero, as recolhíamos dentro de um saco de estopa.
Recolhemos um bom número para o jantar… Mais tarde, durante a ceia, Gá reclamou que ao limpar os pés de uma delas tinham penas e uma outra galinha tinha uma crista enorme. Havia também um frango bem peitudo. Rolou cachaça para os adultos e Ki-suco para a molecada, além do arroz com angu…
Dias depois, nós estávamos no campinho, quando chegaram o sargento Mário e os soldados Isaías e Severino. Sgt. Mário entrou de sola: “Como vocês tiveram a coragem de roubar as galinhas de raça da irmã do general? A mulher tá uma fera. Ela quer de volta aquela dos pés empenados, a francesa dos ovos azuis e galo chinês.
Enquanto isso, os soldados procuram na beira do córrego as provas do crime e nada encontraram. Nós, como sempre, fizemos aquela cara de paisagem… Não sabíamos de nada. Depois de várias ameaças, eles foram embora. Landinho deu uma risada e sentenciou: “Bem feito por ela ter furado minha bola…” Bicas dando o troco.