O açougueiro

 A pensão do meu pai era onde mais tarde foi o bar do Aduba. Bem em frente da pensão, no começo da Rua do Café, ficava o açougue do Lourival do Vale, que negociou ali por um bom período. Volta e meia eu era escalado para buscar as encomendas…

Me lembrei disso porque hoje fui comprar costelinhas de porco, e o atendente num piscar de olho cortou a mercadoria na serra elétrica. Vinha pelo caminho e me deparei com o açougue do Lourival lá na minha infância.

Confesso que naquela época o ambiente dos açougues era meio macabro: havia um toco enorme bem no meio do estabelecimento, com uma machadinha sempre suja de sangue. Se desossava o boi bem na vista do freguês.

No avental do Lourival tinha marcar reais de quem acabou de participar de uma carnificina… A cor branca era só na alça. Carnes, linguiças e até porcos em pedaços eram comuns se ver pendurados naqueles ganchos de ferro.

Num canto, havia um latão cheio de ossos e pelancas ungidos com aquele odor. Isso era comum naquele tempo. Lourival atendeu o meu pedido, embrulhou a carne num papel grosso e deu acabamento com uma folha de jornal. Não sei se fazia mal, mas o bife da pensão era muito apreciado. Será que as costelinhas que comprei eram de porco mesmo? Bicas na estatística.