Número de mamografias realizadas na rede SUS tem queda de quase 26% em Juiz de Fora
Neste ano, entre janeiro e junho, foram feitos 4.623 exames na rede pública de saúde. No mesmo período de 2023, a quantidade de exames realizados foi de 6.226
Tribuna de Minas
Dados retirados do Datasus mostram que Juiz de Fora teve uma queda de quase 26% no número de mamografias realizadas na cidade. Neste ano, entre janeiro e junho, foram feitos 4.623 exames na rede pública de saúde. No mesmo período de 2023, a quantidade foi de 6.226.
O número informado pela Secretaria de Saúde (SS) do município é um pouco maior. De acordo com a pasta, foram realizadas, entre janeiro e maio de 2024, 5.491 mamografias. A secretaria não soube informar, no entanto, a quantidade de exames realizados no mesmo período do ano passado para comparação. Segundo a SS, historicamente, a maior procura por mamografias acontece nos meses de março e outubro, devido as campanhas de conscientização do mês da mulher e do Outubro Rosa.
Os valores são menores que no período pré-pandemia. Pelo Datasus é possível ver que a quantidade de mamografias realizadas em Juiz de Fora entre janeiro e junho ultrapassava a casa dos 5 mil. Em 2018 foram 5.398 exames realizados no período e em 2019, 5.446.
Dificuldade de acesso a mamografia na rede pública
A dificuldade de acesso a mamografias pela rede pública motivou debates na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). No dia 16 deste mês, a Comissão de Saúde, atendendo a requerimento dos deputados Arlen Santiago (Avante) e Doutor Wilson Batista (PSD), tratou da burocracia no acesso, além dos valores defasados no pagamento de procedimentos, insumos e profissionais, resultando em menor oferta de serviços, diagnósticos tardios, evasão e mortes.
Conforme Arlen Santiago, foram realizados mais exames em 2018 (330.808) do que em 2022 (274.966) em Minas Gerais, no que se refere a
mamografia de rastreamento. O mesmo aconteceu com a mamografia diagnóstica entre 2018 (63.449) e 2022 (62.004). Nesse caso, o valor total repassado pelo SUS seria de apenas R$ 22,50 por procedimento, insuficiente sequer para cobrir os custos do material utilizado, em torno de R$ 25.
Essa diferença seria ainda maior no caso das biópsias de mama: o SUS pagaria R$ 283,46 nos casos mais complexos para um custo mínimo estimado de R$ 1.049,69.
Quando o câncer de mama é finalmente diagnosticado, a evasão do tratamento, ou seja, a falta de informações sobre o destino da paciente cresceu de 5,2%, em 2013, para 28%, em 2022, isso sem considerar a subnotificação.
“O SUS é o melhor programa de saúde do mundo, mas, com relação às mamografias, quem toma as decisões parece preferir que as mulheres não tenham um diagnóstico precoce para depois gastar mais dinheiro com a quimioterapia, quando uma simples mamografia e depois a biópsia conferem um índice de cura de 95%”, afirmou o parlamentar.
Maior celeridade nas clínicas particulares
A médica mastologista e ginecologista Aline Coelho aponta que a redução dos exames pode significar uma evasão da rede pública de saúde. “Pode ser um número alarmante, mas pode significar que as pacientes estejam migrando para a rede privada. As clínicas têm feito muitas promoções, principalmente no Outubro Rosa. Esses descontos fazem com que o valor do exame fique acessível para as pacientes. Hoje, com R$ 200, você consegue fazer uma mamografia.”
O principal atrativo é a maior celeridade, tanto na execução do exame quanto na obtenção do resultado. No SUS, como explica Aline, o agendamento para mamografia, principalmente a de rastreio – que é aquela que precisa ser feita anualmente como prevenção – pode demorar, em média, uma semana, ou até mais, dependendo da procura. “O pedido para mamografia no SUS é uma coisa muito específica, ele é diferente de um pedido de consultório. A paciente não pode simplesmente ir com um pedido médico para realizar esse exame, precisa ser um pedido feito no SUS. Então tem toda essa questão também.”
Idade para início de rastreio
A idade para começar o rastreio, ou seja, realizar anualmente a mamografia para avaliar se há alguma alteração na mama, é um motivo de divergência entre entidades. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a mamografia de rastreamento anual a partir dos 40 anos para mulheres de risco habitual e a partir dos 30 anos para mulheres de alto risco. Já o Ministério da Saúde, e o que vale por lei no SUS, recomenda mamografia de rastreamento até de dois em dois anos a partir dos 50 anos e anual a partir dos 35 anos para mulheres de alto risco.
Aline, que também trabalha do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), afirma que lá foi protocolado que o exame de rastreio seja feito a partir dos 40 anos. “Mas é uma realidade diferente, um hospital escola, que precisa de mais mamografias para a própria curva de aprendizado dos residentes.” Mas, de acordo com ela, a questão da idade não chega a ser o principal problema, visto que, se todas as mulheres a partir dos 50 anos realizassem a mamografia de rastreio, o índice de casos mais graves poderia ser reduzido significativamente.
“A realidade de Juiz de Fora é muito diferente da realidade de outras cidades do Brasil. Aqui, as pacientes estão bem orientadas e, por saberem a importância do exame, às vezes têm a capacidade de se organizar financeiramente e juntar um dinheiro para fazer a mamografia na clínica particular. Mas, nos casos em que isso não é possível, cabe ao SUS oferecer essa acessibilidade para atender o público-alvo.”