No aniversário de 80 anos do Pelé, uma homenagem a Antônio Arruda, o amigo biquense
O homem fatal de Bicas
Antônio Roberto Arruda, o mineiro pacato que virou personagem das crônicas de Nelson Rodrigues e interlocutor frequente de Pelé, ao longo de 26 anos de muita dedicação ao trabalho
Publicado Jornal O Globo – Por Aydano André Motta – 25/06/2015
A simplicidade que Antônio Roberto Arruda adotava em sua rotina no GLOBO não combinava com algo raro, quase inacreditável: ele inspirou um personagem de Nelson Rodrigues. Contemporâneo do genial dramaturgo no início de sua carreira, o jornalista acabou transformado no Homem Fatal de Bicas, presente na coluna “À sombra das chuteiras imortais”, publicada no GLOBO e na “Manchete Esportiva”, entre 1955 e 1970. O jeito sereno do mineiro (nascido na pequena cidade da Zona da Mata presente no título) cativou do cronista a todos os colegas que trabalharam com o rubro-negro Arruda, em seus 26 anos de jornal.
Como se não bastasse um gênio, ele ainda conquistou outro, de quem se tornou interlocutor permanente: Pelé. Em inúmeras situações, da alegria mais desatada às crises agudas, o Rei do Futebol atendeu o jornalista para entrevistas exclusivas, numa convivência de décadas. Seria suficiente, mas Arruda ia além. Apaixonado pelo trabalho, ajudava na administração cotidiana da Editoria de Esportes.
— Era um resolvedor de pepinos, sempre atento e prestativo — confirma Antonio Nascimento, o Toninho, ex-chefe dele, que até hoje se admira com a capacidade do colega de encontrar as pessoas pelo telefone, sem sair da Redação. — Mesmo na época pré-celular, não havia quem se escondesse dele. Mesmo os repórteres de folga.
Jamais por acaso, Arruda conquistou outro título, de “fiel escudeiro” do ex-editor e colunista Renato Mauricio Prado. Quando de sua aposentadoria, o ex-chefe dedicou-lhe texto emocionado, na edição de 17 de julho de 2009, citando, aliás, Nelson Rodrigues. “É um daqueles casos em que a unanimidade não é burra. De colegas a entrevistados, todos os que o conhecem atestam sua capacidade e correção.”
Um “homem fatal” na arte de cativar amigos e colegas.