Na chuva, na rua, na terrinha…
Minha mãe me gritou para ajudá-la a recolher as roupas do varal, pois vinha vindo um temporal. Dito e feito! O tempo fechou e logo começou a relampejar. Mas como toda chuva de verão… passou logo. Eu já estava retirando e dobrando algumas folhas de um caderno velho e fazendo barquinhos de papéis.
Assim que a chuva abrandou, sai de fininho e fui lá na esquina da Dona Ciloca fazer “represa” junto com a molecada. A água da chuva descia a Necésio Silva pelos cantos, que era contida com o barro da própria rua. Nesse momento, nós já estávamos lambuzados da cabeça aos pés.
Rapidinho, eu, Veio, Nelsinho e Revalino construímos a barragem para brincar, que em pouco tempo se tornava um lago, enquanto ia chegando mais moleques. Em seguida, entrava em ação os barquinhos de papel que concorriam com algumas pequenas bacias de alumínio.
Todos navegando naquele lago. Outras crianças também iam construindo represas em outros pontos, fazendo da chuva um grande divertimento. Os coroas ficavam nas janelas morrendo de inveja e mães desesperadas com a sujeira de nossas roupas.
Quando a enxurrada acabava, e o volume d’água diminuía, era hora de desmanchar as represas e fazer a esperada guerra da lama. O barro era democrático e não se salvava ninguém… Alguns mais e outros menos.
Depois disso, era a hora de enfrentar a cara feia em casa. Dona Ana, dizia: “vai direto pro tanque”. Eu pegava o balde cheio de água e tirava o grosso, só depois entrava para o banho. Mesmo assim, ficava alguma marca atrás da orelha… Bicas era demais!