Mudanças

Mudanças. Nem sempre as pessoas estão dispostas a aceitá-las, pois tudo o que é contrário ao habitual, à rotina, traz consigo uma carga de consequências desconhecidas que preocupa e causa receio. Com isso, muitas transformações que poderiam acontecer de maneira veloz, acabam se tornando vagarosas e verdadeiras demonstrações de como o medo aprisiona a coragem.

Como deve ter sido a transição da vela para a lâmpada? Dos veículos de tração animal para os a vapor, e depois os movidos a motores a combustão? Como aconteceu a extinção de determinadas profissões para que outras pudessem surgir? Darwin já dizia que na natureza nada se cria, tudo se transforma. Discordo em parte de tal conceito, visto que ao transformarmos elementos já existentes, acabamos criando coisas novas. Por mais que tais coisas possam ser vistas simplesmente como uma transformação das já existentes, não deixam de ser algo novo.

Recentemente, vemos em nosso país uma boa demonstração desses exemplos. O surgimento da Uber como um novo meio de transporte, afetou significativamente a vida de muitas pessoas. Taxistas, por exemplo, se viram incrivelmente ameaçados. Porém, não podemos frear a evolução por simplesmente temer que o estado presente das coisas não mais se mantenha como está. Igual situação é verificada quando levantamos a questão da reforma previdenciária. Manifestações ocorrem em todo o país com pessoas reclamando do que sequer conhecem. Quase a totalidade dos revoltosos ao menos se dispôs a ler a proposta de reforma, e menos ainda, conhece a real situação do rombo nacional provocado pelo INSS.

Em palestra ministrada por um economista do Ipea, foi possível reconhecer a gravidade da situação e constatar que uma medida emergencial deve ser adotada hoje para que possamos ter uma vida em condições aceitáveis daqui a alguns anos. A situação já é preocupante, porém, necessita de que as pessoas se livrem de seus interesses pessoais e comecem a pensar de maneira coletiva.

As mudanças são realmente inimigas do comodismo. Estudantes universitários contemporâneos estão cada vez mais ligados à tecnologia, inclusive dentro de sala de aula. Tal situação me deixa incrivelmente surpreso, inclusive. Prestes a completar 30 anos, me vejo numa sala de aula rodeado de jovens que poderiam ser meus irmãos mais jovens. E o surpreendente é que o nível de responsabilidade que eles carregam consigo não condiz com a posição que ocupam. Os celulares teimam em permanecer nas mãos 100% do tempo. As mudanças incomodam. Como deixar de olhar o Whatsapp mesmo durante a aula? Seria exigir uma mudança brusca demais para quem acabou de deixar o ensino médio. Felizmente tal constatação não se aplica a todos.

Importante frisar, por fim, que se chegamos onde estamos hoje, foi por que alguém em determinado momento decidiu fazer diferente do que todos faziam. Se a evolução aconteceu ao longo dos tempos, foi pelo fato de que alguém decidiu inovar. Todos os que venceram, venceram porque fizeram diferente do que todos os outros estavam fazendo. Ou ao menos, fizeram a mesma coisa de forma melhor.

Com esse sentimento de que nem sempre a mudança é prejudicial, devemos nos encorajar para fazermos tentativas. Um povo inteligente é flexível ao que pode lhe
surpreender positivamente. Se as mudanças incomodam tanto, pensem-nas como fretes. Eles às vezes podem ser vistos não como uma transformação radical, mas um simples transporte de algo para um novo lugar a um preço mais razoável. Assim, talvez consigamos entender que nem tudo se transforma para pior. E se assim o for, devemos ter a consciência de que na vida tudo se modifica, e assim como tal, teremos o discernimento e a coragem necessária para mudar novamente.

Crédito da imagem: filosofiadosucesso.com