Mordendo a língua
Sabemos que a nossa língua pátria é uma das mais belas e difíceis do mundo. Por conta disso, quem nunca sofreu numa prova de português? Eu tive a sorte de ser aluno do Padre João, no Ginásio Estadual.
Ele era um conhecedor da língua, disciplinador e tinha um ótimo domínio de classe, além é claro de gostar do que fazia. Para quebrar a monotonia, ele sempre aparecia com uma surpresa. Nosso professor tinha um método para nos ajudar nas notas, dando pontos por participação. Na verdade, ele dava uma mãozinha sempre antes das provas.
Um desses exercícios consistia em uma leitura oral com tarefas interpretativas: mandava o aluno ler um texto e conjugar o verbo que lá estava. No meu caso, li um parágrafo e conjuguei no pretérito perfeito. Me sai o suficiente para beliscar um pontinho para a prova. Maria do Carmo tirou de letra, num texto bem mais difícil que o meu.
Nosso mestre chegava na carteira do aluno, abria o livro numa página aleatória e olhava nos olhos dele dizendo: “Leia aqui”. Tinha gente que amarelava e outros nem tanto
Quando chegou a vez do Cridão, padre João fez o mesmo ritual e uma observação: “Euclides preste atenção no acento”. O texto tinha o verbo “amássemos”. Não sei se Cridão pensou no assento da cadeira… Só sei que ele sapecou: “Jesus disse que “amassemos” uns aos outros”. Padre João fez cara de poucos amigos, enquanto a sala se perdeu em gargalhadas… Bicas soletrando.