Meu passeio no Sena olímpico com o Time Brasil

Relatos de um dia em que compartilhei com a delegação brasileira as emoções de participar de um desfile de abertura

Delegação brasileira no desfile da cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris — Foto: Alexandre Loureiro/COB

Eu escrevo muito em primeira pessoa neste espaço. Hoje, claro, fiz questão de abrir o texto com o pronome, para reforçar a ideia. Mas é um recurso que uso com frequência, e já me peguei pensando se não estaria exagerando. Acabo sempre me convencendo de que, para quem não está presente nas redes sociais, a coluna é um bom espaço para compartilhar algumas experiências pessoais. E hoje peço licença para mais uma. Quero contar como foi desfilar no barco que levou a delegação brasileira pelo rio Sena na cerimônia de abertura dos Jogos de Paris.

Prometo que não vou fazer aqui um querido diário, relatando cada passo do dia. Só preciso deste parágrafo para dar um pouco de contexto: Globo e SporTV, como detentoras dos direitos de transmissão, conseguiram um lugar no barco. Um só, e eu, que tive a honra e a responsabilidade de ocupar esse espaço, precisei acumular as funções de repórter e cinegrafista. Ao chegar a Paris, soube que também era mandatório usar o uniforme da delegação. E foi assim que, como minha mãe escreveu no grupo de WhatsApp da família, quem sempre amou assistir às cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos acabou participando do desfile dos atletas.

E, embora tenha começado por mim, é deles que quero falar. Estar no barco me deu a oportunidade inédita de ver a festa de dentro para fora. Juro que não dei nem um tchauzinho para os espectadores. Passei todo o tempo que pude tentando registrar imagens (agradeço pelas muitas ofertas de ajuda que recebi, quando os companheiros de desfile me viam enrolado nos fios do microfone e do equipamento de transmissão) e gravar entrevistas. E em todos esses momentos o que me impactou foi encontrar os olhares dos atletas, treinadores e membros de comissões técnicas, funcionários e dirigentes do COB. Todos pareciam ter o mesmo brilho e a mesma cumplicidade.

No Sena, não se falou do uniforme, alvo de muita polêmica online – e com isso não quero dizer que todos gostaram do que vestiram; só não era um tema que se impusesse à experiência de estar ali. E, é claro, ninguém teve tempo de botar defeito na cerimônia, porque o trajeto pelo rio não nos dava a visão de quem assistiu pela televisão. Quem estava no barco se ocupou quase exclusivamente de compartilhar emoções.

Primeiro, com os próprios companheiros de desfile. O começo foi meio tímido, com um grito de guerra aqui e outro ali, até que o chefe da tripulação resolveu ensaiar uns passos de samba ao som de “Tá escrito”. A partir daí, todo mundo ergueu a cabeça, meteu o pé e foi na fé. A interação aumentou ao passarem os barcos de outras delegações, especialmente o da Argentina. E explodiu quando surgiram as bandeiras brasileiras, nas pontes, nas sacadas, nas arquibancadas. Esse símbolo, no esporte, ainda é mais de união do que de divisão.

Depois, com familiares e amigos, acionados pelos muitos celulares a bordo. Talvez a cena mais marcante que vi durante todo o desfile tenha sido a de Jucielen Romeu, da equipe de boxe, que improvisou uma live com oito pessoas para dividir a experiência de estreante em cerimônias de abertura. “Sou a primeira da família a vir a Paris”, me disse ela, bem em frente à torre Eiffel. Encerrei a entrevista logo depois. O momento de ver o símbolo da cidade e dos Jogos com os aros olímpicos era dela e de quem a apoiou para chegar até ali.

Transcrito do jornal O GLOBO, de 28/7/2024