Maripá de Minas integra Jornada do Patrimônio Cultural de Minas Gerais e divulga a história dos bens tombados no município.
Maripá de Minas mais uma vez integrou a Jornada do Patrimônio Cultural de Minas Gerias
Maripá de Minas mais uma vez integrou a Jornada do Patrimônio Cultural de Minas Gerias. Este ano foi a 8ª Edição, com o tema “Caminhos do Patrimônio: Contemporaneidade e Novos Horizontes”.
Foram desenvolvidos duas ações na modalidade “produtos e atividades de Difusão dos Bens Culturais locais.
Primeira ação aconteceu no dia 17 de setembro de 2021 às 15 h via google meet, com o tema “Conect@ Marip@”.
O produto desta ação foi um selo a pagina da Prefeitura, com todos os bens tombados elencados com suas respectivas histórias.
A finalidade desta ação é a divulgação de maneira acessível a todos os maripaenses e visitantes.
Instituto Maestro José Caetano de Oliveira
Maripá de Minas sempre foi uma cidade de música e dança, com celebrações de folias de reis, festas juninas, bailes de carnaval, serestas que rompiam as madrugadas.
Curiosamente, até o final da década de 1940 os bailes eram realizados em casa de famílias ou em toldos.
Graças ao Maestro José Caetano de Oliveira e seus amigos, esta situação mudou radicalmente pela criação e construção do Clube de Diversões Maripaense, mais tarde denominado Clube Recreativo Maripaense.
Com a doação de um terreno na antiga Rua Cel. Afonso Leite, atual Francisco Paradela de Souza, feita pelo Sr. Arsênio Trezza, entre os anos de 1948 e 1949, o clube foi tornando uma realidade com a venda de cotas a 400 futuros sócios, ao preço de 400 mil réis. Em 1950, foi inaugurado. Neste ano foi realizado o primeiro baile de carnaval em um clube em Maripá. Em 1951, é publicado o estatuto do clube.
Muitos bailes de carnaval, festas de formaturas, casamentos e aniversários tiveram como palco a sede do clube. Sem uma razão aparente, o clube foi desativado e ficou nestas condições até ser cedido ao projeto do Movimento Popular de Alfabetização (MOBRAL), no final da década de 1960 e início da década de 1970.
Com o encerramento das atividades do MOBRAL, o prédio do Clube Recreativo Maripaense voltou a ser abandonado e só voltou a ser reativada em 1988, por decisão dos membros da Sociedade Musical Lira Maripaense, de fazer deste edifício sua nova sede. Esta ocupação foi legitimada pela cessão de cotas por parte de mais da metade dos associados.
Esta decisão não teve somente o cunho prático, ou seja, que a Sociedade tivesse um lugar maior para poder expandir suas atividades. O valor sentimental deste prédio para muitos maripaenses falou mais alto.
Isto se deve ao fato de que o Maestro José Caetano de Oliveira, além de criador da Casa da Música, em 1921, não só foi um dos que propôs a construção do prédio, mas também o considerava como filho mais moço da Sociedade, tendo ali tocado no baile de carnaval de 1950, data da inauguração do clube.
Os frequentes abandonos e o clima chuvoso da região foram abalando as estruturas do prédio, deteriorando principalmente as madeiras do telhado e causando rachaduras nas paredes. Isto determinou que na noite do dia 06 de janeiro de 1998, parte do edifício ruísse.
Abalados com este fato, os membros da já constituída Sociedade Cultural Maripaense, buscaram apoio financeiro entre a população, conseguindo recursos suficientes para realizar parte das obras de recuperação do vigamento e cintas de concreto como forma de evitar que toda a estrutura colapsasse.
Contatos políticos com o Governo Estadual e com o Ministério da Cultura (Minc) e a insistência dos membros da diretoria da entidade foram de capital importância para vencer todos os obstáculos, que desde muito o projeto de restauração do edifício do Clube Recreativo Maripaense estava enfrentando junto ao Minc, antes mesmo do prédio ruir.
Uma das instâncias que analisou o projeto de restauração enviado pelos membros da diretoria da Lira Maripaense para o Minc, foi o IPHAN/MG e, após análise, foi firmado convênio entre o Ministério da Cultura – Secretaria do Patrimônio Museu e Artes Plásticas e a entidade, para liberação da verba para restauração.
Já restaurado, o edifício abriga hoje a sede do Instituto Maestro José Caetano de Oliveira. Com isto, Maripá de Minas retoma suas origens musicais além de expandir a preocupação com a cultura de seu povo, inserindo na programação do instituto, outras formas de expressões culturais artísticas.
Casa da Música
Devido a perseverança do Maestro José Caetano de Oliveira, e outros entusiastas da música de bandas, foi criada a Lira Maripaense em 1º de junho de 1921, sem sede própria para os ensaios e para guardar os instrumentos e partituras.
A partir de 1948, surge a ideia de se criar a “Casa da Música”. As obras foram então iniciadas em um terreno cedido pelo genro do próprio maestro, Sr. Arsênio Trezza, na antiga Rua Cel. Afonso Leite, atual Francisco Paradela de Souza.
Nesta pequena e despretensiosa casa, a Lira Maripaense passou a ensaiar e foi oficializada no dia 1º de janeiro de 1949, quando tocou em uma festa de casamento devidamente engalanada.
Por problemas diversos, como a mudança do Maestro José Caetano de Oliveira para Juiz de Fora (final da década de 1950) e os repetidos fracassos do projeto musical na cidade, vimos a encontrar que em 1968 o prédio da “Casa de Música” estava cedido ao Governo Federal para ali se instalar, em convênio com a Prefeitura, um projeto de alfabetização (MOBRAL).
Desde então, o prédio da “Casa da Música” tem sido ocupado para outros fins que não os relacionados com a música, e hoje se encontra alugado.
A importância desta edificação para o desenvolvimento cultural de Maripá de Minas é inegável. Ali se consolidou todo os movimento musical da cidade, muitos maripaenses ali aprenderam suas primeiras notas musicais, ali muitos se encontraram para passar agradáveis momentos ao som de uma boa música, enquanto a luz, o rádio e a TV não chegavam à cidade.
Cabe à população e às autoridades do município preservá-lo como acervo da memória cultural da cidade, dando-lhe um destino bem mais feliz que aquele dado à maioria dos casarões da cidade, que foram derrubados ou descaracterizados, impedindo com isto que a arquitetura pudesse contar a história do povo de Maripá de Minas.
Abrigo de São Vicente de Paula
O imóvel foi construído por Miguel Mendes na década de 1950, para servir de residência para a sua família. Tendo o mesmo que se mudar com a sua esposa para o município de Bicas em 1956, decidiu doar o imóvel para a Associação de São Vicente de Paula, que funcionava com a reunião de três Conferências Religiosas existentes em Maripá de Minas: a Conferência de São José, São Geraldo e São Sebastião. As agremiações congregavam grande parte dos moradores da cidade, e se dedicavam a auxiliar os desvalidos com abrigo, alimentação e banhos para que os mesmos pudessem procurar por melhores condições. Assim que recebeu a doação a Associação de São Vicente de Paulo empreendeu obras para os últimos acabamentos e instalou o Abrigo São Vicente, cujo portão era marcado por um balaústre em formato de semicírculo com a inscrição do nome da instituição.
O Abrigo São Vicente funcionou no imóvel por pouco mais de uma década, tendo sido cedido à Prefeitura Municipal de Maripá de Minas, criada em 1962 com a emancipação de Guarará. O imóvel passou então a ser utilizado como moradia dos funcionários das obras de infraestrutura de Maripá de Minas, ocupação que manteve até meados da década de 1980.
Quando voltou a ser sede do Abrigo, em 1989, o imóvel passou por uma obra que o descaracterizou, por parte da Prefeitura Municipal de Maripá de Minas, com a retirada do balaústre frontal com a inscrição do nome do abrigo, a repintura e a troca do piso. Após esta intervenção o imóvel passou a sofrer com a ação das intempéries climáticas e a falta de intervenções corretivas, vindo a se deteriorar de forma grave na década de 1990. A piora em suas condições levou ao declínio do Abrigo São Vicente, e os necessitados passaram a ser encaminhados para o Abrigo de Bicas.
Enfim, no ano de 2003 uma forte chuva levou parte da cobertura da edificação a desabar, levando à evacuação do imóvel e a sua interdição. Ele permaneceu inabitado até o ano de 2008, quando os membros da Sociedade São Vicente de Paulo começaram a projetar sua reforma de manutenção e a solicitar seu tombamento ao Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. As obras se intensificaram nos últimos 18 meses, estando praticamente em fase de execução final. As conferências se empenharam para angariar recursos para a compra de materiais, restando para ser concluídas apenas a pintura das paredes e fachadas externas e a instalação do letreiro com a inscrição “Abrigo São Vicente de Paula”.
Mapa e Processo de Retombo da Sesmaria da Vargem Grande
Em 2003, com a fundação e a abertura do espaço expositivo do Instituto Cultural Maestro José Caetano de Oliveira, os dois documentos em questão (Mapa e Processo de Retombo) foram doados ao Instituto pelo Sr. Leonardo Ferreira Rocha, presidente da instituição. O documento foi encaminhado para o ateliê da restauradora e conservadora Jaqueline de Araújo, no Rio de Janeiro, que procedeu ao restauro do mapa. Procedeu-se também a digitalização e a transcrição do documento, realizado pela historiadora Nilza Cantoni. Atualmente os dois documentos encontram-se arquivados na sede do Instituto, disponibilizados para pesquisas.
Estes dois documentos foram compostos entre 05 de junho de 1884 e 05 de novembro de 1885. O mapa é assinado por Ildefonso Geraldo Mynssen, ex-agrimensor da Imperial Fazenda de Petrópolis, nessa época, morador do distrito de Santo Antônio do Aventureiro, município de Mar de Espanha. No processo documental manuscrito, também de sua autoria, houve uma inversão entre as duas últimas partes, ficando a folha de 05.11.1885 colocada antes da folha de 23.09.1884. Processo esse que não foi revertido por falta de condições técnicas adequadas.
A escrita de Ildefonso Geraldo Mynssen, talvez pelo cunho eminentemente técnico, apresenta um sistema de pontuação bem diverso das normas clássicas. Trata-se de um processo de retombo (revisão de demarcação) de sesmarias, processo comum no século XIX, que visava restabelecer os registros de terra de acordo com a nova legislação fundiária (a Lei de Terras de 1850).
Tratando-se de uma obra escrita há mais de 130 anos, seu texto retrata outra época e outra língua. Na transcrição, com o objetivo de manter o máximo respeito pela forma original, deixou-se de fazer atualizações gramaticais que a tornariam correta ao uso atual da Língua Portuguesa. Mantivemos, sempre que possível, a forma original. Em alguns casos acrescentou-se algum sinal de pontuação para melhorar a compreensão do escrito. Atualizou-se a ortografia em quase todos os casos, exceção somente para vocábulos com significado específico na época e sem correspondente atual.
Alguns termos próprios deste tipo de processo, datados do século XIX, necessitam análise e explicação para melhor entendimento. Destacam-se os seguintes termos: Bocaina – depressão numa serra, vale entre duas elevações do território; Derrota – marcação ou divisa do terreno; Grafômetro – instrumento com que se mede ângulos sobre um terreno; Hectavos – unidade de medida agrária, dividida em centiavos, avos e miliavos. 4 hectavos e 84 avos equivalem a 48.400 m² ou um alqueire mineiro; Piúna – árvore frutífera silvestre, de cuja casca extrai matéria corante; Quinauance – antigo sistema de correção de medidas por aproximação de valores fracionários; Retombar – verificar ou reconstituir os limites de uma propriedade rural; Sasllario – mantida em sua grafia original por não encontrar equivalente na Língua Portuguesa contemporânea, parece indicar um acidente topográfico que serve de marco para a delimitação de um terreno; Valo – espécie de aceiro para marcar os limites de uma propriedade rural; Vasillario – mantida em sua grafia original por não encontrar equivalência na Língua Portuguesa contemporânea, parece indicar um acidente topográfico que serve de marco para delimitação do terreno.
Registro da Festa do Padroeiro São Sebastião
A festa de São Sebastião traz em si seu aspecto festivo em torno da devoção do santo. Tal devoção envolve uma série de atividades que num ciclo se repete todos os anos em uma estrutura que poderíamos chamar “espiral ascendente”; isto por sua constante dinâmica cultural entre os ciclos. O acontecer da festa é produzido e reproduzido através de várias práticas e atividades que servem como sistemas de significação, dando identidade à celebração cultural da festa do Padroeiro, São Sebastião. Ou seja, a festa é uma série de sequências simbólicas de atuação, com graus diversos de formação ritual, distribuídas entre comemorações coletivas em situação de rezar, comer e festejar.
O alvo das celebrações é o Santo Padroeiro, a quem prestam homenagens e dirigem pedidos e agradecimentos, entretanto é um momento também de lazer coletivo. Em torno das celebrações com suas rezas, folia, ladainhas, novenas e procissões orbitam imbricadas nelas importantes momentos de lazer comunitário.
O evento da festa é produzido coletivamente e implica na vivência coletiva do festejar. Sempre há uma sucessão ininterrupta de grandes e pequenas cerimônias. Desde o início com as rezas dos terços, com seus binguinhos e leilões até sua finalização no último dia da celebração maior.
Pico da Pedra da Serra do Café
O Pico da Pedra da Serra do Café encontra-se dentro dos limites da Antiga Fazenda Boa Vista da Serra de propriedade particular e se situa a onze quilômetros de distância de Maripá de Minas, três pela estrada que liga Maripá à cidade de Bicas (BR 267) e sete pela antiga estrada que ligava Maripá à cidade de Rochedo de Minas.
A sede da fazenda Boa Vista da Serra foi uma construção típica das fazendas de café da segunda metade do século XIX, que se espalharam, primeiro pelo Vale do Paraíba do Sul e depois pelo resto da Zona da Mata, podendo ser enquadrada na tipologia de casarão de um só pavimento sobre porão alto (Miranda & Gzajkowski, 1995). Devido a sua localização, das janelas do casarão podia ver a Serra do Café e o seu majestoso pico.
Junto com outras fazendas que foram propriedade de pessoas que exerceram grande influência na vida política e social de Maripá de Minas (Córrego do Meio, Bonsucesso, Bom Destino, Contendas, Forquilhas e Grota), a Fazenda Boa Vista dedicou-se ao cultivo de café e cereais (Machado Rodriguez, 2003:144) contando com todos os incrementos necessários para a exploração do café dentro de uma extensão de terras que chegou a ter milhares de pés plantados.
A necessidade cada vez maior de terras para o plantio do café, lavoura extensiva, não poupou os sopés das serras que são tão comuns na Zona da Mata Mineira. Assim, o acidente geográfico Pico da Pedra da Serra do Café, na Antiga Fazenda da Boa Vista da Serra, teve o seu sopé bastante desmatado, e a Mata Atlântica existente foi substituída pelos cafezais. O entorno do Pico de Pedra era conhecido na época, por derrubada.
Com a queda dos preços internacionais do café, ao longo das primeiras décadas do século XX, houve um abandono generalizado da lavoura de café pelos grandes fazendeiros de Maripá de Minas e região, e as áreas que não foram utilizadas para outro tipo de lavoura, puderam recuperar-se e formar um belo espetáculo que alia as serras, seus picos e uma verdejante paisagem que hoje começa a ser explorada pelas novas tendências de desenvolvimento na qual a cultura e lazer ganham destaque.
Portão do Cemitério
Ainda que não originário da cidade de Maripá de Minas, o Portão do Cemitério, resgata uma importante fase da história econômica e social da região na qual está inserida a cidade, momento em que novas terras são ocupadas e desmatadas para a introdução da cafeicultura e se faz necessária a introdução da mão de obra escrava, cujo cemitério um dia teve sua entrada limitada por este portão.
Portão em ferro forjado, feito para fechar o cemitério de escravos da Fazenda Santana, Argirita, segunda metade do século XIX. O cemitério foi desativado em época desconhecida, provavelmente devido à abolição da escravatura, em 1888. Houve tentativa de utilizá-lo para cercar um jardim em volta da sede da fazenda, o que foi considerado como profanação pelo Coronel Bertoldo Garcia Machado, dono da Fazenda da Santana.
O portão foi doado ao cemitério Municipal de Maripá de Minas em 1968, pelo filho do Coronel Bertoldo, Sr. Moacir Machado.