Mais de mil palhaços

Quando chegava o carnaval, era mais que esperado a figura do Didi Trocate travestido de mulher. Ele sempre caprichava na indumentária. Melindrosa, madame, dona de cabaré e outras fantasias faziam parte do seu visual carnavalesco.

Na verdade, o carnaval foi para ele um momento de extravasar, colocando pra fora todo o seu desejo que era reprimido por uma sociedade conservadora… Didi ganhava a vida fazendo trabalhos domésticos em casas particulares e era muito requisitado.

Ele nunca escondeu sua homossexualidade… Dono de uma educação fina, era respeitado e admirado, mesmo encontrando resistência por ser negro, pobre e gay (viado, naquela época)…

Didi passou pela calçada como se estivesse numa passarela, todo produzido, maquiagem impecável. Um vestido capaz de provocar inveja na Marta Rocha e sua peruca mais que emperiquitada.

Hélio falou: “Seu gogó não nega” e deu uma risadinha maliciosa. Ele voltou com toda sua leveza e sem levantar a voz pespegou: “Você fica tirando sarro, mas deveria contar para seus amigos aí que és meu cliente de carteirinha!!!

“Aliás, você e mais uns três bobocas que estão rindo aí”… Nosso companheiro não sabia onde enfiar a cara, e os outros amigos fizeram cara de paisagem, engolindo seco. Didi Trocate, em cima do seu salto Luiz XV, saiu rodando sua bolsa e se perdeu na folia… Bicas, “adorei milhões”!