Júlio Cesar Vanni, meio século de trincheira
Júlio Cesar Vanni, meio século de trincheira
Há dias, caro amigo e camarada de longas e duras batalhas me telefonou:
– Rapaz, como o tempo passa. Estou completando cinquenta anos de jornalismo. Consegui viver nessa selva de armadilhas e julgamentos apressados, levianos.
Ele tinha razão. Ainda estava vivo e na trincheira. Seu fôlego determinado, a capacidade de servir, tudo permanecia intacto, com o mesmo combustível alimentando a velha chama: salvar os cofres públicos das velhas aves de rapina, da incompetência.
A postura continua inflexível. Mais que a voz rouca das ruas, sua bravura é um momento de consciência humana. Jamais escreveu para agradar aos poderosos ou render homenagens suspeitas. Nunca o moveu a tola vaidade, de apareceu dizendo coisas que nada acrescentam, sem importância na vida cidade. Massagear o próprio ego, evitando tratar qualquer assunto sério, não faz seu estilo. Baboseiras, não.
Instrumento de trabalho, sua pena é espada e borduna, e civismo, chamamento de responsabilidade, poderosa arma do povo, que o orienta e defende sempre.
No campo raso da luta conheci JÚLIO CÉZAR VANNI à frente do “Jornal do Pequeri”. Também frequentei suas páginas com minhas labaredas. Enquanto viveu o jornal, foi intensa a barragem de fogo contra a mediocridade e a mentira dos politiqueiros vazios, tontos. E caiu de pé, atirando até o último cartucho, sem rendição.
Nossa região deve muito a JÚLIO VANNI. Incalculável fortuna. Quantas tolices e prejuízos evitou, quantos benefícios trouxe com a crítica lúcida, seu claro espírito público. Reivindicou e brigou de peito aberto. Mas nunca se dobrou. Em primeiro e único lugar vinha o interesse da coletividade.
Não preciso destacar aqui suas corajosas campanhas. Tantas foram, que atravessam e enobrecem todos esses cinquenta anos, com a luminosidade de um esplendor solar. Quem duvidar basta ler suas colunas nos vários jornais em que ainda escreve, com fecundidade de causar inveja. É um oceano profundo de amor à vida e a dignidade.
Combatente firma, nada arrefece o entusiasmo de JÚLIO CÉSAR VANNI, tal o apetite de estar na linha de frente, sem nunca faltar pólvora. Viajante compulsivo, traz de outros países a visão madura dos acontecimentos e transmite toda sua experiência através de uma prosa didática, cheia de ensinamentos. Nada escapa ao seu faro de professor-repórter apresentando sempre a mais colorida e rica lição.
Como aviso às gerações, merecia uma estátua de corpo inteiro à entrada de sua terra, homenageando o autêntico inconfidente de ideias, desbravador da cultura.
Quem ali chegasse, ao ver o monumento seria impregnado da força vital, de ígnea esperança e altivez desse transformador inconformismo abençoado de frutos generosos.
Dessa matéria se constrói o futuro. Dessa argamassa se erguem as cidades. Dessa fibra nascem os homens que comandam os destinos de outros homens. Os idealistas têm a marca da grandeza – e só dela se edifica a obra consagradora, que fica na no bronze da história e no coração do povo.
(Crônica do saudoso Chicre Farhat, publicada no jornal O MUNICÍPIO, em 31 de dezembro de 1999)