Infográfico mostra como foi salto que fez Rebeca bater Simone Biles; leia análise

Por Breno Angrisani O Globo — Rio de Janeiro

Não é exagero nenhum falar que Rebeca Andrade está caminhando — ou saltando, correndo, aterrizando — a passos largos para colocar seu nome entre as maiores ginastas da história do esporte. Se no Brasil ela já cravou o nome entre a maior que o país já viu, a medalha conquistada ontem, na Copa do Mundo de Ginástica Artística, que acontece em Antuérpia, na Bélgica, e termina hoje, nos dá fatos concretos, já estabelecidos de que seu nome está marcado e nos prepara para um futuro que tende a ser tão brilhante quanto o ouro e a prata já conquistados nos últimos três dias.

Na final do salto no Mundial de ontem, Rebeca superou nada mais nada menos que Simone Biles, a maior ginasta de todos os tempos. A brasileira de 24 anos fez dois saltos com poucos erros e fechou a disputa com uma média de 14,750 — 0,201 à frente da americana, que falhou ao tentar repetir seu Biles 2, salto inédito que apresentou nas eliminatórias — e 0,334 sobre a terceira colocada, a sul-coreana Yeo Seo-Jeong. Rebeca, que venceu o seu quarto grande ouro da carreira, o terceiro em Mundiais, além do olímpico, na mesma prova, em Tóquio-2020, destacou o trabalho na parte técnica, física e mental que tem feito.

— Esse ouro significa que nosso trabalho continua dando certo, tanto na parte técnica como mental e física. Trabalho de todo mundo para eu conseguir controlar minha mente e meu corpo. Deu tudo certo — disse a ginasta ao Sportv após a conquista.

O fato de ter superado Biles torna a conquista ainda mais especial. Essa foi a primeira medalha de ouro de Rebeca diretamente contra a americana em Mundiais ou Olimpíada.

O primeiro salto de Rebeca Andrade, de nota 15.000, que ajudou a bater apresentação de Simone Biles — Foto: Editoria de Arte

Nos Jogos de Tóquio, em 2021, Rebeca venceu a decisão do salto e faturou seu primeiro grande ouro na carreira. Simone Biles, por sua vez, não participou após desistir por questões de saúde mental. A americana ainda conquistou a prata por equipes e o bronze da trave, mas preferiu não disputar as finais em que era favorita. Uma delas, justamente a que Rebeca ganhou o ouro.

Desde então, Biles se afastou das competições e viu, de longe, Rebeca Andrade conquistar mais duas medalhas de ouro: uma no salto, no Mundial de Kitakyushu, em 2021, e outra no Individual geral, no Mundial de Liverpool, em 2022.

Biles só voltou à ginástica em 2023, e a primeira competição internacional desde seu retorno está sendo a Copa do Mundo da Antuérpia. Esse torneio, aliás, é apenas o quarto em que a americana e Rebeca Andrade estão juntas — elas se encontraram nas Olimpíadas de 2016, no Mundial de Doha, em 2018, e nos Jogos de Tóquio, em 2021. No entanto, as ginastas nunca haviam conseguido dividir o pódio, até o Mundial da Bélgica (anteontem, no individual geral, Biles foi outo e Rebeca ficou com a prata).

Biles x Rebeca: veja os saltos das duas melhores ginastas da atualidade

Entre as 25 melhores

Rebeca já faturou três medalhas no Mundial da Bélgica — prata na disputa por equipes e no individual geral e ouro no salto —, mas ainda pode conquistar mais. A brasileira disputa hoje as finais da trave e do solo, já que ficou de fora apenas da decisão das barras assimétricas.

No solo, Biles é considerada a favorita, mas num deslize, quem sabe, Rebeca, que vai se apresentar ao som de Beyoncé e Anitta, pode, assim como fez no salto, roubar o ouro da americana e se consolidar como uma concorrente direta para Simone nas próximas competições.

— Estou tratando meu corpo. Ele está cansado. Mas estou fazendo minha parte. Vou ter mais tempo para descansar, que amanhã (hoje) estarei no solo. Quero fazer minha parte. Foco total, cabeça boa para dar tudo certo — disse Rebeca sobre a expectativa para mais uma final com chances de medalha.

Se terminar no pódio em qualquer aparelho hoje, Rebeca chegará a oito medalhas em Mundiais — com a de ontem já são três ouros, três pratas e um bronze —, feito que menos de 25 ginastas conseguiram em 120 anos de competição. Além de conquistar sua 10ª medalha em Olimpíadas e Mundiais.

O curioso é que, das 23 ginastas que conseguiram esse feito, todas são de países com longa tradição na ginástica: Rebeca seria só a sexta de origem fora do leste europeu. Quatro americanas e uma japonesa completam esse hall de vitoriosas que a brasileira pode entrar hoje. E, se conseguir, só ela e Simone Biles estariam ainda em atividade entre as maiores.

Por ter apenas 24 anos, Rebeca tem uma vasta carreira pela frente. No planejamento de sua já vitoria carreira por certo está disputar muitas edições do Mundial e pelo menos duas Olimpíadas, a de Paris, em 2024, e a de Los Angeles, em 2028, para seguir fazendo história na modalidade, quebrando recordes e orgulhando os brasileiros com seus movimentos acrobáticos e simpatia.