Eu ‘declaro’ é UNA’FI(a)SCO
A frequência com que esquemas de corrupção vêm sendo devassados no Brasil tem suscitado um tão incômodo como inexplicável questionamento: como, diante de casos tão escandalosos, os políticos nunca foram descobertos pela “Receita Federal” ? Os integrantes – ‘Auditores Fiscais’ – nos últimos tempos (2017) se sentiram tão constrangidos, que entenderam por bem fazer circular uma campanha de “Marketing de auto-exaltação”. Não sei de onde tiraram a verba para tal… Será que a declararam? Ou foi um presentinho?
Sei que a alegação será ‘uníssona’: “Ah, mas nós não podemos fazer nada, temos ‘chefia’ acima de nós, cumprimos ordens, etc. Mas, esse pessoal é concursado, tem estabilidade ou será que eu estou enganado. E mesmo que não tivesse, onde estão: a honestidade, a ética, a decência, o compromisso com a verdade e a correção, os valores ou será que tem valores ($$$..) envolvidos.
A resposta pode estar na existência de uma lista “VIP” – na qual políticos, magistrados, ministros são os principais ocupantes – relação esta, pasmem, de contribuintes com “Foro Privilegiado Fiscal (?!)” a qual é protegida por um sistema interno da Receita, ‘Ultra Sofisticado’, que alerta quando dados da mesma são acessados por algum hacker, e, não para por aí, quando tal acontece, auditores responsáveis pelo sigilo em questão, são interpelados a dar explicações, quando não, são punidos com as temíveis “transferências” para locais nada agradáveis.
A lista não é lenda; ela, de fato, existe, mas, é claro, não com esse nome. Trata-se de um conjunto de contribuintes que são classificados como “Pessoas Politicamente/Publicamente Expostas” (PPEs) e sobre os quais, em tese, deveria existir um controle mais rigoroso no que diz respeito a operações financeiras, visto serem cidadãos mais passíveis de assédio corruptor, e, no entanto, dá-se exatamente o contrário.
A fala não é minha, vem da própria Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), que não existe um tratamento mais rígido para essas declarações por parte da Receita Federal. Ao contrário, elas são tratadas sim, de forma diferenciada das dos cidadãos comuns, porém, com menor rigor na fiscalização.
Para elaborar a referida lista, a Receita ampara-se nas resoluções do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que considera um ‘PPE’ o cidadão que desempenha uma função pública relevante. Na última resolução do órgão, de dezembro do ano (2017) passado, novos atores foram incluídos ao grupo. Entre eles, membros dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais; presidentes e tesoureiros de partidos políticos; deputados estaduais; prefeitos e vereadores. Nessa lista, que, para mim, de VIP nada tem, estão acobertados inclusive funcionários de alto escalão de empresas estatais. Segundo Kléber Cabral, a receita estaria perseguindo os auditores fiscais que acessam dados de pessoas dessa lista, como forma de protegê-los.
As faixas de isenção superam em muito um ‘absurdo tolerável’, pasmem vocês ! O critério para que um contribuinte “PPE” seja acompanhado mais de perto se relaciona ao seu volume de bens e rendimentos. Pela portaria 3.312, de 2017, os contribuintes classificados como “PPE’s”, somente têm acompanhamento especial, se tiverem rendimentos superiores a R$200.000.000,00 (duzentos milhões de Reais). Mamãe me acuda! E, patrimônio superior a R$500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais. Já aqueles que possuem rendimento “APENAS” superior a R$10.000.000,00 (dez milhões) e patrimônio “A duras- PENAS”, maior que R$20.000.000,00 (vinte milhões), têm acompanhamento classificado ‘apenas’ como diferenciado. Sooccooorrrooooo!!!
Vejam se eu entendi direito: então, além de não acompanhar de perto as “PPE’s”, a Receita ainda coíbe a fiscalização dessas declarações por parte dos auditores? De acordo com fontes da própria ‘UNAFI(a)SCO, o mecanismo ocorre por meio de um ‘Sistema de Alarme’ que, segundo a entidade, alerta os superiores dos profissionais, quando a declaração de um membro da lista é consultada. Pode uma coisa dessas? Ou seja, o cambalacho tá institucionalizado mesmo! .
É um sistema que vigia os auditores, os quais são chamados a dar explicações, caso entrem na declaração de uma PPE. Fica no ar o risco de que, se não der uma boa justificativa, o auditor pode acabar sofrendo um processo na corregedoria por acesso imotivado”, afirma Kleber Cabral, auditor e presidente da Unafi (a) sco.
De acordo com a Receita, entretanto, o sistema não fiscaliza os auditores. “O Alerta serve para que os dados da declaração não sejam divulgados de forma indevida, como, por exemplo, se alguém – ‘hacker’ – tentar acessar as informações de uma ‘PPE’ com uma procuração falsa, aí sim, o sistema é acionado. (Famoso, ” NÃO ME ENGANA QUE EU NÃO GOSTO” !!)
Em funcionamento desde 2010, o sistema foi instituído pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, após o vazamento de informações de familiares de José Serra (PSDB-SP), à época, candidato à presidência.
A Receita Federal decidiu abrir processo no Conselho de Ética contra o presidente da Associação dos Auditores, Kléber Cabral, que tornou pública suposta tentativa de proteger contribuintes potencialmente propícios a cometer crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Os problemas envolvendo a “lista VIP” da Receita foram divulgados já em 2017 pela Unafisco. Com a repercussão do caso, Kléber Cabral, que foi a principal fonte das informações e acabou sendo processado no Conselho de Ética do órgão em junho do ano passado.
A alegação é que o auditor deveria usar liberdade de expressão com “bom senso” e que faltou lealdade ao órgão. Ele vai responder a processo no Conselho de Ética da instituição. O processo continua em andamento. Neste mês, ele foi notificado para responder em processo no Conselho de Ética da Receita Federal. A abertura de processo por desvio de conduta ética contra o próprio presidente da Unafisco, é mais do que evidência de que a publicidade sobre a existência de um sistema de alerta, quando um servidor acessa dados de integrantes da lista, incomoda a Receita Federal. Kléber Cabral foi apoiado inclusive pelo coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol.
Agora, vá você, simples mortal, cometer o menor deslize que seja. Erre uma vírgula, um dado sequer! É corretiva acompanhada de ‘Multa’.
E durma-se com uma declaração de balbúrdia dessas!!!