Ética: dever ou virtude?
A credibilidade humana está tão em baixa ultimamente, que ser honesto se tornou motivo para recebimento de honrarias. Mais do que justo a valorização de algo digno de aplausos, porém, nossa conduta diária deveria se pautar inteiramente em atitudes de igual sentido, de forma que atos aparentemente heroicos estivessem intrínsecos em nosso caráter ao invés de nos causar surpresa e admiração.
Em meio a tanta sujeira sendo exposta pela mídia, não é de se espantar tamanha repercussão quando alguém devolve uma carteira cheia de dinheiro pelo simples e justificável fato de não lhe pertencer. Curioso ainda é pensar que a grande maioria dos agentes desses simples e honrados atos, estão quase sempre necessitando do dinheiro encontrado, mas preferem o aperto no bolso do que o peso na consciência.
Seja para dar o exemplo a um filho ou simplesmente por ser o certo a se fazer, essas pessoas não pensam nos holofotes que se voltam a elas, pois a maior luz está dentro de sua própria essência. Triste é quando percebemos que o espanto e a admiração provocados, nos alertam para algo preocupante: a falta de princípios chegou a um nível tão alto que o errado é equivocadamente visto como possivelmente correto. Quando o esperado não acontece e em seu lugar temos algo realmente digno como resultado, vemos como o mundo está “fora da curva” e apesar de muitas exceções, o sistema influencia negativamente a índole das pessoas.
Recentemente presenciamos um ato ocorrido no esporte mais popular do Brasil: o futebol. Após uma falta em seu próprio companheiro de time, Rodrigo Caio, jogador do São Paulo, se acusou para que Jô, do Corinthians, não fosse punido injustamente. O ato, visto pela grande maioria como uma luz no fim do túnel diante dos últimos acontecimentos, dividiu opiniões entre torcedores e amantes extremistas do esporte em questão. Mais uma vez temos o exemplo de que o errado se confunde com o certo, se este errado levará a obtenção de alguma vantagem.
Ética é acima de tudo fazer o certo sem que ninguém esteja vendo ou venha a saber. É fazer o certo simplesmente por ser o certo. É não se importar com a vantagem que poderia ganhar, mas sim, com o alívio de uma consciência tranquila. Entre a supervalorização de atos bons ou ruins, fiquemos sempre com os bons. Mas que não nos esqueçamos de que honestidade é um dever e não uma virtude. Enquanto tais conceitos não estiverem plenamente em seus devidos lugares, continuaremos encontrando justificativas que aceitem o errado pelo certo e nos admirando com pessoas que simplesmente não aceitam essa fórmula e a chamaremos sempre de especiais.