Estudo mostra estimativa de variante em comparação com outros países
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mutação do coronavírus conhecida como variante Delta já foi registrada em mais de 130 países, desde que foi detectada pela primeira vez na Índia em outubro de 2020. A Delta tem preocupado as autoridades por ser considerada mais transmissível do que as anteriores – a Alfa, a Beta e a Gama. É com este enfoque que foi lançada a sexta edição da nota técnica produzida pelo Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional (PPGMC) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“A taxa de mortalidade estimada para o Brasil foi o dobro das estimadas para Israel e Alemanha, com a subnotificação de casos também mais significativa”
Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), o grupo fez projeções e traçou oito diferentes cenários de simulações numéricas para prever a evolução da pandemia de Covid-19 nos próximos meses, com base na taxa de vacinação, novas variantes e relaxamento das restrições impostas pelas autoridades sanitárias.
No Brasil, o impacto da variante Delta e de outras variantes mais transmissíveis ainda é incerto, mas pode seguir uma tendência semelhante à observada em Israel e na Alemanha, que passaram recentemente por novas ondas da Covid-19. “Pode-se notar que a taxa de mortalidade estimada para o Brasil foi o dobro das estimadas para esses dois países, com a subnotificação de casos também mais significativa”, informa o pesquisador do PPMC da UFJF, Rodrigo Weber, um dos responsáveis pela nota técnica.
A análise aponta, ainda, que “as estimativas para as taxas de redução de contato associadas às políticas de mitigação não farmacológicas foram muito distintas nos três países estudados: cerca de 0,85 no Brasil (pobre), 0,6 em Israel (moderado) e 0,2 na Alemanha (forte)”.
Alemanha e Israel como parâmetros
Em um primeiro momento, o estudo buscou quantificar como Israel e Alemanha foram afetados pelas novas ondas. Os parâmetros foram ajustados a partir de dois momentos da pandemia: antes e depois da variante Delta. O fator Delta modela o aumento da taxa de transmissão do vírus, sendo estimado em torno de 1,65, para Israel e 1,5, para Alemanha. Com relação ao tempo que a variante levou para se espalhar nos países estudados, foi observado que os valores para o país europeu foram os mais elevados, entre 17 e 24, com um valor médio de 22; sendo 12 a média do país do Oriente Médio.
Nesse sentido, a variante Delta foi mais agressiva em Israel do que na Alemanha, corroborando a realidade observada para casos ativos e óbitos em ambos os países. Além disso, a sua propagação foi mais rápida em um país de menor território e maior densidade populacional.
O aumento da taxa de transmissão do vírus entre 50 e 70%, a flexibilização das medidas não farmacológicas, como liberação do uso de máscaras e aglomerações, associados a uma proteção imunológica baixa, com total de vacinados abaixo de 70%, foram condições para promover as novas ondas observadas nesses países”, avalia o pesquisador.
Projeções para o Brasil
“A manutenção de medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, e de altas taxas de vacinação, é essencial para o controle de novos surtos e ondas da Covid-19 no Brasil”
Na segunda parte do estudo, foi analisada como uma nova variante com potencial de contágio semelhante ao observado nas últimas ondas em Israel e Alemanha pode afetar o Brasil com base em diferentes cenários. As oito simulações consideram uma eficácia de vacinação fixa, variando a taxa de imunização diária para a segunda dose ou a dose única. Em todas, foi considerado que cada vacina leva 15 dias para desencadear a resposta imune.
As projeções revelaram a presença de novas ondas de casos no Brasil quando se simula o aumento na taxa de transmissão do vírus, em índices entre 50 e 70%, e um número ainda maior de óbitos foi observado quando há a flexibilização das recomendações restritivas.
“Devido ao atual aumento de casos ao redor do mundo, esse estudo sugere que a manutenção de medidas não farmacológicas, como o uso de máscaras, e de altas taxas de vacinação para alcançamos mais de 75% da população brasileira totalmente vacinada, é essencial para o controle de novos surtos e ondas da Covid-19 no Brasil”, enfatiza.
Para Rodrigo Weber, as simulações apontam que, nos cenários estudados, uma nova onda pode ser evitada mantendo a taxa de vacinação alta, como a observada atualmente, com um a dois milhões de doses por dia, e aumentando as medidas não farmacológicas em 50%.
Desafios do modelo
A principal limitação está relacionada ao comportamento pouco compreendido da doença e o real impacto da vacinação, atualmente em investigação. “Não há consenso sobre a frequência com que as reinfecções de Covid-19 ocorrem e como elas podem afetar a dinâmica de transmissão. Atualmente, ainda não se sabe como as diferentes variantes podem impactar tanto a taxa de transmissão quanto à gravidade da doença”, exemplifica.
Outras dificuldades vêm das hipóteses assumidas na formulação do modelo simplificado com poucos parâmetros a serem ajustados para os diferentes cenários. No entanto, os especialistas ponderam que isso não comprometeu os resultados desse trabalho, que possibilitou uma melhor compreensão do efeito das mudanças nas medidas restritivas, da vacinação e da dinâmica da doença.
Outras informações: Confira a nota técnica na íntegra
Acelerar taxa de vacinação pode salvar mais 50 mil vidas (Nota técnica 5)
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Fonte: UFJF